I SÉRIE — NÚMERO 13
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Política de direita, porque o Governo não quis ir ao fundo do problema. É que estes grupos, como a Jerónimo
Martins ou a Sonae, têm demasiado domínio sobre toda a cadeia, da produção ao consumo, e, por isso, usam
a sua posição dominante, e mesmo de cartel, para esmagar produtores e consumidores, para fazer concorrência
desleal ao pequeno comércio, para pagar salários de miséria aos seus trabalhadores e, assim, garantir milhões
de lucro.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — São os donos disto tudo!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — E aí estão os lucros: em 2021, em 2022 e no que já se conhece de 2023, a
Sonae fez 885 milhões de euros de lucro e a Jerónimo Martins fez 1454 milhões de euros de lucro — 1 milhão
e meio de euros de lucro por dia —, ao longo destes anos…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — São os donos disto tudo!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — … de enormes dificuldades para a esmagadora maioria da população. O IVA
zero tocou zero nos lucros da grande distribuição.
O Sr. João Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Na verdade, muitos preços continuaram a aumentar; outros baixaram, mas
não no montante da redução do IVA.
Veja-se o cabaz de preços da DECO (Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor), que custava
138,78 € no dia 17 de abril de 2023, dois dias antes da entrada em vigor do IVA zero. Hoje, o mesmo cabaz está
a 133,58 €, ou seja, apenas menos 3,7 pontos percentuais, portanto, menos do que os 6 pontos percentuais que
baixou o IVA.
Isto é, como se previa, parte da redução fiscal foi apropriada pela grande distribuição, décima a décima, ao
longo destes meses.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Que grande surpresa!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Há ainda outra agravante: houve preços que não baixaram com o IVA zero,
mas quando o IVA voltar para os 6 %, aí, de certeza absoluta que os preços aumentarão pelo menos 6 %, e
com os arredondamentos poderá ser mais ainda.
Protestos do Deputado do CH Filipe Melo.
Portanto, o IVA zero sem controlo de preços é isto: quando o IVA baixa, o preço mantém-se, e em alguns
casos até aumenta — noutros, até baixa, mas menos do que a redução do imposto —; mas quando o IVA sobe
de novo, aí, é certo que tudo aumenta.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. Duarte Alves (PCP): — É por isso que o PCP insiste na proposta de criar um preço de referência para
um conjunto de bens essenciais. Um preço de referência com base nos custos reais e numa margem não
especulativa, proibindo a venda a um preço superior sem justificação atendível.
Sabemos que nem o PS, nem o PSD, nem a Iniciativa Liberal, nem o Chega querem qualquer medida para
limitar os lucros abusivos destas multinacionais, mas oiçam, pelo menos, o que diz o FMI (Fundo Monetário
Internacional), num comunicado de junho passado.
O Sr. Pedro Pinto (CH): — Olá!…