14 DE OUTUBRO DE 2023
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especulação dos preços que estas empresas praticaram explicam a situação dos setores da energia e da
distribuição de bens alimentares, em que assistimos a lucros extraordinários das empresas — Galp, Pingo Doce,
Jerónimo Martins, Sonae, etc. — ao mesmo tempo que os trabalhadores se veem aflitos para pagar a conta do
supermercado, a conta da luz, a renda da casa, o empréstimo da casa com um salário que não chega para
responder a este aumento de preços.
Relativamente a isto, pode haver várias respostas. O Governo apresenta aqui o IVA zero, com a redução do
IVA para certos bens alimentares, mas o essencial da resposta é o controlo das margens e dos preços e,
também, a tributação dos lucros extraordinários. É isso que permite combater a especulação e controlar a
inflação, ao mesmo tempo que, controlando margens e preços e tributando lucros extraordinários, se aposta no
crescimento salarial para defender quem trabalha do surto inflacionista.
Sim, é pelo controlo de lucros e pelo salário que se protegem as pessoas do choque inflacionário. Aliás, só
essa estratégia combinada permitiria evitar que o processo inflacionista se transformasse, como já se
transformou e continua a transformar-se, numa enorme transferência de rendimento do trabalho para o capital.
As pessoas perdem salário real ao mesmo tempo que aumentam os lucros extraordinários destas empresas.
Ora, o que o Governo traz a este Orçamento — não é a discussão que estamos a ter aqui, mas é a discussão
que teremos nas próximas semanas — é o fim da taxa sobre os lucros extraordinários.
Além disto, há um ausente no debate de hoje: o IVA sobre a energia. Continuamos a ter das energias mais
caras da Europa, ao mesmo tempo que temos um quarto da população portuguesa que declara não ter
capacidade para aquecer devidamente a sua casa, o que é três vezes mais do que acontece na União Europeia.
Portanto, quando discutimos o IVA, devemos também discutir o IVA da energia. Não é com um esquema
complicado de escalões que resolvemos isto, é preciso baixar o IVA da energia e garantir o combate à pobreza
energética.
Esta deveria ser uma prioridade do Governo e será, certamente, uma prioridade do Bloco de Esquerda no
próximo Orçamento.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção em nome do Grupo Parlamentar do PS, tem a palavra o
Sr. Deputado Hugo Costa.
O Sr. Hugo Costa (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Este debate
foi uma oportunidade para alguns anteciparem parte do debate orçamental, esquecendo aquela que é medida
do IVA zero no cabaz de produtos essenciais até ao final do ano.
O Sr. Miguel Cabrita (PS): — Muito bem!
O Sr. Hugo Costa (PS): — Mas é importante relembrar que, em abril, a proposta da lei do Governo não teve
o voto favorável do maior partido da oposição nem, por exemplo, dos partidos ditos à esquerda do Partido
Socialista.
Esta lei, de abril deste ano, apresentou um impacto positivo para as famílias portuguesas e, sim, foi uma
medida de caráter transitório e excecional que visou a estabilidade dos preços quando a guerra na Ucrânia criou
uma rutura nas cadeias de abastecimento e choques na oferta, sendo preciso controlar a pressão inflacionista.
O Sr. Miguel Cabrita (PS): — Muito bem!
O Sr. Hugo Costa (PS): — E aprendemos com os erros de outros parceiros europeus, na sua implementação,
evitando que a descida fosse «apanhada» pelas margens de lucro.
O Sr. Miguel Cabrita (PS): — Muito bem!