27 DE OUTUBRO DE 2021
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desde o início deste ciclo político, prevê o aumento extraordinário das pensões, abrangendo as pensões acima
dos 658 € até aos 1097 €, conta com voto contra do Bloco de Esquerda, do PCP e do PEV.
Este é também o Orçamento que prevê o maior aumento de sempre do abono de família, uma medida
altamente eficaz no combate à pobreza infantil e juvenil. Mas, apesar disso, tem o voto contra anunciado pelo
Bloco de Esquerda, pelo PCP e pelo PEV.
Também em matéria de IRS, apesar dos dois novos escalões, apesar de o IRS Jovem ser alargado, apesar
do aumento das deduções por filhos, este Orçamento conta com o anunciado voto contra do Bloco de Esquerda,
do PCP e do PEV.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. João Paulo Correia (PS): — Vou terminar, Sr. Presidente. Pergunto-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, se este Orçamento traz, ou não, avanços significativos nas áreas
prioritárias que fizeram sempre parte da agenda central dos tradicionais parceiros parlamentares, o Bloco de
Esquerda, o PCP e o PEV.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Tem agora a palavra o Sr. Deputado José Soeiro, do BE, para pedir esclarecimentos.
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, um dos instrumentos mais fortes de precarização do trabalho tem a ver com a facilidade dos despedimentos baratos e
com a chantagem que leva trabalhadores com direitos a aceitarem rescisões para depois serem substituídos
por trabalhadores precários.
A nossa proposta é simples: retomar o valor das compensações por despedimento que existia no Código do
Trabalho de Vieira da Silva, ou seja, 30 dias por cada ano de trabalho. Era uma lei do Partido Socialista.
O Sr. Primeiro-Ministro não esteve, até hoje, disponível para anular este corte da troica e voltar ao Código
do Trabalho do Partido Socialista de 2009. O Governo tentou desviar o debate para as compensações sobre os
contratos a prazo, que é outro tema, e que, aliás, é outro artigo do Código do Trabalho. Sobre as compensações
por despedimento não aceitou, sequer, discutir.
Como sinal de boa vontade negocial, e ao contrário do que disse o Sr. Primeiro-Ministro, já no ano passado
o Bloco abriu a porta para que, pelo menos — repito, pelo menos! — se recuperassem os 20 dias, em vez dos
atuais 12 dias. Os 20 dias eram a compensação que estava prevista no Memorando da troica, ao passo que os
12 dias que hoje existem são resultado do extremismo do PSD e do CDS, que foram além da troica. Mas nem
a esses 20 dias do Memorando o Primeiro-Ministro aceita voltar.
Quando a direita, indo além da troica, aprovou os 12 dias de compensação, disse, neste Plenário, o então
Deputado Vieira da Silva: «Os Srs. Deputados da maioria…» — na altura havia uma maioria de direita — «…
sabem perfeitamente que esta nova redução não foi uma exigência dos parceiros sociais, tal como ouviram dizer
que o estudo que fundamentou esta nova redução não tem nenhuma solidez nem credibilidade técnica e
política».
Em nome do Partido Socialista, Vieira da Silva disse, então, aos Deputados da direita: «Não souberam
defender os interesses de Portugal, que passavam por não introduzir mais este fator de perturbação nas nossas
relações laborais. Este é o vosso projeto,…» — o da direita! — «… este é o vosso caminho, e neste caminho e
neste projeto, meus senhores, não estão acompanhados por nós».
A proposta que apresentamos é a proposta do Partido Socialista. Difícil é perceber por que razão tal proposta,
defendida por Vieira da Silva em junho de 2013, neste Parlamento, haveria de ser agora considerada por António
Costa como tão radical e tão inaceitável que valeria para o Sr. Primeiro-Ministro uma crise política.
Está nas suas mãos — ainda! —, Sr. Primeiro Ministro, evitar essa crise. Basta abandonar a obsessão com
a manutenção destas regras iníquas do PSD e do CDS, em vez de querer gravá-las na pedra e forçar a esquerda
a engoli-las contra o mandato que nos elegeu.