2 DE JUNHO DE 2021
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O imenso potencial desta região, as condições naturais, o investimento na infraestruturação e qualidade de
vida, especialmente a partir do poder local democrático, a capacidade instalada e a qualificação das suas
populações, estes e outros fatores evidenciam o muito que esta região tem dado e pode dar ao País.
Mas, além de opções desastrosas de sucessivos Governos, da injustiça e da visão estratégica errada, dos
investimentos prometidos e tantas vezes adiados, há um quadro de penalização agravado que continua, ano
após ano, a prejudicar esta região, neste caso, na aplicação dos fundos estruturais europeus.
E esse quadro injusto e penalizador, neste domínio concreto, resulta das decisões tomadas, em 2012, pelo,
então, Governo de PSD/CDS que, ao diligenciar junto do Eurostat a eliminação da NUTS III Península de
Setúbal, prejudicou, objetivamente, a região, desde logo, com o apagão estatístico que veio tornar mais grave a
dificuldade no acesso aos recursos.
O PCP alertou para esse problema, questionou, na comissão parlamentar, o, então, ministro Miguel Poiares
Maduro sobre esse prodígio estatístico que estava a ser decretado. Estávamos em 2013. O ministro respondeu
que o problema estaria ultrapassado. Não estava. O problema mantém-se e passaram oito anos.
A iniciativa do PSD de agendar este debate é particularmente relevante, significativa e reveladora, porque
traduz um indesmentível ato de contrição e autocrítica do PSD, que daqui queremos saudar.
Mas o que se verifica também, e que não é menos significativo, é que, ao cabo de seis anos de Governos
minoritários do Partido Socialista, o problema se mantém, sem qualquer solução tomada pelos responsáveis
governativos. Aliás, de cada vez que o PCP suscitava o assunto, vários membros de sucessivos Governos e
ministérios, quando confrontados, desvalorizaram sempre o assunto, ao longo do tempo.
Nesta discussão, os responsáveis do Governo e do Partido Socialista têm vindo a dizer tudo e o seu contrário:
dizem que a reconstrução da NUTS III Península de Setúbal é um processo muito complexo e prolongado, que
lá para 2027 estará feito, mas depois reconhecem que, de facto, pode haver um processo excecional e muito
mais rápido.
Dizem que não sabem de nenhum pedido para reconstituir a NUTS III Península de Setúbal, mas depois
reconhecem que tem havido contactos, ao longo do tempo, com a associação de municípios e com diversas
outras entidades da região.
Dizem que é preciso que haja duas NUTS II na AML e, depois, diz o Sr. Secretário de Estado que é preciso
que a Península de Setúbal passe para o Alentejo.
Srs. Governantes, Srs. Deputados, é preciso que se entendam na solução que querem propor ao País.
A solução que nós temos vindo a propor é muito concreta, objetiva e construtiva. Está apresentada nesta
Assembleia e, no essencial, responde aos anseios do que tem vindo a ser reclamado pelos agentes locais e
regionais de desenvolvimento na Península de Setúbal, pelas autarquias, pela associação de municípios, pelo
conjunto das várias entidades que se tem dirigido ao Governo e a esta Assembleia em relação a esta matéria.
A proposta do PCP está plasmada no Projeto de Resolução n.º 1165/XIV/2.ª — Reconstituição das NUTS III
Grande Lisboa e Península de Setúbal no âmbito da NUTS II AML, em que propomos que o Governo promova,
com caráter de urgência, a diferenciação estatística da Península de Setúbal, traduzida através do reposição da
NUTS III neste território, bem como da correspondente da Grande Lisboa, repondo-se a coerência
organizacional e territorial existente até 2013.
Mas este projeto também propõe que se dê início a uma revisão mais ampla dos instrumentos estatísticos
para informação regional, tendo em conta o atual referencial vigente no Eurostat, designadamente, que
contemple a criação de um desenho da NUTS II que potencie os fundos estruturais aplicáveis no território
nacional, e que, enquanto não estiver concretizada a modificação registada nesta proposta, o Estado e o
Governo estudem e diligenciem o apoio junto das estruturas da União Europeia, já no quadro financeiro
plurianual, para assegurar a não diminuição do financiamento a toda a AML, propiciando acrescentados fluxos
compensatórios para a Península de Setúbal, designadamente no PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e
noutras eventuais operações integradas.
Srs. Deputados, esta é a proposta do PCP. Está pedido o seu agendamento, para que, de uma vez por todas,
se revelem as posições e as opções políticas na defesa e na promoção de uma proposta efetiva e de uma
resposta efetiva para os problemas na Península de Setúbal.
O PCP anuncia, aqui, o agendamento do debate e da votação desta proposta.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.