I SÉRIE — NÚMERO 75
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quem é, quem a gere, se é intencional ou não, mas, neste momento, sei que não consigo avaliar exatamente o
que é que vai ser investido e como.
É explícito que, destes 900 milhões de euros, 670 milhões são o chamado investimento de capital. Convém
não somar laranjas com maçãs. Investimento de capital é aquele que fazemos em infraestruturas — routers,
wi-fi, os computadores de setembro de 2020, isso tudo é investimento de capital. E, depois, há investimento
operacional, que são 43,5 milhões de euros para formação de professores, verba que também estava prevista,
de alguma maneira, no PRR; 47,3 milhões de euros para os recursos digitais, os tais que no PRR aparecem
para 2025; e, depois, 140 milhões de euros para recursos humanos em dois anos.
Já aqui foi perguntado pelo PCP e pelo Bloco, e eu faço a pergunta talvez com um olhar um pouco
diferente: estes recursos humanos são contratados diretamente pelas escolas, como o Sr. Secretário de
Estado já aventou como hipótese numa entrevista ao Público? São contratados dois anos e depois ficam
vinculados ou já não serão necessários, porque foram para tutorias específicas e avaliar-se-á, no final desse
período, se são ou não necessários para continuar?
A questão é que, do investimento operacional, dos 335 milhões de euros — os tais 125 milhões que vêm
deste ano, mais os 215 milhões que aparecem agora, excluindo o investimento de capital —, não sabemos
dizer se isto é muito ou se é pouco, porque não sabemos, exatamente, como é que eles vão ser aplicados, se
vão ser aplicados na recuperação propriamente dita, que era o seu objetivo, ou se vão ser aplicados a fazer
aquilo que o Governo não fez noutros anos, como por exemplo 50 salas de pré-escolar, ou semestralizar anos,
coisas que já vinham de trás.
Portanto, o que quero saber — e a pergunta é muito clara — é o seguinte: com o que é que o Sr. Ministro
se compromete em 2023? É como a nossa economia, trazê-la de volta a 2019, e os nossos alunos vão estar
nos níveis de 2019? Ou vai levá-los mais à frente e desenvolver para o nível em que eles deviam estar, de
facto, em 2023, com um crescimento em termos de sucesso educativo?
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Bebiana Cunha, do Grupo Parlamentar do PAN.
A Sr.ª Bebiana Cunha (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Ministro, gostaríamos de insistir numa pergunta que já lhe deixámos na primeira ronda e que se prende com a revisão dos conteúdos
programáticos. Gostaríamos de saber se o Ministério da Educação vai estar na retaguarda desta revisão às
aprendizagens, no caminho que deve ser feito ao nível do foco nas aprendizagens essenciais, ou se vai
esconder-se no chapéu da autonomia das escolas.
O Sr. Ministro, na sua intervenção, referiu, precisamente, que um dos pilares é a inclusão, o que,
evidentemente, já aqui saudámos, mas a inclusão precisa de sair do papel. Por isso, a esse nível, gostaria de
lhe deixar aqui uma série de questões, até porque, como é referido no documento — e bem —, as pessoas
mais afetadas por esta crise socioeconómica são, evidentemente, as pessoas mais vulneráveis, mais
fragilizadas e, portanto, relativamente a estas pessoas, há uma série de questões que têm de ser acauteladas
no que diz respeito ao início do próximo ano letivo.
Uma das questões prende-se com o facto de percebermos se o Ministério da Educação vai antecipar os
problemas de transporte destas crianças socioeconomicamente mais vulneráveis e que se repetem, por
razões administrativas e razões financeiras, todos os anos letivos.
Um dos aspetos que também é referido neste documento prende-se com a gestão flexível das turmas,
visando aqui atribuir às escolas a possibilidade de diminuir o número de alunos por turma. O que gostaríamos
de saber é como, efetivamente, vai o Ministério da Educação garantir esta gestão flexível das turmas, como é
que vai garantir este apoio às escolas.
Quando, no documento, se fala de generalização da orientação escolar e profissional, queremos saber o
que é que isso significa, se falamos de uma industrialização da orientação escolar e profissional ou se falamos
numa especialização, de mais meios, mais recursos e pessoas que possam intervir o mais cedo possível, pois
todos sabemos a importância de a orientação escolar e profissional ser feita numa perspetiva longitudinal.
E porque falamos de intervenção longitudinal e falamos de inclusão, não poderia aqui deixar de referir que,
por exemplo, uma criança surda, de dois anos, neste momento não pode frequentar a educação bilingue de
crianças surdas para poder iniciar a aprendizagem da língua gestual portuguesa. Ou seja, neste momento, as
crianças surdas não podem ser apoiadas pela intervenção precoce, porque os profissionais não dominam a