19 DE MAIO DE 2021
27
Ainda vivemos sob um modelo muito influenciado pela alteração constitucional de 1982, que delimitou a
participação das Forças Armadas fora do âmbito militar e que, neste momento, já não tem razão absolutamente
nenhuma de ser, e a atual crise pandémica veio reforçar ainda mais esta ideia.
Sr. Ministro, não acha importante acompanharmos alguns dos nossos parceiros da NATO e alterarmos a
Constituição para consagrar a evolução dos conceitos existentes, que são estanques, para um conceito de
segurança e de defesa mais abrangente e que permita a participação das Forças Armadas num maior número
de missões possíveis na área da segurança e da proteção civil?
Como todos sabemos, as ameaças, hoje, são difusas, já não são exclusivamente internas ou externas, mas,
sim, muito transversais. Face à falta de meios financeiros que temos, seria absurdo duplicar os meios na
proteção civil ou nas forças de segurança quando as forças militares têm esses mesmos meios e essa
competência para exercer e executar essas missões.
Outra questão que lhe deixava, Sr. Ministro, é a seguinte: o CDS entende — como explicarei na minha
intervenção, mais à frente — que antes de se alterar a Lei de Defesa Nacional e a LOBOFA deveria ter-se
atualizado o Conceito Estratégico, pois são as leis que agora estamos a discutir que se têm de adequar ao
Conceito Estratégico e não o contrário.
Daí a pergunta, Sr. Ministro: está a ponderar proceder ao início da revisão do Conceito Estratégico de Defesa
Nacional? Se sim, para quando e porque não o fez antes da apresentação das propostas de alteração à Lei de
Defesa Nacional e à LOBOFA?
Ainda uma última pergunta: dado que o CDS pretende, em sede de comissão, fazer propostas de alteração
no sentido de melhorar a Lei de Defesa Nacional e a LOBOFA, de forma a corrigir eventuais excessos que
possam existir, estão o Governo e o Partido Socialista disponíveis para aceitar essas mesmas propostas?
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para os últimos pedidos de esclarecimento ao Sr. Ministro da Defesa, tem a palavra o Sr. Deputado João Vasconcelos, do Grupo parlamentar do Bloco de Esquerda.
Faça favor, Sr. Deputado.
O Sr. João Vasconcelos (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Secretários de Estado, Sr. Ministro, uma das justificações apresentadas pelo Governo para esta reforma diz respeito ao facto de Portugal
ter de se adaptar aos países da Europa ocidental e à NATO.
A pretexto das ameaças transnacionais, envereda-se, assim, por propostas que centralizam decisões numa
única entidade de cariz unipessoal, o que vai no sentido de uma absoluta submissão à NATO e a uma lógica
belicista que aqui merece a oposição frontal do Bloco de Esquerda.
O que o Governo devia fazer era começar por cumprir a Constituição, a qual preconiza a dissolução dos
blocos político-militares, como a NATO, uma organização de guerra e não de paz, militarista, com um historial
muito triste de destruição e morte, desde o que se passou no Afeganistão, na Jugoslávia e na Líbia.
Voltando às propostas do Governo, Sr. Ministro, não se percebe esta pressa tão atabalhoada, sem
praticamente haver diálogo prévio com diversas entidades, o que seria aconselhável quando a última reforma
da LDN e da LOBOFA foi, afinal, em 2014.
É verdade que o Ministro Aguiar-Branco, do Governo PSD/CDS, queria ir mais longe na reforma, mas o PS,
na altura, não deixou, dizendo que havia — repare-se! — uma excessiva concentração de poderes no Estado-
Maior General das Forças Armadas face ao enfraquecimento da estrutura política do Ministério da Defesa.
Agora, curiosamente, é o Governo PS que avança com esta consolidação de poderes no Estado-Maior General
das Forças Armadas, à custa da menorização dos chefes dos ramos, fazendo todo o trabalho do PSD sem este
partido estar no poder, e daí assistirmos ao apoio condicional do PSD — e já agora também do CDS — a esta
reforma. Ou seja, sem disparar um único tiro, o PSD consegue tudo o que pretendia. PS e PSD atiram-se para
o colo um do outro e a devido tempo saberemos quais as contrapartidas.
De facto, trata-se de um casamento feito à boa maneira do bloco central, como já temos tido aqui noutros
acordos a dois neste Parlamento, mas quem perde são as Forças Armadas e o País.
São muitas as críticas e é forte a contestação de várias entidades a esta reforma. O Bloco de Esquerda fica
ainda mais preocupado quando algumas dessas críticas adiantam que, com esta reforma, as Forças Armadas