I SÉRIE — NÚMERO 60
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Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Passamos agora ao PEV, pelo que dou a palavra à Sr.ª Deputada Mariana Silva.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, dizem-nos as estatísticas que tivemos menos 1908 nascimentos em 2020 do que em 2019.
Não é um facto novo, mas este ano acentuou-se, o que é compreensível face às expectativas muito
negativas quanto ao futuro criadas por uma pandemia que assolou o País e que levou cada um a reponderar
as suas decisões.
Como já afirmei, esse é um problema mais profundo e que vem de trás. Os problemas económicos e
sociais são decisivos no momento em que se tomam opções sobre projetos e sonhos de vida, e quando se
pensa nos filhos, pensa-se no seu percurso de vida.
Compreenda, por isso, que comece pelo fim do ciclo, designadamente pelo acesso, em igualdade, ao
ensino superior. Também neste caso, Sr.ª Ministra, a maioria dos estudantes do ensino superior são mulheres.
Aproveito para saudar as centenas de estudantes que se manifestaram hoje à porta desta Assembleia,
reclamando isso mesmo: um futuro com garantias, um futuro com oportunidades, um futuro de igualdade.
A questão central é a que lhe colocámos na primeira pergunta. A questão das condições de cada um para
decidir ter filhos. Ter um filho é uma decisão cada vez mais ponderada. É preciso, desde logo, garantir
emprego estável e com condições. Aqueles que vivem pendurados em sucessivos contratos precários ou
trabalham sem contrato, sempre com a espada do desemprego sobre a cabeça, têm condições para assumir
essa responsabilidade?
Para além da questão do aumento do salário mínimo nacional, é necessário garantir que os salários, na
sua generalidade, aumentem e que as reformas aumentem, para ajudar no crescimento da economia e dar
confiança aos jovens.
Mas há ainda a urgência de dar outras respostas, desde logo, ao nível de uma rede pública de creches, já
que são as mulheres que se confrontam, em primeiro lugar, com a ausência de um sítio seguro e com
qualidade para deixar as crianças e ir trabalhar; também ao nível do reforço do abono de família, com a sua
universalização, para fazer face às despesas crescentes; e ainda ao nível dos cuidados de saúde em pediatria
e outros. É indispensável que os pais saibam que têm mais do que os cuidados básicos, nomeadamente com
o acompanhamento em oftalmologia ou em medicina dentária.
Mas há que dar resposta também ao nível das estruturas públicas para apoio aos mais idosos, aliviando as
famílias de encargos muitas vezes insuportáveis.
Se se tomarem estas medidas, temos confiança de que ficam garantidas as condições para nascerem mais
crianças, para se renovarem as gerações e garantir o desenvolvimento do País. Será assim, Sr.ª Ministra?
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Ministra de Estado e da Presidência.
A Sr.ª Ministra de Estado e da Presidência: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, as tarefas e as medidas de política pública necessárias para responder a esse objetivo comum, que é não procurar a solução para o
desafio demográfico numa qualquer imagem do passado, mas garantir que cada pessoa pode escolher ter os
filhos que quer ter, passa por muitas das medidas que a Sr.ª Deputada aqui elencou e muitas das medidas
que têm sido concretizadas ao longo dos últimos anos.
Na verdade, temos hoje um abono de família reforçado para as crianças mais jovens, cujos encargos
pesavam mais sobre o orçamento dos seus pais; temos hoje creches gratuitas para as crianças dos dois
primeiros escalões; temos hoje um aumento das bolsas de ação social escolar no ensino superior que é
superior ao aumento da propina e que vê aumentada a dimensão de habitação e de alojamento estudantil face
ao que tínhamos; temos hoje um conjunto de medidas previstas no Programa de Recuperação e Resiliência,
na área da habitação, que vão desde a habitação acessível, para que os jovens possam constituir as suas
famílias mais cedo do que atualmente fazem, e também no campo do alojamento estudantil temos um