I SÉRIE — NÚMERO 63
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Portanto, é revelado por esta auditoria que o Novo Banco procura usar toda a verba do CCA (Contingent Capital Agreement) e, se possível, ir mais além no uso de recursos públicos.
Perante todas estas constatações, a pergunta que fazemos ao PSD é esta: que consequências tira disto?
Mantém um banco privado pago pelo Estado? O Estado paga, mas não manda? Que consequências se tiram
disto? Continuamos a ter uma situação em que o Estado e os contribuintes portugueses pagam a limpeza do
banco, mas o banco é posto nas mãos dos privados? Um dia que ele dê lucro, o lucro é privado?
É esta a questão que colocamos ao PSD e, aliás, a todos os partidos.
Aplausos do PCP e do PEV.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para formular um pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.ª Presidente, a primeira coisa que, enfim, me apraz dizer é que muito se andou para que o PSD defenda a opção de manter o Novo Banco na esfera pública e o CDS coloque em
causa o cumprimento de contratos! Foi um longo percurso até aqui chegarmos.
A auditoria não faz, de facto, uma análise dos atos de gestão, apesar de ter sido esse o pedido ao Tribunal
de Contas, mas confirma uma coisa, aliás, denuncia uma coisa: denuncia a farsa política que foi a intervenção
no BES, tanto no momento da resolução como no momento da venda.
E essa farsa política foi uma decisão consciente dos decisores políticos quer do PSD e do CDS como do PS
ao dizerem aos cidadãos que a resolução e venda do Novo Banco não iria custar dinheiro aos contribuintes. É
essa a farsa que o Tribunal de Contas destrói, dizendo não só que todo este dinheiro que foi investido no Novo
Banco e foi pago ao Novo Banco é dinheiro dos contribuintes, como também as próprias contribuições que estão
a financiar o Fundo de Resolução são impostos que pertencem ao Estado e não ao Fundo de Resolução, são
consignadas ao Fundo de Resolução.
De resto, o Tribunal de Contas confirma aquilo que temos vindo a dizer há anos. O contrato de venda do
Novo Banco é ruinoso! É ruinoso para o Estado! Não tem mecanismos de defesa do interesse público e só foi
imposto ao País sob uma farsa, a farsa de que não existia garantia, a farsa de que a garantia não estaria por
utilizar e a farsa, que o Governo perpetua, de dizer que é um negócio entre privados e que não tem nada que
ver com os contribuintes. Essa farsa caiu e hoje é o Tribunal de Contas que o diz.
A segunda coisa que o Tribunal de Contas diz é que não há mecanismos de controlo, porque todas as
decisões da Administração vão recair sobre o Fundo de Resolução. Isto porque todas as decisões da
Administração têm um impacto no capital, logo podem acionar uma injeção de capital, mesmo que não tenham
que ver com a carteira de ativos tóxicos que foi garantida.
Portanto, quando a Administração decide atribuir-se prémios de gestão, isso vai à conta de capital! Por acaso,
desta feita, o Fundo de Resolução teve vergonha e disse que não pagava. Mas quantas outras decisões deste
género é que a Administração não tomou e que recaíram sobre os contribuintes?! Vamos confiar numa
Administração que se atribui prémios milionários, enquanto deixa o banco ter prejuízo? É nesta Administração
que confiamos?
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Vou terminar, Sr.ª Presidente. Srs. Deputados, a nova decisão de injetar dinheiro no Novo Banco virá à Assembleia da República. Há muitas
declarações, agora, sobre as posições dos vários partidos, mas a decisão final será tomada nesse momento.
Por isso, pergunto ao PSD se será coerente, nesse momento, e se votará contra uma nova injeção, que, aliás,
nem sequer é necessária agora, com as novas regras de capital.
Aplausos do BE.