I SÉRIE — NÚMERO 63
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Por isso, o Sr. Vice-Almirante Gouveia e Melo já foi avisando, e cito: «O limite de idade nos dois tipos de
vacinas pode condicionar a utilização de meio milhão de vacinas no segundo trimestre e de 2,7 milhões de
vacinas no terceiro, atrasando a meta dos 70% de vacinação até ao verão.»
Se estamos ainda em tempo de escassez de vacinas, qual é o racional para restringir ainda mais as que
temos? Se queremos abrir fronteiras, promover o turismo, recuperar a atividade hoteleira e a restauração, os
festivais e os espetáculos, enfim, salvar o verão, então porque estamos a autolimitar o ritmo da nossa imunidade,
sobretudo quando uma das vacinas em causa implica apenas uma única dose e não tem, à data, riscos de rutura
de fornecimento?
Sr.as e Srs. Deputados, parece-me relevante fazer um segundo alerta, este sobre o efeito colateral da
vacinação na atividade e nos profissionais dos cuidados de saúde primários.
Os médicos dos centros de saúde estão a ser desviados das consultas para a vacinação, que, de acordo
com uma norma da DGS, obriga à presença de um médico. Esta disposição tem três consequências negativas:
impede a recuperação da atividade assistencial nos cuidados de saúde primários — as consultas presenciais
caíram 47% nos primeiros dois meses do ano, comparando com 2020, mais uma vez deixando para trás os
doentes não-COVID —, impõe escalas adicionais aos médicos, que estão, reconhecidamente, em situação de
cansaço extremo, e inibe a agilização da vacinação através das farmácias comunitárias que estejam preparadas
para o efeito.
Sr.as e Srs. Deputados, na vacinação contra a COVID-19 está concentrada a esperança de recuperar a saúde
como bem fundamental e a economia como atividade vital, particularmente em comparação com outros países,
a esperança de voltar ao normal o mais depressa possível.
É por isso que fazemos, hoje, estes alertas, porque depois serão só críticas inconsequentes.
O Sr. Presidente: — Sr.ª Deputada, a Mesa regista três pedidos de esclarecimento, respetivamente do PSD, do PS e do PCP.
A inscrição do Sr. Deputado Moisés Ferreira não será considerada porque foi já feita depois de a intervenção
ter acabado.
Hoje temos uma longuíssima jornada. Há regras para cumprir e, portanto, falam os Srs. Deputados destes
três grupos parlamentares que anunciei.
Tem a palavra, para formular o primeiro pedido de esclarecimento, o Sr. Deputado Rui Cristina, do Grupo
Parlamentar do PSD.
O Sr. Rui Cristina (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, recentemente, o coordenador da task force da vacinação contra a COVID-19 admitiu que poderá verificar-se um desperdício de mais de 3 milhões de vacinas
devido às limitações de idade impostas às vacinas da AstraZeneca e da Jansen.
O argumento é o de que as referidas vacinas são absolutamente seguras a partir dos 60 anos de idade, no
caso da AstraZeneca, e dos 50 anos, no caso da Jansen, podendo não acontecer o mesmo em idades inferiores.
Um argumento curioso, na medida em que este esquema imposto em Portugal não é partilhado pelas
autoridades de saúde de diversos outros Estados-Membros europeus, mas também um argumento grave, na
medida em que dele pode resultar a não-utilização de alguns milhões de doses de vacinas já adquiridas por
Portugal.
O PSD tem procurado esclarecer o fundamento científico dessas declarações. Ainda ontem a Comissão de
Saúde ouviu a Comissão Técnica de Vacinação contra a COVID-19, mas a verdade é que continua por
evidenciar qual é a base para as referidas vacinas não poderem ser administradas a menores de 60 e 50 anos,
consoante os casos.
E a situação é grave, na medida em que, no momento em que menos de 1 milhão de portugueses receberam
a vacinação completa e mais de 7 milhões não receberam ainda qualquer dose, não se compreende que as
vacinas disponíveis possam não ser administradas sem que estritos e ponderosos critérios científicos a tal
obriguem.
Por isso lhe pergunto, Sr.ª Deputada Ana Rita Bessa, se conhece a evidência científica para a decisão das
autoridades portuguesas de limitar a administração das vacinas da AstraZeneca só a pessoas com mais de 60
anos de idade e as da Jansen a pessoas com mais de 50 anos. Deram-lhe as autoridades de saúde portuguesas
argumentos científicos credíveis para não alargarem aquelas duas vacinas a toda a população?