21 DE SETEMBRO DE 2023
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milhões de euros de receita para o Estado; no entanto, os impostos sobre as empresas — o IRC — valem
menos de um terço desse valor.
Mesmo dentro dos impostos para as empresas, basta olhar para o que paga a elite económica e para o que
pagam as pequenas e médias empresas. Veja-se o exemplo do que pagaram os bancos, e eu vou relembrar
os valores. Quinze mil milhões de euros foi o que foi pago por todos os trabalhadores, e os bancos, que estão
a apresentar lucros de milhares de milhões de euros, pagaram de IRC, no último exercício fiscal conhecido,
125 milhões de euros.
Creio que só estes números demonstram como o nosso sistema fiscal é absolutamente injusto, mas há
outras realidades que o demonstram também. Um reformado tem reformas mais baixas em Portugal do que no
norte da Europa, mas um reformado do norte da Europa tem uma borla fiscal em Portugal como mais nenhum
dos nacionais tem. E porquê? Porque há um regime de residentes não habituais que o PS teima em manter,
uma enorme injustiça, uma borla fiscal. Há uma acusação internacional de que isto é um ataque a qualquer
ideia de equidade fiscal, no entanto, um reformado em Portugal paga muitíssimos mais impostos do que um
residente não habitual, apesar de aquele ter uma pensão muito mais baixa.
E os jovens? E quem trabalha? Bem, se for um daqueles nómadas digitais tem o tapete vermelho
estendido pelo Estado. O Governo do Partido Socialista assim diz: «Venham, venham! Venham, que nós
damos borlas fiscais!». Mas, e para quem cá trabalha? E para quem vive cá?
O Sr. Bruno Nunes (CH): — Os do Bangladesh!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — E para quem constrói este País? Esses, são chamados a pagar
impostos!
Por isso, a pergunta é sempre a mesma: onde está a justiça neste sistema fiscal? Onde está a justiça neste
sistema fiscal?!
A resposta é muito simples: ela não existe, porque todo o esforço fiscal recai em cima dos trabalhadores e
não em cima dos lucros das grandes empresas, que vão pagar os seus impostos à Holanda; não em cima
daqueles que põem o dinheiro em offshore — 7400 milhões de euros transferidos, só no último ano, para
offshore; não em cima dos grandes grupos económicos, como, por exemplo, a EDP (Energias de Portugal),
que ainda ninguém viu pagar o imposto que lhe era devido do negócio da venda das barragens — ninguém
viu!
No entanto, quem trabalha tem sempre, em cima de si, uma carga fiscal à qual não pode fugir e é sempre
sobrecarregado nessa matéria. Deste ponto de vista, o que o Bloco de Esquerda traz a debate é o primeiro
passo no caminho para uma justiça fiscal, e lançamos um desafio ao PSD: se quer justiça fiscal, não
ataquemos o Estado social, não ataquemos a Segurança Social; ataquemos quem não paga impostos no
nosso País!
O Sr. Afonso Oliveira (PSD): — Estamos de acordo!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Por exemplo, vamos pôr os residentes não habituais a pagar impostos
no nosso País. A pagar a sério, como paga qualquer um dos outros trabalhadores ou um dos outros
pensionistas de nosso País!
Estão disponíveis para isso? Ou consideram, de facto, que a injustiça se deve manter, desde que
redistribuamos algumas migalhas no IRS? É que para esse peditório nós não damos!
Uma reforma fiscal vira toda esta iniquidade fiscal e transforma o sistema em justiça para quem trabalha,
não mantém as injustiças; não permite à EDP que continue a fugir ao pagamento de impostos; não permite
aos residentes não habituais que continuem a fugir às suas responsabilidades no nosso País; não permite aos
grandes grupos económicos do PSI 20 (portuguese stock index 20) que vão para a Holanda para fugirem ao
pagamento de impostos no nosso País.
Estão disponíveis para isso? É que, infelizmente, as respostas que vamos tendo são de que não estão
disponíveis para isso.
Há forma de transformar este sistema num mais justo! Há forma de tornar o IRS mais justo, mas não é
permitindo que os escalões mais altos sejam mais beneficiados se, por exemplo, tiverem menos de 35 anos.