8 DE JUNHO DE 2021
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psicológico; que haja mecanismos de avaliação, para que possamos aferir o impacto das medidas. Tudo isto
num debate que, aliás, tem sido muito rico e muito alargado.
Em boa verdade, este é um debate que tem mobilizado a sociedade, porque é uma preocupação
fundamental o futuro dos nossos alunos. E aquilo que podemos dizer hoje, já com conhecimento deste plano,
é que o Governo soube interpretar as preocupações expressas no debate que foi sendo feito, um debate que,
diga-se, o Governo procurou promover desde sempre. O Governo procurou promover este debate porque
assumiu desde sempre, como fundamental, a preocupação com o impacto da pandemia nos nossos alunos.
Sabemos que a perda de dias de aulas, mas também das aprendizagens, é uma questão global, embora
com graus de intensidade diferentes, sabemos que, embora Portugal se situe na metade inferior da média da
OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) do número de dias de aulas
perdidos, isso em nada nos pode descansar e, de facto, sempre foi nosso entendimento que nada substitui o
professor nem a sala de aula, como, aliás, bem tem sido dito e como o Governo cedo percebeu.
Os resultados que temos, à data, são duros, mas é essa a responsabilidade de quem está comprometido
com o combate às desigualdades. Por isso mesmo, o plano que, hoje, aqui discutimos é um plano feito a
muitas mãos, porque é de muitas mãos, de diversidade que é feita a escola, precisamente porque o Governo
entendeu, e bem, que para o desenho deste plano era necessário ouvir. Para concretizar este plano, o
Governo decidiu dialogar e promoveu auscultações a alunos, professores, diretores, peritos, psicólogos, ONG
(organizações não governamentais), representantes dos vários setores da educação, antigos ministros da
educação. Mas este plano também é fruto de um grupo de trabalho criado para o efeito, constituído por
especialistas com perfis muito diferentes.
Sabemos que o plano é ambicioso — ninguém, aqui, o negou —, mas é ambicioso porque a tarefa é de
grande monta. São 900 milhões de euros para dar corpo a uma abordagem pedagógica, estruturada e
consistente, dinheiro sem o qual não seria possível criar o contexto nem as condições para o esforço que
temos pela frente.
Mas é importante que se diga, porque é verdade, que reduzir este plano apenas aos meios, ao dinheiro, diz
muito pouco sobre aquilo que estamos aqui a discutir. Há quem faça de todas as discussões uma discussão
sobre o número de professores, sobre o número de assistentes operacionais, sobre quantas obras estão feitas
ou serão feitas, sobre quantos computadores estão em causa, mas esta discussão é muito mais do que isso.
O Sr. Porfírio Silva (PS): — Muito bem!
O Sr. Tiago Estevão Martins (PS): — Esta discussão é muito mais do que isso, porque o plano também é muito mais do que isso. O plano apresenta uma visão clara do reforço da autonomia das escolas, na gestão
mais autónoma do calendário, na gestão mais flexível das turmas, e o muito dinheiro vem, também, a par de
muitas medidas pedagógicas propostas, como a própria estruturação do plano demonstra.
Sr.as e Srs. Deputados, em bom rigor, este plano apresenta-nos três eixos. O primeiro é sobre o que se
quer fazer com as aprendizagens, o segundo é sobre os meios para que tal seja possível e o terceiro é sobre
como podemos avaliar e acompanhar os resultados das políticas implementadas. Contudo, quem acompanhar
este debate, quem tenha ouvido o debate até aqui fica com a ideia de que um plano destes é apenas uma lista
de compras. Mas, Sr. Ministro, como vimos, aliás, neste debate, sabemos que, nesta Casa, estas discussões
assumem sempre a mesma dinâmica, a mesma sequência, o mesmo argumentário. Há sempre quem peça
estabilidade, mas peça mudanças todos os meses; há sempre quem peça mais autonomia para as escolas,
mas passe o tempo a pedir mais regras e orientações;…
O Sr. Porfírio Silva (PS): — Muito bem!
O Sr. Tiago Estevão Martins (PS): — … há quem diga que nada é sua responsabilidade, mas não hesite em intervir em matérias da competência exclusiva do Governo, como, aliás, bem aconteceu, recentemente,
com o futuro regime de recrutamento de docentes; há quem diga que as medidas estão atrasadas, mesmo que
cumpram com o calendário definido; e há quem aja como se começássemos sempre do zero, dizendo que
nada foi feito, mesmo que os dados e a realidade o desmintam.