22 DE JULHO DE 2021
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Gostaria de começar, precisamente, pelas dificuldades desta crise socioeconómica. Sr. Primeiro-Ministro
temos visto invocar a lei-travão para tudo o que possa justificar travar apoios sociais.
Portugal tem agora uma oportunidade única, que não pode desperdiçar, para utilizar os fundos europeus
para a retoma económica do País, o que significa apostarmos e investirmos nas áreas efetivamente
imprescindíveis e não mais do mesmo.
Se, de facto, até aqui as cativações eram a nova austeridade, a lei-travão, pelos vistos, veio substituí-las,
passando também a ser uma forma de austeridade e de travar os apoios sociais para quem mais precisa.
Por outro lado, Sr. Primeiro-Ministro, há algo no seu discurso que não podemos deixar de salientar: é que no
meio desta crise, do ponto de vista social, tivemos a igualdade de género a ficar para trás. Mais de 80% dos
apoios sociais foram requeridos pelas mulheres e o combate à violência doméstica, entre tantas outras formas
de violência, tem de ser uma prioridade para o País e não pode ficar completamente esquecida.
Há também responsabilidades laborais e na retoma da atividade, de forma sustentável e responsável, o que
implica que o Governo dê respostas progressivas e que, paulatinamente, não deixe cair os apoios do Estado.
Isto não pode ficar, de facto, para trás.
Por isso, faço-lhe uma pergunta muito clara: como pretende contornar a declaração de inconstitucionalidade
do Tribunal Constitucional para garantirmos que, efetivamente, há apoios que têm de ser dados a quem mais
precisa?
Em relação ainda ao combate à pobreza e exclusão social, Sr. Primeiro-Ministro, temos hoje cerca de dois
milhões de pessoas em Portugal a viver em pobreza energética. Continuamos a ter pessoas que não têm teto e
pessoas a viver em condições de habitabilidade absolutamente indignas. Mas chutar esta responsabilidade
meramente para a esfera das câmaras municipais não pode ser a resposta que o Governo tem a dar ao País.
Por isso, também, precisamos de saber qual o debate que pretende fazer, além das medidas que já enunciou,
além dos planos e programas que chutam, seja para 2023 ou 2024, estas respostas que são absolutamente
emergentes. Quando é que, efetivamente, poderemos ter um edificado público e um plano para, o mais cedo
possível, podermos tirar não só as pessoas em situação de sem-abrigo da rua, como também para as famílias
com rendimentos de nível médio ou até mesmo aqueles que empobreceram, e para que os mais de 400 000
desempregados que já temos, a este tempo, no nosso País, poderem ter, de facto, condições de acesso à
habitação, ao emprego e a outras questões de dignidade para as suas vidas?
Mas mais, Sr. Primeiro-Ministro: tivemos este ano uma das crises mais relevantes do ponto de vista do
respeito dos direitos humanos e não ouvimos uma palavra, sobretudo neste debate do estado da Nação, a este
respeito.
Lamentavelmente, a morte de Ihor Homeniuk foi uma mancha para o nosso País. Recentemente o
Russiagate, pôs em causa, com os dados transmitidos à Rússia, a privacidade dos ativistas e a sua segurança.
Mais recentemente soube-se do caso das mulheres ativistas que foram forçadas a despir-se para serem
revistadas pelos órgãos de polícia criminal. São casos absolutamente gritantes e, quanto a isso, gostaríamos de
perceber, Sr. Primeiro-Ministro, o que é que o seu Governo vai fazer para evitar casos lamentáveis como estes
que beliscam o papel que Portugal tem tido na defesa dos direitos humanos. O que vai ser feito nesta medida?
Relativamente à crise do nosso tempo, a crise climática, Sr. Primeiro-Ministro, não podemos esquecer-nos
de que os nossos governantes — e aqui apelo-vos diretamente — são talvez os últimos eleitos que têm,
efetivamente, a possibilidade de combater o ponto de não retorno.
As alterações climáticas não são uma miragem do futuro, são uma realidade do presente. Casos recentes,
como as cheias desta semana na Alemanha, na Bélgica, na Holanda, no Luxemburgo, também na Suíça, em
plena época estival, causando a morte de pelo menos 200 pessoas e o desaparecimento de tantas outras, não
são uma realidade que possa ser alheia a Portugal.
Mais, no Canadá, no início deste mês, chegaram a estar ativos 213 incêndios, como consequência do registo
de temperaturas anómalas a rondar os 50 º. Isto onde as temperaturas médias diárias rondavam, anteriormente,
os 20 º. Pelo menos uma pequena vila canadiana foi inteiramente consumida pelas chamas.
Sr. Primeiro-Ministro, este fenómeno dos incêndios extremos já marcou também o nosso País e foram
perdidas tantas vidas. Não são, infelizmente, fenómenos alheios a Portugal. Por isso, pergunto-lhe, Sr. Primeiro-
Ministro, nas prioridades que ainda há pouco referiu, o que é que vamos fazer para combater de uma vez por
todas e de forma eficaz os incêndios. Como vamos fazer a gestão florestal, que tanto tem tardado? Pergunto-