I SÉRIE — NÚMERO 16
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Caso se venha a confirmar o chumbo deste Orçamento graças à irresponsabilidade de forças políticas aqui
presentes, existem avanços que o PAN já conquistou, ou que tinha boas hipóteses de conquistar, que caem por
terra. Porque é disso que estamos a falar: de não discutir o Orçamento do Estado em sede de especialidade.
Começo pelo combate à pobreza energética, que afeta 20% da população nacional, obrigada a escolher
entre comer ou passar frio. Uma em cada cinco pessoas tem de fazer esta escolha no nosso País. E estes
pacotes, que o PAN vai apresentar em sede de especialidade e que já apresentou ao Governo não vão acontecer
graças à irresponsabilidade de forças políticas aqui presentes.
Saliento, também, o apoio ao uso de transporte coletivo, aparentemente uma prioridade para algumas destas
forças políticas. Finalmente, neste Orçamento, queríamos conseguir um reforço significativo das verbas
alocadas ao aumento e diversificação da oferta do transporte público. Graças à irresponsabilidade destas forças
políticas, isto não vai acontecer.
Não posso deixar, também, de reforçar a aposta do PAN em que se taxe o carbono e não as pessoas.
Pretendíamos, neste Orçamento, ir mais longe do que a proposta do Governo e reduzir, adicionalmente, num
ponto percentual, o IRS da classe média entre os 3.º e 7.º escalões. Graças à irresponsabilidade de alguns
partidos, tal não vai acontecer.
Se a proposta de Orçamento do Estado é perfeita? Não, não tem nada a ver com isso. Mas, por força destes
calculismos partidários, nenhum destes avanços poderá melhorar este Orçamento do Estado, e isso é a
demissão da responsabilidade enquanto representantes das pessoas deste País. E isso o PAN não vai fazer!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Demagogo!
O Sr. João Oliveira (PCP): — O PS é pobre e mal-agradecido. Está o rapaz a fazer aquela figura e, depois, nem umas palmas batem!
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem a palavra, para um pedido de esclarecimento, a Sr.ª Deputada Mariana Silva, do PEV.
A Sr.ª Mariana Silva (PEV): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. Primeiro-Ministro, quantas vezes ouvimos falar, no último mês, das alterações climáticas? Quantas vezes
ouvimos falar, no último ano, do perigo que representam e da necessidade de encontrar estratégias para as
mitigar, das chuvas diluviais, dos incêndios florestais de dimensão brutal, dos fenómenos extremos que têm sido
cada vez menos esporádicos e raros?
Setores cada vez mais amplos da sociedade ganham consciência da dimensão do perigo e da necessidade
de lhe dar respostas. Mesmo sem alimentar projeções fatalistas, é necessário dar passos na boa direção.
Alguns dos que referem mil vezes que é preciso ouvir os cientistas fazem ouvidos moucos aos alertas do
painel de cientistas da ONU (Organização das Nações Unidas), que nos apontam a necessidade de tomar
medidas. Quantos mais estudos e projeções serão necessários para abrirmos os olhos?
O Ministro do Ambiente foi à COP25 (25th Conference of the Parties to the United Nations Framework
Convention on Climate Change), há dois anos, dizer que Portugal dava cartas nessa matéria, e que regressaria
rapidamente ao lugar destacado no índice de desempenho das alterações climáticas.
De então para cá, o que vimos?
Nós dizemos o que todos vimos! Vimos o apoio crescente à agricultura superintensiva e ao seu manto de
consumos excessivos de água, de pesticidas, de fertilizantes químicos, de fitofármacos. Nem o drama que, por
causa da COVID-19, envergonhou o País, expondo as indignas condições de vida de milhares de migrantes
quase escravos, em que assentam essas explorações, fez o Governo mudar de rumo.
Foi por isso que propusemos ao Governo o apoio reforçado à agricultura familiar, adequando as suas
contribuições para a segurança social aos seus parcos rendimentos ou estabelecendo uma estratégia de
abastecimento das cantinas públicas por produtos oriundos deste tipo de agricultura.
O Governo enche muitas vezes a boca com a defesa da pequena e média agricultura, mas nem esta segunda
proposta, que não tem impactos orçamentais, quis aceitar.
Vemos, todos vemos, a obsessão com a exploração garimpeira de lítio, anunciando o esventrar de zonas
das mais equilibradas e com importante biodiversidade do nosso País e fazendo ouvidos moucos à voz e à