18 DE SETEMBRO DE 2021
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Sim, os combustíveis pagam impostos altos!
Sim, temos as alterações climáticas aí à porta!
Não, o aumento do ISP não responde pela grande parte do aumento dos preços dos combustíveis!
Sim, as margens comerciais contribuíram quase tanto como os impostos para o aumento do preço dos
combustíveis!
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Quase tanto como os impostos?!…
O Sr. Miguel Matos (PS): — Isto conduz-nos a uma grande pergunta: então, o que vamos fazer? Alguns
dizem: «baixem o ISP». Ora, na gasolina, já se baixou o ISP para os níveis da neutralidade fiscal e, no
gasóleo, há um custo de 300 milhões de euros. Mas, então, quem paga? Quem paga somos todos nós,
mesmo aqueles que não usam carro particular. E pagam, sobretudo, as gerações mais jovens, a minha
geração, porque tiramos recursos da descarbonização para incentivar o consumo de combustíveis fósseis.
Outros, como o Governo, dizem: «regule-se o mercado». E aí, quem paga, quando se regula o mercado?
Pagam as petrolíferas, pagam as gasolineiras, com um limite ao seu lucro por extraírem algo que nos faz mal.
Como propõem o PCP e o Bloco de Esquerda, podemos, de facto, impor preços máximos, ou, como
propõe o Governo, podemos limitar as margens. Sejamos sinceros, vai dar ao mesmo. Só que limitar margens
dispensa que todos os dias se atualizem preços máximos para refletir as mudanças diárias dos preços de
referência ou, pior, que nos esqueçamos de mudar os preços máximos e tenhamos de indemnizar, como
acontece em Espanha, com o gás, as petrolíferas e as gasolineiras.
Por isso, o que faz sentido é regularmos as margens.
O PCP também traz a esta Casa uma proposta de alívio fiscal sobre a eletricidade renovável. É um bom
princípio e, neste momento, a eletricidade não renovável já paga mais impostos, nomeadamente taxa de
carbono. Mas a solução que traz é inócua, porque, na verdade, cria um sistema muito caro de administrar, a
troco de uma poupança de 1 € ou 2 € para o conjunto das famílias.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O preço dos combustíveis tem, de facto, aumentado, e tem
acontecido em toda a Europa.
Em 2019, como em 2015, tínhamos o nono preço mais caro de gasóleo e o sexto preço mais caro de
gasolina.
Ora, coerentes com o desígnio climático e com a justiça social, vamos intervir sem medo nas margens.
Assim, e só assim, faremos deste um tempo de agir por preços mais justos.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, pelo PAN, o Sr. Deputado Nelson Silva.
O Sr. Nelson Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: É, no mínimo, curioso, e não posso
deixar de o relembrar, que o PSD venha aqui falar em proteger os consumidores do aumento do preço dos
combustíveis em catadupa.
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Claro!
O Sr. Nelson Silva (PAN): — Devo relembrar algo que, quando eu andava na universidade, me deixou
bastante frustrado, que foi o Governo de 2004 decidir liberalizar os preços dos combustíveis em Portugal.
Devo relembrar que, em 2004, foi o Sr. Primeiro-Ministro Durão Barroso que o fez. Foi o vosso Governo que
começou esta ascendência em catadupa.
Por isso, se vamos falar de história, ao menos que falemos de história relevante para o caso que temos em
apreço.
O PAN, de facto, acompanha esta proposta do Governo, lamentando, contudo, que não seja mais
ambiciosa e mais transparente.
Mais ambiciosa, porque se trata de um regime meramente excecional.