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I SÉRIE — NÚMERO 18

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E se hoje, no nosso País, tal como um pouco por todo o mundo, tantas pessoas enfrentam todo o tipo de

dificuldades socioeconómicas no que respeita à crise das nossas vidas, não podemos continuar a ignorar o

«elefante na sala»: a crise climática e as alterações daí decorrentes.

Neste momento, em Glasgow, decorre a COP26, a 20.ª conferência das Nações Unidas sobre mudanças

climáticas. Uma conferência que é decisiva para o nosso futuro enquanto humanidade e onde Portugal marca

presença, apesar das palavras pouco encorajadoras que já ouvimos do Ministro do Ambiente e da

incompreensível ausência do Primeiro-Ministro, que não deixam grande esperança de que este assunto seja

levado a sério no nosso País.

Não se compreende, de facto, que o Primeiro-Ministro não tenha disponibilidade para participar na COP26,

porque o combate às alterações climáticas e a descarbonização não podem continuar a ser meros chavões

nos discursos políticos, sobretudo num País onde não há a coragem para enfrentar os interesses daqueles

que continuam a enriquecer à custa da destruição da nossa qualidade de vida e dos habitats do planeta.

Para o PAN não só temos de estar na COP26 como temos de levar connosco as preocupações legítimas

da sociedade portuguesa, tendo em conta, precisamente, que o nosso País é um dos países europeus que

mais vai sofrer, e já sofre, com os efeitos da vulnerabilidade decorrente das alterações climáticas.

É neste ponto em que estamos enquanto nos distraímos com intrigas e jogatanas políticas que são

totalmente inúteis para as gerações atuais e futuras. Aliás, vamos estar, nos próximos meses, envolvidos

numa crise política e orçamental sem com isso fazer um debate estrutural sobre este tema.

E mais: há anos que o PAN vem trazendo este tema a debate político e que temos encontrado pela frente o

desinteresse, a falta de sensibilidade e até o desprezo, por parte de muitos nesta Casa, que não deixam

avançar as respostas necessárias para mitigar e assegurar a adaptação do território aos impactos das

alterações climáticas, permitindo que alguns setores continuem intocáveis, como é o caso da pecuária

intensiva e superintensiva, uma atividade reconhecida pela ONU (Organização das Nações Unidas), pelos

cientistas e até pelos economistas como um dos maiores responsáveis pelos mais graves problemas

humanos, ecológicos e até de bem-estar animal.

E, Sr.as e Srs. Deputados, a atitude de inércia, e até de negacionismo, em face da emergência climática há

muito que não serve as gerações presentes e vindouras.

Como ainda ontem referia uma jovem ativista chilena na COP26, o mundo não está mal porque houve uma

pandemia, há pandemias porque o mundo está mal. E é precisamente por isso que temos de ter um

compromisso político efetivo e ações políticas eficientes no que respeita à crise climática, o que não se faz

com mais do mesmo ou com meras proclamações.

É preciso e é urgente cuidar do planeta. É urgente garantir que a suposta normalidade pela qual todas e

todos ansiamos não se traduz na perpetuação de opções políticas desastrosas, como a construção do

aeroporto do Montijo, de condomínios de luxo em plena duna primária ou de centros comerciais em zonas

húmidas de interesse comunitário, que mais não fazem do que destruir habitats e ecossistemas únicos, ou

ainda na perpetuação de borlas fiscais à indústria poluente.

Não podemos continuar a ignorar que, pedaço a pedaço, estamos a vender o País por meia dúzia de

patacas. E qual é a consequência disto? A agravante de contribuir para a destruição do nosso património

natural, agravar os fenómenos climáticos extremos, que se vão fazer sentir em diferentes áreas do território,

como sendo a subida do nível do mar, a submersão de extensas áreas do nosso litoral ou fenómenos

meteorológicos extremos que vão devastar toda a paisagem, que vão pôr em causa a agricultura, habitações e

infraestruturas.

Assim como não podemos ignorar que estas opções não geram riqueza para o País, servem apenas os

bolsos de alguns, e que, menos ainda, criam postos de trabalho duradouros, como podiam ser criados através

do empreendedorismo verde.

Estamos precisamente a menos de sete anos do ponto de não-retorno, à beira do precipício, sem nada

fazer para voltar atrás. Não é à toa que os jovens se organizam em manifestações e greves climáticas, em

Portugal e pelo mundo inteiro. Não é por acaso que olham para nós com uma sensação de impotência e, cada

vez mais, com desprezo e com descrença total na classe política. É porque sabem que está, e deve estar, nas

nossas mãos tomar decisões que mudem o cenário que criámos e que não podemos continuar a alimentar.

De que valem os estudos, os planos estratégicos, se, no momento de decidir e no momento de permitir que

se invista, tudo não passa do blá-blá-blá do costume, como dizem os nossos jovens. O blá-blá-blá de que os