I SÉRIE — NÚMERO 12
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O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Esta linguagem é inaceitável!
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Vamos passar ao segundo ponto da nossa ordem de trabalhos, que consiste na apreciação do Inquérito Parlamentar n.º 8/XIV/2.ª (CH) — Constituição de uma comissão
parlamentar de inquérito à atuação do Ministério da Administração Interna e das forças sob a sua tutela no
caso do acidente de viação que, envolvendo a viatura oficial do Ministro Eduardo Cabrita, atropelou
mortalmente um trabalhador na autoestrada A6.
Para apresentar esta proposta, tem a palavra o Sr. Deputado André Ventura.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A proposta que aqui trazemos não é para investigar nenhum eventual crime rodoviário que tenha ocorrido na A6, nem sequer as circunstâncias dolosas
ou menos dolosas que o acidente com o Ministro Eduardo Cabrita revelaram.
Esta comissão parlamentar de inquérito visa, isso sim, apurar se houve ou não abuso de poder, quebra da
separação de poderes e interferência abusiva nas várias instituições do Estado por parte do Ministério da
Administração Interna.
Recordemos os factos.
Disse o Ministro que não havia sinalização na estrada em que seguia, notícia desmentida pela Brisa-
Autoestradas de Portugal, uns dias depois.
A assistência demorou mais de uma hora a chegar ao local do acidente que vitimou um trabalhador, em
cujo funeral nem sequer o Estado esteve representado.
A distância do local onde estava a viatura médica era de 13,4 km e a assistência demorou uma hora a
chegar ao local.
O Hospital do Espírito Santo, em Évora, dista 13 km do local do acidente.
Os médicos, contactados pela comunicação social, levantaram a questão de saber se teriam sido
manipulados — repito, manipulados! — os sistemas de proteção civil, como já tinha acontecido em incêndios
no ano passado, em que foram manipulados os dados do sistema de proteção civil.
A GNR (Guarda Nacional Republicana), segundo notícias que aqui temos e que todo o País viu, diz que
foram impedidos de fazer perícias ao carro do Ministro Eduardo Cabrita.
Foi notícia em toda a comunicação social um Parlamento que passou ao lado de algo tão grave como o
Ministro da Administração Interna ter o poder de, eventualmente, impedir perícias ao carro envolvido no
acidente. É o grau zero da impunidade e do sistema em Portugal.
O que aqui pedimos hoje é uma investigação séria a um Ministro que nunca quis falar, uma investigação
séria a um Ministro que se recusou, por força do segredo de justiça, a falar sobre um caso que o envolvia e
que envolvia um veículo do Estado, que, aparentemente, tinha pertencido a um traficante de droga.
O que hoje este Parlamento deve pensar e ponderar é se pode permitir que um Ministro, impunemente,
comente todos os casos que lhe passam pela cabeça mas se recuse a falar do seu, que envolveu um veículo
do Estado, pago com o dinheiro do Estado e dos contribuintes, sustentado pelos nossos impostos, envolvido
num acidente terrível que vitimou uma pessoa, um trabalhador, em Portugal.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. André Ventura (CH): — Vou terminar, Sr. Presidente. Hoje, o que está em causa nesta investigação é perfeitamente identificável: abuso de poder, interferência
abusiva e uma quebra intolerável das instituições e dos seus deveres.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Passamos ao debate desta proposta, cuja primeira intervenção cabe ao Sr. Deputado Carlos Peixoto, do PSD.
Tem a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Peixoto (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Penso que não há ninguém, cá dentro e lá fora, que não lamente este acidente que envolveu o carro do Ministro da Administração Interna,
que foi com certeza involuntário e, por isso, deve estar à margem de qualquer confrontação política.