7 DE MAIO DE 2021
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A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Duarte Pacheco.
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Duarte Alves, mais do que uma pergunta, a sua intervenção foi uma assunção ideológica de um modelo de sociedade, que não
corresponde ao nosso, em que tudo deve ser público. Não é a nossa posição, portanto, essa é uma divergência
de fundo que nos separa nesta matéria.
Em relação às questões colocadas pela Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, partilho da ideia de que o contrato
é ruinoso, está confirmado. O contrato de venda foi ruinoso e, porventura, por isso é que foi escondido durante
tanto tempo de todos nós.
Diz o Tribunal de Contas, mas qualquer pessoa de bom-senso pode concluir isso, que não há mecanismos
de controlo. Nós já tínhamos percebido e o Tribunal de Contas veio confirmar.
Portanto, o que se coloca em cima da mesa, mais até do que discutirmos o passado — que é sempre
importante, naturalmente, para apuramento de responsabilidades —, é perguntar aos dirigentes do Fundo de
Resolução se vão atuar como atuaram ao longo destes anos. Se vão passar o cheque sem fazer uma validação
de todas as contas e se tudo aquilo que é devido é realmente devido.
O Tribunal de Contas diz: «Eles nunca o fizeram.» Porventura, não o fizeram porque o dinheiro não era deles,
era de todos nós, mas a pergunta é se voltam a fazer o mesmo, porque agora já não são os partidos da oposição
a dizê-lo, é o próprio Tribunal de Contas que diz «Os senhores não fizeram! Vão fazer o mesmo ou não?»
Esperemos que haja decoro, também, por parte das autoridades. Que os contratos são para cumprir são,
mas só cumpro um contrato se estiver a dever aquilo que me for apresentado. E isso tem de ser comprovado,
antes de qualquer pagamento.
Obrigado, Sr.ª Presidente, por toda a tolerância ao longo destas respostas.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Moisés Ferreira, do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O Sr. Moisés Ferreira (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O mundo soube ontem à noite que os Estados Unidos da América mudaram a sua posição em relação às vacinas contra a COVID-19 e passarão
a defender o levantamento das patentes. Porquê? Porque concluíram, finalmente, que essa é a única forma de
intensificar a produção, ou seja, é a única forma de intensificar a vacinação. Concluíram, finalmente, que a
universalização da vacina é a forma de controlar a pandemia e que ou nos vacinamos todos, em todo o mundo,
ou não encontraremos porta de saída da pandemia.
É uma decisão histórica que só peca por tardia. A informação e a tecnologia necessárias para vencer a
pandemia nunca, repito, nunca deveriam ter sido patenteadas, nunca deveriam ter sido exploradas como
mercadoria. Devem ser um bem público, um bem universal, coisa que o Bloco de Esquerda, aliás, sempre
defendeu.
Coloca-se agora a questão: então e a União Europeia? E a Presidência portuguesa da União Europeia? Vão
continuar a aceitar uma vacinação lenta e assimétrica entre os vários Estados, tudo em nome dos interesses
dos laboratórios farmacêuticos? Vão continuar a bloquear a proposta de dezenas de países que defendem o
levantamento das patentes dizendo que podem ter capacidade de produção, que podem contribuir para o
aumento da produção mundial?
António Guterres, que está à frente da ONU (Organização das Nações Unidas), como sabem, já disse há
vários meses que é preciso partilhar a informação para que os grandes laboratórios mundiais possam produzir
e aumentar rapidamente a quantidade de vacinas disponível.
Porém, em março deste ano, tanto a Ministra da Saúde como o Primeiro-Ministro continuavam a insistir numa
narrativa que é falsa, dizendo que o problema não são as patentes, mas, sim, a falta de capacidade industrial
em todo o mundo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), em junho do ano passado, lançou um apelo público para que toda
a investigação, toda a tecnologia relacionada com a COVID-19, em particular aquela que beneficiou de apoios
e investimento públicos, fosse partilhada. O Governo português, na altura, até correu a colocar a sua assinatura