I SÉRIE — NÚMERO 90
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A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Em terceiro lugar, e sobre o chamado PRR, aquilo que o Sr. Primeiro-Ministro aqui veio apresentar — que é basicamente a ideia que acho que o Governo tem para o PRR — foi a
imagem do Governo com o livro de cheques na mão a passar cheques a vários setores da Administração
Pública.
Registo aqui as escolhas e ouvi-o com atenção. Aquilo que disse foi que apenas 30%, sensivelmente, deste
PRR vai para as empresas, a outra parte vai para o setor público. Mas diz o Sr. Primeiro-Ministro: «Não, não,
mas também vai para as empresas, porque depois o setor público, na aplicação destes fundos, vai contratar
empresas».
É exatamente essa escolha de fundo que me parece criticável, Sr. Primeiro-Ministro, porque aquilo que está
a dizer é que, de facto, o dinheiro vai para as empresas, mas em vez de ir para as empresas dos setores
dinâmicos, dos setores que concorrem em mercado, dos setores exportadores, vai para a contratação pública,…
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Oh!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — … vai para as empresas que se sabem mexer bem nos corredores do Estado e na contratação pública.
É uma escolha profundamente errada, Sr. Primeiro-Ministro, porque é uma visão profundamente clientelar…
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Clientelar?!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — … da economia e do que deve ser o desenvolvimento económico, mas que, aliás, é uma tradição quer em Portugal quer no Partido Socialista.
Esta escolha de não romper com esta tradição clientelar é uma escolha que me parece profundamente errada
e gostava de saber porque é que a fez.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Meireles, vou ser mesmo absolutamente telegráfico.
Primeira pergunta: não, não conhecia o despacho. Não, não dei nenhuma instrução para despacho.
Segundo tema: esse diploma não resultou de uma iniciativa do Governo, resultou de uma iniciativa
parlamentar e, portanto, o Governo respeita as iniciativas do Parlamento.
Em terceiro lugar, Sr.ª Deputada, de facto, seria tão disparatada, tão disparatada, tão disparatada, tão
disparatada essa visão dessas empresas do PRR que nem a mim me ocorreria. Portanto, de facto, não é isso
que está no PRR.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, pelo Grupo Parlamentar do PAN, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Inês de Sousa Real.
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo aqui presentes, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, ouvimos com atenção o Sr. Primeiro-Ministro e se há algo que, de facto, hoje
nos gera confusão não é aquilo que o Sr. Primeiro-Ministro avançou, mas aquilo que não referiu. É que pior do
que termos negacionismo é enfiar a cabeça na areia e fazer de conta que os problemas não existem.
Das prioridades que o Sr. Primeiro-Ministro enumerou algumas ficaram claramente de fora. Por exemplo, a
crise democrática é uma delas, sendo que a crise climática também esteve de forma manifestamente insuficiente
nas suas palavras.