26 DE ABRIL DE 2021
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Quando cada qual faz greve e não deixa que a lei da selva se imponha, faz cumprir o que Abril trouxe e
antes era proibido.
Cada trabalhador deste País tem o direito a férias e a férias pagas porque Abril o conquistou.
Foi com Abril que a deficiência deixou de ser uma sentença e concretizar a inclusão é um tributo que se faz
à Revolução.
Foi Abril que acabou com a separação de pessoas de primeira e de segunda e foi com Abril que as
mulheres passaram a ser plenas em direitos, donas de si mesmas, capazes de se libertarem da violência, e
que passámos todos a ter o afeto e o amor como únicos critérios para se ser família.
Quando hoje nos indignamos, nos levantamos contra a injustiça, a desigualdade, a corrupção é porque
podemos fazê-lo. Porque Abril nos fez querer mais e ter direito a mais do que um País dominado por meia
dúzia de famílias e donos, em que a política do Estado era a corrupção, a sua ocultação e a repressão dos
que a denunciavam. Práticas que alguns querem hoje restaurar, contra a Constituição da República e por via
da sua revisão, impondo o domínio do poder económico sobre o poder político.
Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. Ninguém pode ser
privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito em razão de ascendência, do sexo, da raça,
da língua, do território de origem, da religião, das convicções políticas ou ideológicas, da instrução, da situação
económica, da condição social ou da orientação sexual.
Esses valores, consagrados na Constituição há 45 anos, são valores que transportamos no presente e
projetamos no futuro de Portugal.
O tempo deixa cada vez mais longe essa madrugada inicial que foi o 25 de Abril, mas não tem de impor a
distância dos seus valores de liberdade, de democracia e de solidariedade.
Somos nós quem determina o futuro e, com Ary, dizemos que «somos um rio que vai dar onde quiser.
Pensar que somos um mar que nunca mais tem fronteiras e havemos de navegar de muitíssimas maneiras».
Podemos fazer de outra maneira.
As mais jovens gerações já são bisnetas dos antifascistas que deram a vida pela causa da libertação, mas
têm batalhas comuns: batalhas em defesa das conquistas de Abril e pela concretização do que ficou
inacabado com a Revolução, pela defesa do regime democrático.
Todos quantos não viveram Abril de 1974 são chamados a continuá-lo e a defender os direitos com ele
conquistados, a defender a saúde, a educação e a segurança social contra a lógica do lucro e a ganância dos
grandes grupos económicos.
Mais do que nunca, é evidente quão importantes são os serviços públicos conquistados com Abril e quão
decisivo é o papel daqueles que diariamente os constroem, em particular o Serviço Nacional de Saúde e a
escola pública.
O acesso de cada pessoa que habita este País a direitos fundamentais — à educação de qualidade, à
saúde de qualidade, a uma habitação digna, ao trabalho enquanto elemento de realização social e pessoal, à
proteção na doença e na velhice — é uma das grandes batalhas do nosso tempo, a de garantir que toda e
cada pessoa tem condições de bem-estar económico, social e cultural.
Continuamos a luta centenária pelo direito ao trabalho, contra a sua desvalorização, porque o que sai dos
salários continua a ir para os bolsos de uns poucos, contra a utilização dos trabalhadores como mercadoria
descartável, dispensável, porque até uma pandemia é pretexto para agravar a exploração.
Estes milhões de portugueses que nasceram depois do 25 de Abril exigem que a riqueza seja distribuída
de forma justa, permitindo uma vida digna a todos, estando contra a acumulação obscena de alguns, muito
poucos, que fogem aos impostos e à justiça, ao mesmo tempo que dizem que não é tempo para reivindicar.
O povo português precisa de um Estado ao seu serviço que cumpra a missão de desenvolver o País,
elevar as condições de vida, alcançar o pleno emprego, repartir a riqueza e afirmar a soberania.
Travamos a batalha pela defesa dos valores mais humanos e mais essenciais, de liberdade e democracia,
de igualdade e solidariedade. E não calamos que a pobreza e a miséria, a precariedade e o desemprego são
inimigos dos valores de Abril; que a desesperança é o contrário do caminho de Abril; que a impunidade da
corrupção, dos crimes económicos e financeiros, dos buracos da banca, da utilização indevida do erário
público são afrontas à democracia; que o seu maior inimigo é a subjugação do poder político pelo poder
económico e a sua fusão num só.