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26 DE ABRIL DE 2021

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Aplausos do PS, do PSD, do PCP, do PEV, do CH e do IL.

Eis também porque é tão difícil o juízo sobre uma história tão recente, salvo naquilo que é de mais óbvio

consenso: o consenso naquilo em que o império não entendeu, isto é, o tempo que o condenara. A ditadura

não podia entender o tempo que a tinha condenado de forma irrefragável e, ainda mais evidente, a partir de

1958 e da saga de Humberto Delgado. A relação colonial não conseguira entender a raiz da inevitabilidade da

sua inconsequência.

Estas reflexões são atuais porque nada como o 25 de Abril para repensar o nosso passado, quando o

nosso presente ainda é tão duro e o nosso futuro é tão urgente. E, ainda, porque, a cada passo, pode ressurgir

a tentação de converter esse repensar do passado em argumento de mera movimentação tática ou

estratégica.

Num tempo que ainda é e será de crise na vida e na saúde e de crise económica e social, encaremos com

lúcida serenidade o que pode agitar o confronto político conjuntural, mas que não corresponde ao que é

prioritário para os portugueses e que, além de não ser prioritário, nestes dias de crises, é duvidoso que o seja

alguma vez.

É prioritário estudar o passado e nele dissecar tudo: o que houve de bom e o que houve de mau.

É prioritário assumir tudo, todo esse passado, sem autojustificações ou autocontemplações globais

indevidas, nem autoflagelações globais excessivas.

E, no caso do passado mais recente, assumir a justiça, largamente por fazer, aos mais de um milhão de

portugueses que serviram pelas armas o que entendiam, ou lhes faziam entender, constituir o interesse

nacional.

Aplausos do PSD.

E, também, aos outros milhões que, cá ou lá, viveram a mesma odisseia; aos milhões que, lá e cá, a

viveram, do outro lado da história, combatendo o império colonial português, batendo‐se pelas suas causas

nacionais, ou a viveram do mesmo lado, mas que ficaram esquecidos, abandonados por quem regressou e

condenados por quem nunca lhes perdoou o terem alinhado com o oponente.

E ainda aos muitos — e eram quase um milhão — que chegaram rigorosamente sem nada, depois de

terem projetado uma vida que era ou se tornou impossível; aos muitos — e eram milhões — que sofreram, nas

suas novas pátrias, conflitos internos herdados da colonização ou dos termos da descolonização.

Até por respeito para com todas estas e todos estes, que se faça história e história da História, que se

retirem lições de uma e de outra sem temores nem complexos, com a natural diversidade de juízos, própria da

democracia.

Mas que se não transforme o que liberta, e toda a revisitação o mais serena possível liberta ou deve

libertar, em mera prisão de sentimentos, úteis para campanhas de certos instantes, mas não úteis para a

compreensão do passado, a pensar no presente e no futuro.

O 25 de Abril foi feito para libertar, sem esquecer nem esconder, mas para libertar. Os que o fizeram

souberam superar muitas das suas divisões, durante a Revolução e depois dela, a pensar na unidade

essencial da mesma Pátria.

Tomando os termos simplificadores desses tempos, sensibilidades diferentes no Movimento das Forças

Armadas, que se chocaram então, não deixaram de entender, depois, que a unidade essencial de uma rutura,

depois feita Revolução, ela própria composta de várias revoluções, tudo o mais sobrepuja.

Nações-irmãs na língua têm sabido encontrar‐se connosco e nós com elas e têm sabido julgar um percurso

comum, olhando para o futuro, ultrapassando séculos de dominação política, económica, social, cultural e

humana.

Que os anos que faltam até ao meio século do 25 de Abril sirvam a todos nós para trilharmos um tal

caminho, como a maioria dos portugueses o tem feito nas décadas volvidas, fazendo de cada dia um passo

mais no assumir as glórias que nos honram e os fracassos pelos quais nos responsabilizamos e, bem assim,

no construir, hoje, coesões e inclusões e no combater, hoje, intolerâncias pessoais ou sociais.