I SÉRIE — NÚMERO 19
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O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado João Cotrim de Figueiredo, do Iniciativa Liberal.
O Sr. João Cotrim de Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Encerramos hoje, nesta Câmara, o processo de despenalização da eutanásia. É o culminar de um processo que originou um debate
profundo, participado e ponderado na sociedade portuguesa, um debate cuja profundidade corresponde à
importância e à seriedade da matéria em causa.
O Iniciativa Liberal, em coerência com o seu programa, é um dos autores da proposta de alteração ao
decreto que aqui, hoje, discutimos e que consideramos responder às questões levantadas pelo Tribunal
Constitucional. Esta redação muito deve aos contributos que numerosas associações e numerosos cidadãos
deram ao processo legislativo e também à colaboração construtiva que os partidos proponentes souberam
estabelecer entre si. A todos, e permitam-me que particularize a Sr.ª Deputada Isabel Moreira, agradecemos
reconhecidamente.
Conforme aqui referi aquando da discussão na generalidade, ninguém negará a sensibilidade com que
devemos abordar este assunto. Não é fácil confrontarmo-nos com a nossa finitude. Não é fácil falar sobre o
fim. Mas a decisão do fim deve ser nossa, porque a vida, do início até esse fim, é aquilo em que acreditamos e
aquilo que fazemos, de forma livre, informada e consciente. As decisões sobre para onde ir e com quem ir são
nossas, as decisões sobre as lutas que travamos e sobre os desfechos que escolhemos são nossas. Só nós
poderemos saber e, por isso, até ao último momento, ninguém pode, ninguém devia poder decidir a nossa vida
por nós.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada não inscrita Joacine Katar Moreira.
A Sr.ª Joacine Katar Moreira (N insc): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A defesa de uma existência, de uma vida digna, tem de ter em conta, necessariamente, a defesa de uma morte igualmente
digna.
A despenalização da morte medicamente assistida é um marco civilizacional de profundo respeito pela
liberdade humana.
Não há tempo marcado para a defesa dos direitos e da dignidade humana. Todos os tempos contam, todos
os minutos contam para as pessoas em sofrimento intolerável. E esta lei não chegou a tempo para muita
gente, mas chegará, certamente, a tempo para muitas mais pessoas.
Foi com orgulho que integrei esta discussão importantíssima — e que, neste momento, tem uma urgência
alta — pela liberdade humana e pela dignidade que todos os indivíduos merecem.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado André Ventura, do Chega.
O Sr. André Ventura (CH): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: É vergonhoso estarmos a discutir este assunto quando o Parlamento está prestes a mudar de maioria. Aliás, a pressa é tão significativa do
receio de que um novo Parlamento venha para discutir este assunto que querem aprová-lo «às três
pancadas», sem que as entidades possam ouvir o texto final que hoje chega aqui, a este Plenário.
Sim, é importante que os portugueses saibam que o texto final que estará em votação amanhã não foi
objeto de audição por parte de muitas das entidades que deveriam ter sido ouvidas. E a razão é apenas uma:
é que a esquerda e a extrema-esquerda têm medo de que um novo Parlamento venha mudar a composição
que atualmente tem para fazer esta alteração.
Durante a pandemia, deixámos tanta gente para trás. Onde é que estão as 800 camas de cuidados
paliativos que tinham prometido? Onde é que está o reforço de cuidados médicos do fim de vida que António
Costa tinha prometido em 2015 e 2016?
A Sr.ª Maria Antónia de Almeida Santos (PS): — O que é que isso tem a ver?!