I SÉRIE — NÚMERO 3
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com a Iniciativa Liberal e com o Chega, que vêm queixar-se da elevada carga fiscal que o País tem, mas que,
depois, dão a mão ao PS na altura de reprovar a proposta do PAN e de aliviar as famílias.
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — O quê?!
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — Portanto, Sr.as e Srs. Deputados, haja coerência com o voto no
Parlamento, para depois não virem chorar para as redes sociais…
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Aqui ninguém chora! Os homens não choram!
A Sr.ª Inês de Sousa Real (PAN): — … e dizer que estão de lado das famílias, quando na hora de votar
votam contra as propostas.
A Sr.ª Presidente (Edite Estrela): — Para apresentar o Projeto de Lei n.º 903/XV/2.ª (PCP) — Aprova
medidas para mais justiça fiscal visando aliviar os impostos sobre o trabalho e o consumo de bens essenciais
e acabar com os regimes de privilégio das grandes fortunas e lucros, tem a palavra o Sr. Deputado Duarte
Alves.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Tal como em julho deste ano, o PCP
não deixa de fazer este debate em torno do verdadeiro problema — que o PSD não só não resolve como quer
agravar — da injustiça fiscal; o problema dos impostos, que são demasiado altos para a maioria que vive do
seu trabalho, mas também das benesses, que só servem uma minoria privilegiada.
No projeto de lei do PCP em discussão, propomos medidas para baixar o IRS de forma generalizada, com
mais incidência sobre os rendimentos mais baixos e intermédios; atualizar a dedução específica, ou seja, o
valor que é abatido ao rendimento bruto para se calcular o imposto e que está congelado desde 2010; baixar,
em três pontos percentuais, os primeiros três escalões, beneficiando não apenas esses contribuintes como os
que estão nos escalões imediatamente seguintes; garantir a atualização anual dos limites dos escalões; e
aumentar o número de escalões, reforçando a progressividade do IRS.
Porque, ao contrário do PSD, não esquecemos o IVA, que é o imposto mais injusto de todos, propomos
reverter o aumento do IVA da energia, voltando para a taxa mínima de 6 %, aumento esse que foi obra do
Governo do PSD e mantido pela convergência mal ensaiada entre PS e PSD no Orçamento para 2020; baixar
a fatura energética, que é das mais elevadas da Europa; e que as telecomunicações sejam tributadas à taxa
intermédia de 13 %.
Por outro lado, propomos o fim de isenções, benefícios e alçapões que permitem aos lucros do grande
capital, ao património de elevado valor, às grandes fortunas os privilégios fiscais inaceitáveis: atacar o recurso
a offshore, que representa 7400 milhões de euros que saem do País; garantir a tributação em Portugal dos
lucros realizados em Portugal; acabar com o regime dos residentes não habituais, que custa 1500 milhões de
euros em perda de receita fiscal; promover o englobamento obrigatório de todos os rendimentos para os
contribuintes do mais elevado escalão, para que rendimentos de capital não sejam beneficiados face a
rendimentos de trabalho; criar uma contribuição extraordinária sobre os lucros astronómicos da banca e do
setor financeiro, proposta em que PS, PSD e Chega votaram contra, no ano passado, quando se discutiram as
contribuições de solidariedade e o PCP apresentou esta proposta.
Estas medidas, se forem aprovadas, representam um alívio fiscal de cerca de 2500 milhões de euros para
quem vive do seu trabalho. Mas, porque também aumentam a receita, acabando com os privilégios
injustificados, não põem em causa o papel dos impostos no financiamento dos serviços públicos.
O Sr. João Dias (PCP): — Muito bem!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr.as e Srs. Deputados, quando o País assiste a um crescimento económico
que não chega ao bolso das pessoas, ou seja, quando se agravam as desigualdades na distribuição da
riqueza com uma brutal transferência de rendimentos do trabalho para o capital, é aí que deve entrar a política
fiscal e a sua função redistributiva.