18 DE SETEMBRO DE 2021
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Muitas famílias que tiveram, e ainda têm, cortes nos seus rendimentos enfrentam aumentos nos seus
custos de energia.
Este tema não é novo e a proposta que trazemos também não. Já em 2011, o Bloco de Esquerda
apresentou um projeto de lei que pretendia introduzir medidas antiespeculativas e de transparência na
formação de preços. Na altura, a liberalização dos combustíveis mostrava os seus efeitos perversos sobre os
consumidores, fruto de um sistema de fixação de preços opaco e dominado pela especulação.
Há um problema de fundo, que tem a ver com o sistema internacional, profundamente cartelizado, e,
depois, outros problemas surgem: quando o preço do petróleo sobe, os preços de venda ao consumidor
sobem também, mas, quando os preços do petróleo descem, os preços de venda ao consumidor tarde ou
nunca se reduzem.
O Governo anunciou, portanto, que se iria propor legislação para conter a subida dos preços. Criou-se uma
expectativa. Mas, lida e analisada a proposta de lei que, hoje, está em discussão, cremos que esta ainda não
está à altura, porque, na verdade, a fixação de margens máximas, ao longo da cadeia de valor dos
combustíveis, pode não garantir que os preços de venda ao consumidor desçam. E, por isso, consideramos
que é uma proposta insuficiente, mas não impediremos o Governo de fazer uso de todos os instrumentos que
tem ao seu dispor.
Também por isso, defendemos a imposição de preços máximos de venda ao público que reflitam a
evolução do preço máximo do crude em vigor, na sua variação positiva ou negativa.
Por outro lado, acrescentamos medidas para impedir distorções do preço, evitando que o preço de uma
semana não possa ser superior a 102% da média dos preços das duas semanas anteriores.
É de salientar que os projetos do PCP e a proposta do Governo são omissos quanto ao estabelecimento de
taxas máximas de aumento dos preços ou quanto ao estabelecimento de margens máximas para as
gasolineiras, remetendo para as entidades competentes a responsabilidade de determinar os valores máximos
a aplicar.
Aquilo que consideramos é que devemos querer ir mais além e ter mecanismos mais transparentes para
que as empresas e a população saibam exatamente com o que podem contar a cada momento. É este o
sentido da proposta do Bloco de Esquerda.
Temos, hoje, também, projetos de lei do PCP que incidem sobre a fatura elétrica. Concordamos com a
desoneração fiscal, da parte da eletricidade proveniente de fontes renováveis, em sede de imposto sobre
produtos petrolíferos, tal como concordamos com a possibilidade de celebração de novos contratos no
mercado regulado, que, aliás, são medidas sensatas, embora possam ter um escasso impacto na fatura.
Quanto ao mais, o projeto do PCP limita-se a determinar a divulgação, pela ERSE, de informações sobre
os ganhos dos produtores de eletricidade. Ora, os ganhos abusivos das elétricas têm estado à vista de todos e
de todas, os aumentos já estão a acontecer e, portanto, parece-nos que ficar por pedidos de informação é
perder tempo para responder à bomba-relógio que temos, hoje, na fatura elétrica.
E já no presente ano, o Bloco de Esquerda trouxe, aqui, duas propostas, precisamente sobre os temas a
respeito dos quais se pretende, agora, recolher informação.
A primeira foi um projeto de lei, que, se aprovado, concretizaria uma medida recomendada, há mais de dois
anos, pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ao Pagamento de Rendas Excessivas, com o voto
favorável do PS, mas que o Governo, depois, recusou: a revisão da remuneração das centrais eólicas.
Em 2013, o Governo de Passos Coelho mudou as regras do jogo, a favor das empresas, oferecendo-lhes
um período adicional da remuneração elevada, em troca de uma modesta contribuição anual, paga entre 2013
e 2020. Consideramos que essa lei danosa deve ser revogada, devolvendo-se às empresas o que pagaram e
repondo a remuneração prevista na lei de 2005, que enquadrou os investimentos iniciais. Segundo os cálculos
aprovados pela mesma CPI, com esta reversão, os consumidores poupariam entre 1000 e 1500 milhões de
euros nos próximos anos. Mas o projeto de lei do Bloco foi chumbado pelo PS, pelo PSD e pelo CDS.
A segunda iniciativa do Bloco foi um projeto de resolução para a eliminação dos «lucros caídos do céu»,
auferidos pelas barragens. Aliás, uma medida em linha com a que o Governo socialista do Estado espanhol
acaba de aprovar, para eliminar o ganho das barragens equivalente aos custos das centrais térmicas com gás
e emissões de CO2. Esses ganhos são excessivos, pois as barragens, não tendo tais custos, são
remuneradas pelo mesmo preço. Mas também esta medida foi chumbada pelo PS, pelo CDS e pelo Chega,
com a abstenção do PSD.