I SÉRIE — NÚMERO 15
72
momento em que ocorre, é incontornavelmente associada a esses factos, criando uma perceção de punição
que envolve o SEF enquanto instituição e todos os seus profissionais.
A opção de extinguir o SEF e de distribuir as suas funções policiais pela PJ (Polícia Judiciária), pela PSP
(Polícia de Segurança Pública) e pela GNR, com a consequente distribuição dos seus elementos por forças de
segurança com natureza, atribuições e estatutos muito distintos, não será certamente isenta de problemas. Até
ao momento, não se conhecem os critérios a seguir nessa operação complexa, nem o tempo e o modo como
se irá processar.
Esta situação de indefinição, que certamente se prolongará no tempo, implicará forçosamente uma
situação de instabilidade que não é desejável e que é suscetível de criar dificuldades em matéria de segurança
interna que bem poderiam ser evitadas.
Acresce que a transferência de competências administrativas para o Instituto dos Registos e Notariado
(IRN) não será isenta de problemas, sendo reconhecida a manifesta carência de recursos humanos desse
Instituto, que se traduz já hoje em atrasos inaceitáveis e em enormes transtornos para os cidadãos.
Ao longo deste processo legislativo, foram recebidos diversos pareceres e opiniões contendo críticas
contundentes a este processo de extinção do SEF. Todos os sindicatos do SEF, bem como todos os
sindicatos da área dos registos e notariado criticaram esta medida, no que foram acompanhados pela
generalidade dos antigos governantes da área da Administração Interna, que entenderam pronunciar-se
publicamente, e por fortes preocupações manifestadas por órgãos e estruturas na área da justiça, bem como
por outras personalidades com funções presentes e passadas com ligação direta ou indireta à matéria da
segurança. Tudo foi ignorado.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Na especialidade, o PCP votou favoravelmente as disposições que visam a salvaguarda dos direitos adquiridos pelos atuais profissionais do SEF e que visam garantir os direitos
fundamentais dos cidadãos estrangeiros, imigrantes ou requerentes de asilo, na sua relação com as forças de
segurança que venham a ocupar-se dos seus processos.
Contudo, a opção fundamental resultante deste processo legislativo, que é a extinção do SEF, conta com a
discordância do PCP, que a considera injustificada, precipitada e que pode ter consequências negativas, tanto
ao nível da segurança interna como para os profissionais envolvidos e para os próprios cidadãos estrangeiros.
Aplausos do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Beatriz Gomes Dias, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Beatriz Gomes Dias (BE): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Este processo de separação orgânica das funções policiais e das funções administrativas do SEF acaba com o anacronismo da
existência de uma polícia exclusivamente para estrangeiros.
Este é um passo necessário e um avanço significativo na construção de maior justiça e equidade. Migrar
não é um caso de polícia. Migrar não é um crime. Migrar é um direito e tem de ser protegido.
Sr.as Deputadas, Srs. Deputados: Estivemos neste processo com grande responsabilidade. Assumimos a
defesa intransigente dos direitos das pessoas migrantes a serviços públicos de qualidade, com respeito pela
sua dignidade, adequado às suas necessidades.
Com a iniciativa do Bloco de Esquerda, foi possível aprovar a criação da Agência para as Migrações e Asilo
(APMA), que promove um serviço público que não discrimina, com atendimento humanista e robusto, e o
apoio às pessoas migrantes e em situação de refúgio nas zonas internacionais, assegurando apoio jurídico,
humanitário, linguístico, médico e psicológico.
Com estas medidas, promovemos avanços significativos na política de acolhimento, eliminando a ligação
iníqua entre migrações e riscos para a segurança interna.
Neste processo, assumimos também a responsabilidade de defender os direitos das pessoas que
trabalham no SEF quando mais nenhum outro partido o fez.