I SÉRIE — NÚMERO 90
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A primeira narrativa é a de que, vou chamar-lhe assim, «a minha austeridade é melhor do que a outra» e
corresponde a esta tese de que o Governo do Partido Socialista virou a página da austeridade e, por isso,
chegou ao primeiro superavit da história da democracia, frase que temo ir ouvir até ao fim dos meus dias. Não
se lembra, no entanto, de explicar como é que chegou a esse défice: não executando e cativando boa parte das
despesas e investimentos e batendo regularmente recordes de carga fiscal em anos sucessivos.
A segunda narrativa, a que vou chamar aqui «a culpa é do Passos», é dizer, cada vez que uma coisa está
mal, que, pelo menos no tempo da troica, estava pior. Para mim, é fraco consolo comparar a situação atual com
uma situação de crise que tivemos em 2011, em que os mercados financeiros estavam fechados, o BCE (Banco
Central Europeu) não interveio como agora, não havia taxas de juro praticamente negativas, estavam, sim, a
7%, e não havia regras flexibilizadas do défice. Dizer o contrário e comparar estas crises é uma forma de
desinformação.
A terceira narrativa, que já ouvi ser citada hoje, é a de que esta crise mostrou a falência do liberalismo,
esquecendo que foram os países liberais que melhor reagiram a esta crise, que menos caíram em termos de
crescimento económico,…
Risos do Deputado do PCP João Oliveira.
… que melhor acautelaram a saúde dos seus cidadãos, não deixando consultas e cirurgias em atraso como
nós fizemos, que tiveram um sistema educativo que reagiu melhor e não teve os atrasos de aprendizagem que
nós tivemos. Pretender dizer o contrário é uma forma de desinformação.
E trago estas coisas aqui hoje porque sei que todos sentem que há uma mudança de ciclo, certamente de
ciclo económico, porque vamos começar a retomar, certamente de ciclo social, porque a pandemia há de acabar,
mas o PS tem medo que corresponda também a um fim de ciclo político.
Protestos do Deputado do PS Porfírio Silva.
E, então, faz tudo para se agarrar e promove mais duas narrativas particularmente enganadoras e
desinformativas. A primeira é a de que o PS vai ser o campeão do desconfinamento. O Sr. Primeiro-Ministro
anunciou que, até ao fim do verão, vamos entrar em libertação total.
Protestos do Deputado do PS Porfírio Silva.
O partido que, durante meses, veio aqui à Assembleia da República defender estados de emergência com
poderes excessivos, desnecessários, limitadores das liberdades individuais e o partido que, mesmo depois dos
estados de emergência, continuou a aplicar medidas restritivas que ainda hoje não fazem sentido, em vez de
anunciar libertações imediatas para daqui a uma ou duas semanas, está a anunciá-las para provavelmente uma
ou duas semanas antes das eleições autárquicas. A esta narrativa eu chamaria «o eleitoralismo tem limites».
Uma segunda narrativa é a de que o PS vai ser o campeão do crescimento. É quase cómico que o partido
que há mais tempo governa em Portugal, durante um período em que Portugal foi ultrapassado sucessivamente
e entrou em declínio relativo em relação aos seus parceiros europeus, venha agora aqui arvorar-se em campeão
do crescimento. Isto quando, até ao final do primeiro trimestre e comparado com o final de 2019, o nosso PIB
caiu 11%, uma das taxas mais elevadas da Europa, e agora querem convencer-nos de que crescimentos, em
2021, de 4% e, para o ano, de 5%, e, depois, uma estabilização a 2%, vai ser um milagre económico. Não vai!
O que parece não é. O PS não é o campeão do crescimento. O PS é o campeão da estagnação.
Risos do Primeiro-Ministro.
Mas exatamente porque o crescimento económico é absolutamente fundamental para estarmos, daqui um
ou dois anos, a falar de um melhor estado da Nação, pergunto-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, se não acha melhor
que a máquina de propaganda do PS e o PS gastem menos tempo a construir estas narrativas e mais tempo a
tentar perceber porque é que Portugal não consegue crescer como os outros países. Isso, sim, poderia conduzir
a um melhor estado da Nação.