12 DE OUTUBRO DE 2023
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É preciso ouvir estes gritos de revolta: «Quatro anos morando aqui, pagando os meus impostos e contribuições. Quatro anos em que a minha filha mora cá sem documentos, e não foi por falta de tentativa.»
Gritos tantas vezes abafados, porque um imigrante indocumentado, alguém que não tem em sua posse um cartão, um documento válido, é alguém que não tem segurança para fazer valer os seus direitos. Esta situação, Srs. Deputados, envergonha o nosso País.
Levar ao desespero milhares de pessoas que apenas querem ter a sua situação regularizada não é política de integração digna desse nome, não é sequer uma política de respeito pelos direitos humanos. E, no entanto, parece não haver por parte do Governo uma real vontade de resolver este problema e garantir condições dignas a quem procura o nosso País.
Uma vez mais, as palavras, as proclamações não correspondem à ação. Estamos a dias da extinção definitiva do SEF e da sua substituição em matéria administrativa pela Agência
para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), que, no que toca à renovação de títulos e emissão de passaportes, ficará, a par do IRN (Instituto dos Registos e do Notariado), com os processos de autorização de residência.
Só no que diz respeito a processos pendentes de pedidos de residência com manifestação de interesse serão à volta de 300 000 — 300 000! —, a que se somam todos os outros processos ao abrigo de outros artigos e os processos de renovação. É incalculável o volume de pendências que transitarão a 30 de outubro para a nova Agência.
Preocupado com esta situação — e percebendo que para que a nova Agência possa corresponder aos objetivos para os quais foi criada são necessárias medidas extraordinárias, urgentes —, na semana passada, o PCP apresentou um requerimento para ser ouvida a Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, com a tutela da Integração e das Migrações, assim como o conselho diretivo da nova Agência para a Integração, Migrações e Asilo, na 1.ª Comissão desta Assembleia.
Incompreensivelmente, o Partido Socialista opôs-se e, assim, inviabilizou esta audição. O Sr. João Dias (PCP): — Já é hábito! A Sr.ª Alma Rivera (PCP): — Alegou ser extemporânea, por tratar-se de uma fase de transição, e que,
apesar de já existir um conselho diretivo nomeado, a nova Agência ainda não está em funcionamento. Ou seja, Srs. Deputados, a alguém que está há dois, três ou quatro anos à espera de uma marcação no SEF
dizemos que tem de esperar mais um bocadinho, porque este assunto é terra de ninguém. A alguém que espera há meses para poder iniciar um processo de reagrupamento familiar e, assim, poder trazer os seus filhos ou o seu companheiro, diz-se que esta pretensão é extemporânea! A quem tem a vida do avesso, dizemos «espera mais um bocadinho, porque o Governo não tem nada para dizer neste momento», porque o MAI (Ministério da Administração Interna) está a deixar a pasta e a Ministra responsável pelas Migrações ainda não está inteiramente com a pasta.
É uma fase de transição que, recordamos, dura há três anos, desde que, de forma precipitada e irresponsável, em dezembro de 2020, foi anunciada a extinção do SEF, uma extinção que era para ter acontecido em janeiro de 2022, mas depois passou para maio; foi suspensa por tempo indeterminado; novamente apontada para uma data, março de 2023; e, por fim, esperemos, será a 30 de outubro de 2023.
Srs. Deputados, é certo que uma audição, por si só, não resolverá os problemas destas pessoas, mas seria uma oportunidade de este Parlamento mostrar que se interessa e, também, de escrutinar o que está a ser feito e de dar respostas às pessoas; seria, inclusivamente, uma oportunidade para o Parlamento contribuir para resolver os problemas que aumentam, literalmente, a cada dia, com milhares de processos a entrar e sem resposta.
Isto é uma urgência e o PCP exige que se tome medidas a sério. Contrariamente ao que foi difundido, não existiu nenhuma medida extraordinária para recuperar processos e também não se conhece o plano para devolver alguma dignidade a este serviço.
Publicou-se a prorrogação da validade dos documentos até 31 de dezembro de 2023. No entanto, são os próprios serviços da Administração Pública — na Segurança Social, na saúde, na educação — a limitar a eficácia deste prolongamento. As pessoas têm receio de sair do País, porque poderão não conseguir regressar.
Diz-se que, num primeiro momento, elementos policiais continuarão a dar apoio à AIMA, o que choca com o argumento da urgência — real, quanto a nós — da separação das funções policiais e administrativas.