I SÉRIE — NÚMERO 6
28
Aplausos do PCP. O Sr. Pedro Pinto (CH): — Lá estaremos! O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Eu também vou! O Sr. Presidente: — Para fazer uma declaração política, em nome do Bloco de Esquerda, tem agora a
palavra o Sr. Deputado José Moura Soeiro. O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A CIP (Confederação Empresarial
de Portugal) montou, nas últimas semanas, uma grande operação político-mediática em torno da proposta de um pacto social.
O afã foi tanto que não escapou ao ridículo. Os patrões, dizia o porta-voz da CIP, querem um aumento salarial superior ao que é proposto pela mais radical das centrais sindicais. É caso para perguntar: então porque não o fazem, dado que está nas mãos das empresas concretizar esse aumento?
Na realidade, o que os patrões querem é outra coisa: é um gigantesco benefício fiscal e um mecanismo em que os aumentos salariais têm como contrapartida a usurpação do salário indireto dos trabalhadores por via da suspensão das contribuições para a segurança social. Embrulhada num discurso sobre os rendimentos dos trabalhadores e a dificuldade de captar mão de obra, a CIP elegeu como uma das suas bandeiras um suposto 15.º mês. Ó generosidade dos patrões, tanta vontade que têm de pagar mais!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Claro! O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Só que não: a proposta é um verdadeiro engodo. O suposto 15.º mês não
é um aumento de salário, é um prémio facultativo — as empresas poderiam desembolsar ou não —, sem qualquer pagamento de impostos e de contribuições para a segurança social. Se dividíssemos pelos 14 meses, estaríamos não muito longe dos 6 %,…
O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — São 7 %, faça as contas! O Sr. José Moura Soeiro (BE): — … o que, aliás, também não anda muito longe do que os patrões já tinham,
com a UGT (União Geral de Trabalhadores) e com o Governo, acordado em concertação social, num momento em que a inflação era mais baixa do que aquela que comeu uma parte dos salários no último ano e meio.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Bem lembrado! O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Mas também é um saque fiscal a favor de quem ganha mais, porque os
impostos são progressivos, e o roubo de uma componente fundamental do salário indireto, que são os pagamentos, as contribuições para a segurança social, que garantem a proteção na doença, na parentalidade e a construção da pensão na velhice.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem! O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Criando a ilusão de um aumento de rendimentos no presente, a CIP quer
fazer um desfalque à segurança social e comprometer as pensões futuras. Mas o negócio tem mais artimanhas. A confederação dos patrões propõe uma outra medida: um aumento de
14,75 % no rendimento mensal dos trabalhadores. Quem ficasse pelo título, pensaria que é agora que as empresas vão correr para a negociação coletiva a propor estes aumentos salariais.
Só que não: não só não se trata de um aumento de 14,75 % nos salários, mas apenas de um aumento de 4,75 %, como a contrapartida é, mais uma vez, não pagar impostos nem contribuições para a segurança social e ainda criar um plano individual de reforma obrigatório que transfere uma parte das pensões futuras para a roleta do mercado financeiro. É para aí que iriam os restantes 10 %.