7 DE MAIO DE 2021
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dinheiro dos contribuintes financia projetos com nomes pomposos como o Centro de Competências para Gestão
e Sustentabilidade das Espécies Cinegéticas e Biodiversidade, o qual, sob o manto da sustentabilidade e da
biodiversidade, tem como missão apoiar e promover o próprio setor da caça, canibalizando recursos muito
importantes que são desviados e que deveriam estar empenhados para se estudar e compreender os impactos
da atividade humana na conservação dos habitats e em promover a biodiversidade.
Haverá um melhor exemplo de desperdício de fundos públicos?! Por acaso até há e, pasmem-se, Sr.as e Srs.
Deputados, chama-se tauromaquia, uma atividade anacrónica que continua a alimentar-se dos fundos públicos
para conseguir sobreviver, como se fosse essencial ao País, e para a qual continuamos a ver largos milhões de
euros da PAC (política agrícola comum) a serem desviados para o bolso dos ganadeiros. E, como se os fundos
da PAC não chegassem, ainda vemos os profissionais da tauromaquia a comer do mesmo «bolo» da cultura.
Ainda nesta semana, a Sr.ª Ministra da Agricultura — a mesma que iniciou o debate anterior a falar no impacto
económico, ao invés de falar de direitos humanos ou de transição sustentável na agricultura — disse, nesta
Casa, que Portugal é uma referência em matéria de bem-estar animal. Quem conhece a realidade do País e
esteve atento aos recentes e louváveis trabalhos de investigação da própria comunicação social sabe que esta
afirmação não poderia estar mais longe da verdade. Isto já nem falando na dificuldade que todos os anos
enfrentamos, nesta mesma Casa, ao procurar aumentar as verbas destinadas à proteção animal, muitas vezes
sem qualquer sucesso. Poderia ser para rir se não fosse para chorar! É que a biodiversidade e os animais não
se protegem à lei da bala, os ecossistemas não se preservam continuando a financiar atividades poluentes e o
País também não desenvolve se continuarmos a utilizar a mesma receita.
Não é apenas no setor da banca que o Governo tem de escolher a quem dá a mão. No que respeita ao
combate das nossas vidas, o combate às alterações climáticas, mas também à forma como nos relacionamos
com os outros seres que habitam este planeta, o Governo e o Parlamento têm de fazer as suas escolhas, as
quais têm de ir ao encontro do século XXI.
Todos desejamos uma sociedade mais justa, mais humanizada e mais saudável, mas, para isso, o dinheiro
dos contribuintes tem de ser investido e utilizado naquilo que, efetivamente, é o interesse do País, na resiliência
do território e das populações e no compromisso com a transição para uma economia verde.
Este momento é absolutamente crucial. Saibamos onde investir e deixar para trás atividades anacrónicas
que em nada servem os interesses do País.
O Sr. Presidente: — A Mesa regista quatro inscrições para pedir esclarecimentos. Como pretende responder, Sr.ª Deputada?
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — A todos em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Muito bem. Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Hugo Oliveira, do Grupo Parlamentar do PS.
O Sr. Hugo Oliveira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real, desde 2015 que o Partido Socialista e o Governo têm vindo a aumentar de forma sustentada o investimento
público e têm-no feito com o mesmo rigor com que têm conseguido equilibrar as contas públicas.
A primeira informação que lhe queria dar, Sr.ª Deputada, a si e a esta Câmara, é a de que assim
continuaremos. Queremos mais e melhor investimento público, mas sempre suportado por mais e melhor rigor
orçamental.
O Sr. Carlos Pereira (PS): — Muito bem!
O Sr. Hugo Oliveira (PS): — A Sr.ª Deputada disse que havia pouco investimento público, nomeadamente nos programas europeus e nos fundos de investimento para a transição climática, mas, perante esta sua
intervenção, julgo que não tem lido os programas que lhe têm chegado às mãos.
A Sr.ª Deputada disse que 3000 milhões de 16 000 milhões do PRR é pouco. Até posso concordar consigo,
mas o que a Sr.ª Deputada não pode fazer é chegar a esta Casa e contar apenas metade da história. E a metade
da história é sempre aquela em que dizemos «quero mais investimento nesta matéria e nesta área».