I SÉRIE — NÚMERO 34
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O Sr. Bruno Dias (PCP): — Mentiroso!
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.
O Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Cotrim de Figueiredo, também estou de acordo com V. Ex.ª quando diz que não basta ficar pelas palavras e que é preciso
agir. Mas, em todos os exemplos que deu, eu vi e vejo a ação da União Europeia.
Agimos aquando da anexação da Crimeia, aliás, fizemos sanções, essas também bastante poderosas,
incluindo sobre as nossas próprias economias; agimos aquando da guerra híbrida no Donbass; estamos a agir
agora, como tínhamos agido antes, aquando da guerra da invasão da Geórgia, e assim sucessivamente.
A questão, talvez, esteja na forma da ação. Pareceu-me ouvir ao Sr. Deputado a tese de que deveríamos
seguir o processo «dente por dente», ou seja, se Putin escala militarmente, também devemos escalar
militarmente.
A dissuasão não é bem isso. A dissuasão é termos e mostrarmos as nossas próprias capacidades de defesa,
mas mantermo-nos no registo de defesa que é nosso. Não somos agressivos, não somos ofensivos, não
privilegiamos a via militar sobre a via política. Também na nossa reação seguimos estes princípios.
Julgo que esses princípios são os mais adequados.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para terminar o debate, haverá duas intervenções da parte do Grupo Parlamentar do PS.
Em primeiro lugar, tem a palavra o Sr. Deputado Capoulas Santos para formular uma pergunta.
O Sr. Luís Capoulas Santos (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Sr. Secretário de Estado, Sr.as e Srs. Deputados, este debate, que está prestes a terminar, sobre uma crise que
representa a maior ameaça à paz mundial a que assistimos desde o pós-guerra, como já foi dito, confirmou que
existe um amplo consenso na sociedade portuguesa e nas suas instituições políticas relativamente à
condenação, sem qualquer contemplação, das autoridades russas pela sua exclusiva responsabilidade no
presente conflito.
Não há nenhum argumento histórico, recente ou remoto, que possa justificar o uso da força para alterar
fronteiras internacionalmente reconhecidas e pôr em causa a integridade territorial e a soberania de um país
independente.
Está em risco o direito internacional, a segurança europeia e a própria paz mundial, porque os esforços
diplomáticos a todos os níveis, por mais quixotescos que possam parecer neste momento, têm de ser
prosseguidos, sem desfalecimento, de forma a reduzir a tensão e a minimizar tanto quanto possível as
consequências económicas e sociais, de dimensão imprevisível.
Gostaria, por isso, de aplaudir a forma como as instituições europeias — em particular, com a formação do
Conselho de que o Sr. Ministro faz parte — têm vindo a reagir à situação criada pela Rússia, isto é, com firmeza,
mas com prudência e com o gradualismo que as circunstâncias exigem.
A unidade dos 27 até agora demonstrada, que é sempre tão difícil de alcançar, mesmo em matérias
relevantes, e a boa articulação da União Europeia com os nossos aliados extracomunitários, além de confirmar
a gravidade da situação, são um sinal de responsabilidade e de afirmação do projeto europeu, o que nos dá
confiança para o futuro.
No preciso momento em que começamos a vislumbrar a vitória sobre a maior pandemia do último século,
em que a generalidade dos indicadores económicos nos dá sinais positivos de recuperação e em que todos os
esforços à escala global deveriam estar concentrados no maior desafio que se coloca à humanidade, o das
alterações climáticas, do que a Europa e o mundo menos necessitam é da abertura de um confronto de grandes
proporções, que só pode provocar retrocesso civilizacional e um inútil e incomensurável sofrimento humano.
Até há poucas horas, tinha várias questões concretas para lhe colocar sobre os vários cenários que poderiam
ocorrer, para tentar encontrar uma solução para o problema ucraniano. Contudo, os últimos acontecimentos
revelam que estamos perante um perigoso afloramento de um desígnio mais vasto da liderança russa que põe