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14 DE OUTUBRO DE 2023

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O Sr. Rui Paulo Sousa (CH): — É que ter metade da população de mão estendida pode servir os interesses

do socialismo, mas não serve seguramente os interesses de Portugal e dos portugueses.

Aplausos do CH.

O Sr. Presidente: — Para a apresentação da iniciativa do Bloco de Esquerda, tem agora a palavra o

Sr. Deputado José Soeiro.

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Quem vive com o salário mínimo

vive numa aflição.

Cada vez mais famílias gastam metade do seu salário para pagar o crédito à habitação. O preço do cabaz

dos bens essenciais tem aumentado — basta ver os dados de setembro do mês passado — e, na verdade, é

escandalosa e estrutural a taxa de pobreza assalariada no nosso País. Não conseguimos sair de uma pobreza

assalariada que anda sempre à volta dos 10 %, ou seja, 1 em cada 10 trabalhadores, mesmo ganhando um

salário, não consegue escapar a uma condição de pobreza.

O Sr. Pedro dos Santos Frazão (CH): — Vai passar a camisa a ferro! É uma vergonha!

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Portugal continua a ser um dos países da União Europeia com maior

desigualdade salarial, quando comparamos os salários mais altos e os salários mais baixos.

Este facto está associado a uma tendência preocupante: é que esta desigualdade entre os salários mais

altos e os salários mais baixos não tem parado de aumentar. Ou seja, ao mesmo tempo que, perante o

desequilíbrio e a estagnação da contratação coletiva, o salário mínimo se vem transformando numa espécie de

salário nacional, multiplicam-se os salários milionários dos gestores e aumentam os leques salariais em setores

importantíssimos da nossa economia.

Aumentar os salários e garantir uma distribuição muito mais justa do rendimento são as bases de qualquer

política que tenha respeito por quem trabalha.

O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Uma política de esquerda só pode ter na valorização real dos salários

uma prioridade. A inflação, o aumento dos juros, o aumento dos preços dos bens essenciais e o aumento dos

preços da habitação têm significado empobrecimento e um agravamento da desigualdade na distribuição de

rendimento entre o trabalho e o capital.

Sem promover um crescimento salarial real, um crescimento salarial que se veja, não protegemos quem

trabalha, nem sequer protegemos a procura interna. É o salário, não são esmolas, que responde à inflação e ao

aumento do custo de vida. Só através da efetiva recuperação de rendimentos é possível responder à perda de

poder de compra a que estamos a assistir.

Sr.as e Srs. Deputados, no segundo trimestre de 2023, mais de 830 000 pessoas recebiam o salário mínimo

nacional: isso é mais de 20 % dos trabalhadores por conta de outrem.

O Governo anunciou um aumento para 820 € para o ano que vem, 2024, mas era necessário e é possível ir

muito mais longe. É possível, porque é justo, mas é possível também porque é economicamente sensato e

porque as empresas podem acomodar um aumento maior do salário mínimo nacional.

O que o Bloco de Esquerda propõe é que se fixe o salário mínimo nos 900 € já em janeiro de 2024,

procurando que, ao longo do ano, possa haver ajustamentos para responder ao aumento do custo de vida. Ao

mesmo tempo, e no que ao Estado diz respeito, o Governo devia empenhar-se em garantir não apenas que

nenhum trabalhador da Administração Pública perde salário real em 2024, mas que se recupere a perda

acumulada, durante anos, dos trabalhadores do Estado, cujas tabelas salariais estão tão degradadas, que há

em vários setores concursos que, pura e simplesmente, ficam vazios.