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I SÉRIE — NÚMERO 60

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Também é um ponto de partida estes princípios não terem ainda tradução plena na realidade, nem do

mundo nem do nosso País. Mas também estamos a ter esta discussão sobre caminhos e soluções num tempo

muito concreto, num tempo social, num tempo político e num tempo até orgânico muito concreto, impulsionado

pelas redes sociais.

É muito fácil, neste tempo concreto, que este discurso se polarize em extremismos, em políticas

identitárias, sejam de esquerda, sejam de direita, e gostaria de dizer também que é um ponto de partida a

rejeição de qualquer uma dessas polarizações e que me coloco, neste debate, num espaço de moderação,

que tem necessariamente de existir sob pena de partirmos mais do que aquilo que somos capazes de

construir ou de fazer progredir.

Portanto, coloco-me neste espaço, como não podia deixar de ser, como democrata-cristã, à procura de vias

de impulso para os mais vulneráveis, os mais esquecidos, os menorizados, e foi com este olhar que analisei o

plano que aqui está em consulta pública.

Dito isto, porque é importante fazer estes preâmbulos para que não haja mesmo mal-entendidos nas

conversas que estamos a ter, temo bem não compreender algumas propostas; em relação a outras, penso que

estão na fronteira ou têm alguns riscos a que vale a pena estarmos atentos.

Há algumas propostas que não compreendo por razões muito simples: por exemplo, na área da saúde,

porque me parecem generalistas e podiam estar neste plano — como, de resto, estão no Programa de

Governo — afetas a qualquer pessoa, no que diz respeito ao acesso aos cuidados de saúde primários, aos

cuidados integrados, à ação social escolar para todas as crianças que dela precisem.

Onde é que vejo riscos que me preocupam, por exemplo, na cultura? Como disponho de pouco tempo, vou

ter de escolher algumas medidas, mas isto merecia uma conversa mais alargada.

Dizia eu, relativamente à cultura, por exemplo, quando dizem «para valorizar os diplomas legislativos que

regulam o investimento do Estado no desenvolvimento das artes, no combate ao racismo e à xenofobia», qual

é o perigo que vejo aqui? É o risco de poder incentivar situações extremas absurdas, no meu entendimento —

posso estar errada —, como aquelas que aconteceram, por exemplo, em Inglaterra, no caso do museu de

Jane Austen, bastante noticiado cá em Portugal, em que os promotores entenderam criar um espaço

expositivo para mostrar que, apesar de Jane Austen ser abolicionista, contra a escravatura, portanto, ainda

assim tinha hábitos que estavam diretamente relacionados com o imperialismo, como, por exemplo, o

consumo de chá. Não quero ver este género de excessos a acontecer em Portugal, estimulados por

financiamentos públicos.

No ensino superior, a medida emblemática tem a ver com o contingente especial para alunos das escolas

TEIP (Programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária).

Gostava que se começasse a olhar bem para as escolas TEIP porque, se verificarmos, estas escolas, no

seu global, estão, de facto, a cumprir o seu papel, prometido no início, quer do ponto de vista dos resultados a

que chegam, quer do ponto de vista dos meios que têm e até dos graus de liberdade que têm.

Se olharmos para o último relatório de avaliação de 2018, vemos que o insucesso escolar nestas escolas é

maior nos anos finais do que nos iniciais. Ou seja, ao longo do percurso escolar acentua-se o insucesso

escolar destes alunos. Se calhar, valia a pena começarmos por um investimento aqui, ou por um olhar

diferente sobre estas escolas. Oferecer a estes alunos uma via de acesso ao ensino superior tem de ser feito

com cautela e é importante a escolha das palavras. Parece-me bem o contingente, mas rejeitaria quotas, por

exemplo, e critérios de mérito e não uma via verde de acesso.

E é muito importante que, a seguir, haja trabalho nas universidades para acompanhar estes alunos e que

não seja apenas um emblema, o de combate à discriminação, para depois nada ser feito para garantir que não

foi um logro, porque simplesmente os colocámos lá.

Para terminar, Sr. Presidente, com a sua tolerância, poderia falar também na educação. Preocupa-me

muito aquilo que aqui é dito sobre a imagem e a alteração dos currículos, na linha de um revisionismo histórico

potencial, para o qual o Sr. Presidente da República bem alertou aqui, no seu discurso do 25 de Abril e com o

qual não posso estar mais de acordo.

Portanto, diria: ação, sim, mas com cautelas, num espaço de moderação, na consistência dos valores e

distanciando-se de revisionismos históricos, fracionamentos identitários que nos subtraem e que, por isso,

mais nos desumanizam.