21 DE MAIO DE 2021
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deixar de fazer o que não foi feito durante esse período. Houve muitos portugueses que ficaram para trás nos
seus cuidados de saúde e é agora que tem de se começar a recuperar esse tempo perdido.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Também na educação é preciso recuperar as aprendizagens perdidas. É preciso ter noção de que mais do que nunca as desigualdades entre alunos se acentuaram durante
este período. Quem tinha dificuldades teve ainda mais dificuldades e mesmo quem não as tinha teve-as durante
este período. É fundamental que, do ponto de vista pedagógico, haja este cuidado para que ninguém fique para
trás.
Na segurança social, é também preciso perceber quem pode ajudar mais nas respostas que vão ter de ser
dadas no pós-pandemia, e aí, sem dúvida, é preciso continuar a valorizar o terceiro setor, e valorizá-lo ainda
mais em respostas que vão ser necessárias e para as quais o terceiro setor tem capacidade de resposta, como,
por exemplo, o caso da rede de cuidados continuados em saúde mental. Não basta dizer que a saúde mental é
um dos principais problemas e consequências desta crise, é preciso perceber como se resolve e quem, no
terreno, pode ajudar a resolver.
O mesmo se passa nas novas formas de conciliação entre o trabalho e a vida familiar. O teletrabalho foi,
certamente, um instrumento de adequação do trabalho à pandemia, é, certamente, um instrumento futuro de
possibilidade de aumento da produtividade, mas, primeiro do que tudo, de aumento de qualidade de vida das
famílias. Por isso, quando discutirmos o teletrabalho, não pode haver os da produtividade e os da qualidade de
vida. É preciso perceber que a solução está exatamente em conseguirmos cruzar uma coisa e a outra, a bem
de que quem trabalha possa, efetivamente, ter mais tempo para si próprio, mas possa também, produzindo mais,
ter melhor retorno em termos salariais do trabalho que entrega.
Além disso, há a questão da formação e reconversão profissionais. Neste momento, há, necessariamente,
desafios que têm que ver com o que o mercado de trabalho pede, que é substancialmente diferente do que
pedia antes. A transição digital acelerou muito e há muita gente que vai precisar de mais formação e de nova
formação para poder ter oportunidades de trabalho. Também aí é preciso concentrar a prioridade em matéria
social.
Do ponto de vista económico também temos de esclarecer bem quais devem ser as prioridades. A primeira
de todas é a eficiência da «bazuca». Não basta dizer que a «bazuca» financeira existe, não basta receber o
dinheiro europeu, é preciso saber, efetivamente, em que vamos empenhar esse dinheiro. E os primeiros dados
são muito preocupantes.
O Banco de Portugal prevê, para 2023, um crescimento de 2,3%. Antes, no Programa de Estabilidade, o
Governo previa, sem «bazuca», para o mesmo período, um crescimento de 2,1%. Ou seja, com os dados que
temos neste momento, o acréscimo de tanto dinheiro que vamos receber é apenas de duas décimas. Isto é
absolutamente impensável para um País que tem de recuperar a competitividade e ainda mais quando sabemos
que, no 1.º trimestre deste ano, Portugal teve a maior recessão no espaço europeu, 5,4%, quando a média de
recessão na União Europeia foi de 1,7%.
É preciso ajudar também os setores que foram mais prejudicados pela crise. É preciso efetividade nos apoios
que ainda existem e saber que setores como o turismo precisam de mais do que o programa que foi aprovado
hoje, porque do ponto de vista regional, por exemplo, há regiões que vão ter muito mais dificuldade em recuperar
do que outras e, mesmo entre os operadores, há uns que vão ter muito mais dificuldade em recuperar do que
outros, como é o caso das agências de viagens.
É preciso responder ao desafio da capitalização das empresas e perceber, finalmente, o que vai fazer o
Banco de Fomento e para que é que serve.
É preciso também resolver um problema estrutural da economia portuguesa: o da produtividade. Só
aumentando a produtividade vai ser possível aumentar o salário médio dos portugueses.
Há também o desafio da competitividade. Além dos custos de contexto, é preciso resolver problemas
estruturais da justiça e também enfrentar o desafio da competitividade do nosso sistema fiscal, que a própria
OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) já apontou como um dos fatores de
redução da competitividade da economia portuguesa.