14 DE OUTUBRO DE 2023
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O Sr. Duarte Alves (PCP): — Vou citar o FMI: «A elevação dos lucros das empresas é responsável por
quase metade do aumento da inflação na Europa nos últimos dois anos, com as empresas elevando os preços
acima da forte alta dos custos com a importação de energia. Agora que os trabalhadores estão pressionando
por salários mais altos para recuperar o poder de compra perdido…» — e destaco esta parte — «… as empresas
talvez tenham de aceitar uma parcela menor dos lucros para que a inflação continue no rumo certo».
Pois é, até o FMI o diz! Para controlar a inflação é preciso aumentar salários e é preciso cortar na raiz desta
inflação, que são os lucros das multinacionais.
Haja vontade política, porque propostas não faltarão, propostas como esta que aqui apresentamos e outras
que teremos oportunidade de apresentar na discussão do Orçamento do Estado para 2024.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção em nome da Iniciativa Liberal, tem a palavra o Sr. Deputado João
Cotrim Figueiredo.
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A Iniciativa Liberal vai votar a
favor da Proposta de Lei n.º 105/XV/1.ª, mas devo dizer que é um voto a favor sem grande entusiasmo, porque
é uma medida que não nos agrada,…
O Sr. João Dias (PCP): — Então, não agrada!?
O Sr. João Cotrim Figueiredo (IL): — … embora a tenhamos considerado necessária,…
Risos do L e de Deputados do PCP.
… aliás, tão necessária que já a tínhamos proposto no Orçamento para 2023.
Não nos agrada porque é uma medida que discrimina entre os consumidores dos produtos que estão na lista
do IVA zero e os dos que não estão, entre os produtores dos produtos que estão na lista do IVA zero e os dos
que não estão e, até, entre os distribuidores que vendem produtos que estão na lista do IVA zero e os que
vendem produtos que não estão.
Eu poderia chamar-lhe «o problema do alho», que, curiosamente, não está na lista, mas também poderia
chamar-lhe «o problema das nabiças» ou «do feijão verde», ou «do limão», ou «da melancia», tudo coisas de
primeira necessidade e básicas que, por acaso, não estão na lista, mas poderiam estar; ou «dos celíacos», de
quem agora nos lembramos, seis meses depois, porque também têm necessidades alimentares específicas que
deviam estar protegidas.
Portanto, quando nos metemos a fazer lista do que se come ou não come e do que se taxa ou não se taxa,
há sempre coisas que ficam dentro e há discriminação. E, mais: isto, obviamente, distorce — ainda que, neste
caso, temporariamente — os preços que estão no mercado, dando os sinais todos errados. Nós não sabemos
se há produtores de feijão verde ou de alho que tinham a vida toda dependente de um projeto qualquer que
durante sete meses ficou discriminado, negativamente, com isto.
Agora, foi necessário! E foi necessário porque a inflação subiu de uma forma abrupta, como talvez nunca se
tivesse visto em décadas recentes, e, sobretudo, é necessário porque Portugal é um país pobre.
Chamo a vossa atenção — e algum dia haveria de ser a primeira vez que eu exibiria um gráfico neste
Plenário! — para o gráfico da página 18 do relatório do OE, com os decis de rendimento disponível dos
portugueses.
O orador exibiu o gráfico que mencionou.
Parabéns, Srs. Deputados, estão todos entre os 10 % mais ricos deste País. Todos! E é resultado de 25 anos
de gestão socialista, em que, para aqueles que querem acabar com os ricos, parabéns, estão a conseguir; para
nós, que queremos acabar com os pobres, é um gráfico bastante triste.