7 DE MAIO DE 2021
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A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Muito obrigada, Sr. Deputado. Para formular o primeiro pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Duarte Pacheco, queria começar por saudá-lo por ter trazido o tema do Novo Banco a discussão, porque é um assunto que,
infelizmente, continua a ser notícia e, ainda por cima, pelos piores motivos.
De facto, os portugueses continuam a suportar o peso da fatura e os administradores a receberem prémios
milionários. Aliás, a decisão do Novo Banco de atribuir prémios, relativamente a 2020, aos administradores é,
na perspetiva de Os Verdes, uma cruel ofensa aos contribuintes e aos portugueses. É uma ofensa não só porque
são os portugueses que continuam a suportar este regabofe, mas também porque estamos a falar de um ano
em que o Novo Banco registou 1329 milhões de euros de prejuízo.
Portanto, a atribuição de 2 milhões de euros aos membros do Conselho de Administração só pode ser
entendida como uma verdadeira provocação aos contribuintes e aos portugueses.
Além disso, temos as primeiras conclusões do relatório da auditoria do Tribunal de Contas ao financiamento
público do Novo Banco. Nesse relatório, o Tribunal de Contas faz uma apreciação muito crítica relativamente ao
acompanhamento que o Fundo de Resolução fez de todo o processo de venda do Novo Banco, bem como
identifica riscos de complacência, conflito de interesses e falta de independência na atividade do Fundo de
Resolução.
Mais, Sr. Deputado Duarte Pacheco: o Tribunal de Contas vem confirmar o que se esperava, isto é, que o
interesse público esteve ausente neste processo.
O interesse público esteve ausente na privatização do Novo Banco, que foi assumida pelo Governo do PS,
mas o interesse público também esteve ausente na resolução do BES (Banco Espírito Santo), que foi, como o
Sr. Deputado sabe e certamente reconhecerá, assumida durante o Governo PSD/CDS.
Face a essa constatação, pergunto ao Sr. Deputado Duarte Pacheco como é que o PSD encara este
problema, tendo presente as suas responsabilidades neste processo, que são muitas, como bem sabe.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do Grupo Parlamentar do CDS.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Duarte Pacheco, se fosse noutro país, logo no dia a seguir a ter saído uma auditoria como aquela que conhecemos do Tribunal
de Contas, o Primeiro-Ministro estaria no Parlamento a dar explicações, porque o que é dito na auditoria é
gravíssimo para o Governo. Tenho de dizer que talvez ajudasse se houvesse debates quinzenais!
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Essa é para o PSD!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — O que a auditoria refere é tão grave como diz o Sr. Deputado e até mais. Saliento, pois, uma conclusão: a auditoria diz que o Estado português se comprometeu, além de todos os
montantes que já conhecíamos, com ainda mais 1600 milhões de euros, caso tudo corra mal no Novo Banco.
Esta é uma matéria que o Governo sonegou ao Parlamento. Gostava de deixar isto claro e gostava de saber
se o Sr. Deputado acha que tal exige novas explicações, nomeadamente que o Governo explique, sobretudo,
por que motivo sonegou ao Parlamento a informação de que o Estado português está comprometido em mais
1600 milhões de euros, além de tudo o que já conhecíamos.
Gostava também de saber o que acha o Sr. Deputado de termos ouvido o Sr. Primeiro-Ministro dizer que os
contratos são para cumprir. O Sr. Primeiro-Ministro está sempre muito indignado com o Novo Banco, mas,
quando chega a hora de tirar alguma consequência da sua indignação, diz que os contratos são para cumprir.
O Tribunal de Contas explicou que estamos perante um incumprimento contratual. Portanto, gostava de saber
o que acha o Sr. Deputado de nem o Governo nem aparentemente o Fundo de Resolução exigirem o
cumprimento do contrato.