I SÉRIE — NÚMERO 2
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A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A água é suporte de vida. A sua imprescindibilidade levou as Nações Unidas a declarar o direito humano à água, considerando que a água
potável e limpa é determinante para a garantia e a concretização de todos os direitos humanos. Este recurso
vital é também fundamental para o desenvolvimento das atividades económicas.
As alterações climáticas que aí estão a impor-se, mesmo a quem as queira negar, implicam ameaças a vários
recursos naturais, mas sobretudo ao recurso água, principalmente no que se refere à sua escassez.
Existe, por isso, uma responsabilidade global de preservação do recurso água, o que requer medidas
eficazes para combater o seu desperdício e a poluição dos seus cursos, das nascentes ao momento em que
desaguam noutros rios ou no mar, atendendo ao ciclo da água e à sua utilização para os diferentes usos.
Constituindo-se um claro recurso estratégico, a gestão da água tem sido objeto do interesse do setor privado
com o objetivo à obtenção de lucros máximos, matéria que Os Verdes sempre recusaram, defendendo que esta
tem de ser assegurada na sua gestão pública, de modo a satisfazer as necessidades das populações e do País,
garantindo o acesso equitativo e racional da água, condição de desenvolvimento e de vida.
Para o Partido Ecologista Os Verdes, o recurso água deve ser reconhecido como um bem insubstituível, um
direito fundamental, inalienável da humanidade.
Sendo o setor agrícola o maior consumidor de água, seguido do setor urbano e, depois, do setor industrial,
deve ter-se em conta que a água pode ter parâmetros de qualidade diferentes para os seus diversos usos. Para
consumo humano, o nível de qualidade da água tem de ser muito superior ao da água para a indústria ou para
rega de jardins públicos.
Sr.as e Srs. Deputados, no ano de 2001 foi elaborada uma proposta de Programa Nacional para o Uso
Eficiente da Água (PNUEA), a partir de um estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), com o
apoio do Instituto Superior de Agronomia (ISA). Esse programa foi aprovado apenas em 2005, pela resolução
do Conselho de Ministros, estabelecendo medidas e metas a alcançar no prazo de 10 anos. Uma boa parte
desses objetivos não foram, claramente, cumpridos.
Em junho de 2012 foi lançado o Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água, com âmbito de
implementação de 2012 a 2020. Esse programa anunciava a intenção de, grosso modo, alcançar eficiência de
uso da água na ordem dos 80% no setor urbano, de 65% no setor agrícola e de 85% no setor industrial.
A verdade é que este Programa terminou em 2020. Estamos em 2021 e não se conhecem os seus resultados
nem lhe foi dada continuidade.
Tendo em conta o facto de estarmos a tratar de um recurso por demais importante, a água, e considerando
também ainda o elevado nível de perdas e de ausência de reaproveitamento da mesma, como por exemplo as
águas pluviais para usos específicos, o Partido Ecologista «Os Verdes» considera que não podemos passar por
esta questão «como cão por vinha vindimada».
O uso eficiente da água é de tal modo relevante, especialmente face à era de alterações climáticas que
atravessamos, que a programação específica do cumprimento deste desígnio tem de ser uma peça central.
Nesse sentido, Os Verdes apresentam hoje uma recomendação ao Governo para que este se comprometa
a apresentar ao Parlamento um balanço de implementação do Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água
2012-2020, de modo a aferir os níveis de cumprimento de cada uma das medidas e metas previstas no final do
seu período de vigência e a iniciar os procedimentos necessários para a elaboração de um novo Programa
Nacional para o Uso Eficiente da Água.
É que, Sr.as e Srs. Deputados, com a água não se brinca e ela, infelizmente, não cai do céu.
O Sr. Presidente (Fernando Negrão): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Nelson Silva, do PAN.
O Sr. Nelson Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Em menos de 7 anos, ao atual ritmo de emissões, iremos ter um aumento médio da temperatura global de 2 oC e o ponto de não retorno a partir do qual
o planeta entra num novo estado climático, um estado que, de acordo com os cientistas, irá provocar a redução
da precipitação, o aumento dos períodos de seca, desertificação, subida do nível do mar, com a submersão de
zonas costeiras, fenómenos climáticos extremos, como inundações e furacões e disseminação de doenças.