I SÉRIE — NÚMERO 3
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O mercado de combustíveis é um oligopólio e cabe ao Estado intervir para garantir que as empresas não
recebem um lucro anormal, como se diz em linguagem económica, um lucro excessivo, lesando os
consumidores, em linguagem comum. Desafiamos, assim, o Governo a alterar o regime regulatório e a garantir
que as gasolineiras apenas recebem aquilo a que têm direito.
Mais transparente, por outro lado, porque em lado nenhum são definidas as margens de lucro máximas,
cuja definição é remetida para portaria, à margem do escrutínio deste Parlamento. Lembramos ao Governo
que deve verificar as taxas de rentabilidade no mercado, que, tipicamente, rondam os 8%, e não podemos
deixar de perguntar ao Governo qual o valor que tem em mente.
Não acompanhamos os projetos de lei do PCP e do Bloco de Esquerda, que pretendem estabelecer preços
máximos, uma vez que esquecem que as cotações no mercado internacional se alteram diariamente.
Revisitamos e acompanhamos a desoneração fiscal da energia produzida a partir de fontes renováveis.
Não acompanhamos a iniciativa do CDS-PP, porque contraria os incentivos à transição para as energias
renováveis.
Por fim, não podemos deixar de salientar que, ao invés de estarmos hoje, aqui, a discutir os valores de
transação dos combustíveis fósseis, preferíamos estar a ter um debate sobre a melhoria dos transportes
públicos, que continua a não existir na vida das pessoas, que, infelizmente, por não terem transportes
coletivos em quantidade e qualidade, continuam a ter de utilizar o transporte individual, que tanto contribui
para a emissão de gases com efeito estufa e para a degradação da qualidade do ar, responsável por 7000
mortes anuais em Portugal.
É este debate estruturante que é urgente que este Parlamento tenha e relativamente ao qual o PAN lança,
desde já, o repto ao Governo.
Aplausos do PAN.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do Partido
Ecologista «Os Verdes».
O Sr. José Luís Ferreira (PEV): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:
Relativamente a esta proposta que o Governo hoje nos traz para discussão, através da qual pretende criar a
possibilidade de fixação de margens máximas de comercialização para os combustíveis simples, importa dizer
o seguinte: como o próprio Governo refere na exposição de motivos que acompanha a proposta de lei, a
diminuição da procura de produtos petrolíferos no mercado mundial provocou uma quebra abrupta da sua
cotação no mercado e, consequentemente, dos preços de referência no nosso País.
Sucede que, ao contrário daquilo que se verifica sempre que há uma subida da cotação no mercado dos
produtos petrolíferos, em que os portugueses, de forma quase automática e instantânea, se veem obrigados a
pagar mais pelos combustíveis, desta vez, e das outras, aliás, em situações semelhantes, a quebra da sua
cotação no mercado não se fez sentir no bolso dos portugueses. Ou seja, a regra só funciona quando é para
pagar mais, quando é para pagar menos parece que a regra não funciona. Ora, a nosso ver, esta situação é
absolutamente inadmissível e exige a consagração de mecanismos legais que impeçam estes abusos
absolutamente imorais.
Portanto, na perspetiva do Partido Ecologista «Os Verdes», o que se impõe é a criação de mecanismos
adequados que se mostrem capazes de evitar o aumento dos preços especulativos dos combustíveis, que
tanto tem penalizado as famílias, mas também as empresas, sobretudo as micro, pequenas e médias
empresas, que, aliás, já suportam a fatura mais alta da Europa.
Com efeito, os preços especulativos dos combustíveis provocam consequências muito negativas nos
contribuintes, e a dois níveis, ou, melhor, em dose dupla: por um lado, porque os contribuintes pagam mais
pelo combustível de cada vez que vão abastecer e, por outro, porque acabam por suportar a inflação que os
bens de consumo sofrem, devido ao aumento dos custos de produção, já que estes aumentos se refletem,
invariavelmente, no consumidor final. Consequências, também, na frágil saúde das nossas empresas,
sobretudo das pequenas, uma vez que as empresas são confrontadas com mais dificuldades para poderem
competir com os fornecedores das importações, o que, naturalmente, penaliza a nossa produção, a produção
nacional, e, consequentemente, também, a economia do País.