I SÉRIE — NÚMERO 63
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Um parágrafo desta auditoria do Tribunal de Contas explica que o Banco de Portugal, ao mesmo tempo que
sugeriu a escolha do Lone Star, sugeriu também que o Governo, enquanto decisor final, promovesse
negociações para que houvesse a hipótese de outros concorrentes e de outras empresas apresentarem
propostas tão boas ou melhores do que aquelas. No entanto, o Tribunal de Contas diz que não encontra
evidência de isto ter acontecido. Não acha que o Governo nos deve uma explicação?
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Com certeza. Por último, pergunto ao Sr. Deputado se lhe parece razoável que o grande responsável governamental por
esta negociação seja o atual Governador do Banco de Portugal, que, sobre isto tudo, a única coisa que foi capaz
de dizer foi que não concordava com o Tribunal de Contas.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Duarte Pacheco.
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, agradeço as questões que colocaram. Sr. Deputado José Luís Ferreira, respondo muito diretamente à questão dos prémios. Ontem, tive a ocasião
de dizer a um órgão de comunicação social que só há uma reação: «Haja decoro!» Acho que não é preciso dizer
mais nada. Quando não há vergonha, aparecem propostas como aquela. Mas, infelizmente, a falta de decoro
acontece, também, na Administração do Novo Banco.
Sobre o interesse público, Sr. Deputado, também está claro no relatório do Tribunal de Contas — e é a nossa
opinião — que a resolução e a alienação foram importantes para salvaguardar a estabilidade do sistema
financeiro e isso é interesse público. Porque salvaguardar a estabilidade do sistema financeiro, sem haver risco
sistémico, salvaguardar a situação dos depositantes, manter uma instituição como esta no mercado a funcionar
é interesse público. E isso foi alcançado.
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Vamos ver!…
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Se existiam ou não alternativas, essa é outra questão. Eu próprio disse que o Tribunal de Contas refere que o interesse público foi garantido porque a alienação salvaguardou a estabilidade
do sistema financeiro, mas que não estudou as alternativas e uma alternativa limite — que é muito querida aos
parceiros da sua coligação — seria a própria manutenção do banco na esfera pública. Isso não foi feito.
Digo isto para ser totalmente franco convosco. Mas o que não podemos dizer é que a estabilidade do sistema
financeiro não é interesse público, porque o é.
Quanto à outra questão — e agradeço à Sr.ª Deputada Cecília Meireles as questões que me colocou —,
primeiro, como é óbvio, a falta de transparência é uma crítica que o Tribunal de Contas faz, mas penso que não
é apenas o Tribunal de Contas, qualquer português a faz. Pensar que se faz uma alienação e que se esconde
no cofre-forte o contrato com as obrigações a que o Estado está obrigado, para que os portugueses não saibam
e não lhe possam pedir responsabilidades, é uma vergonha. E foi isso que aconteceu durante anos: o Governo
escondeu o cofre a sete-chaves para que ninguém soubesse o que lá estava.
Portanto, há muitas explicações a dar e, tal como disse, estamos perante uma incompatibilidade, que
evidenciámos ontem, em que o Sr. Dr. Mário Centeno, no Banco de Portugal, reagiu como o ex-Ministro das
Finanças que tinha assinado esse contrato. Isto é algo incompreensível e inaceitável num Estado de direito.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Duarte Pacheco (PSD): — Pelo menos, se queria defender a sua honra pessoal, saía do Banco de Portugal, ia para uma sala de hotel e falava daí. Misturar as funções é, mais uma vez, algo de muito criticável,
mas neste Governo já vimos de tudo.
Aplausos do PSD.