I SÉRIE — NÚMERO 13
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Estamos num país com elevada percentagem de pessoas em situação de pobreza a trabalhar, e a maior
parte deles com vínculo sem termo. Muita coisa vai mal num país quando pessoas empregadas continuam em
situação de pobreza.
Nós, na Iniciativa Liberal, não queremos igualdade na pobreza. A compressão das diferenças salariais gera
desincentivos à formação e ao desempenho, incoerência na evolução das carreiras, e é recorrente, da academia
a Bruxelas, haver um alerta para que se possa estar a desencorajar os indivíduos a investir na sua educação.
Significa isto que não devemos lutar, ambicionar pelo aumento do salário mínimo nacional? Não, não é isso
que significa. O que significa é que não devemos deixar de ambicionar o aumento do salário médio. Não nos
podemos contentar com uma política de baixos salários e baixas expectativas.
Termino, por isso, como comecei, porque quero reforçar esta ideia: o salário mínimo nacional devia ser uma
salvaguarda e não uma política de rendimentos. Portugal está economicamente estagnado e transformado num
país de salário mínimo e de baixos salários, e isso tem de ser fortemente combatido.
Aplausos da IL.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, em nome do Livre, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Tavares.
O Sr. Rui Tavares (L): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Srs. e Sr.as Membros do Governo: É sabido
que, em economia, em geral, é difícil ter dados que nos permitam fazer comparações históricas perfeitas, mas
se há um caso em que temos dados que são muito aproximados de uma comparação histórica perfeita, são os
do salário mínimo nacional em Portugal e em Espanha, que foram criados ao mesmo tempo e nas mesmas
condições históricas.
Durante décadas, o salário mínimo português teve sempre à volta dos 80 % do salário mínimo espanhol.
Infelizmente — e digo infelizmente porque é algo que pode ser assacado, e não teremos como dizer que não, à
minha família política, que é a da esquerda —, a partir de 2016, essa trajetória foi interrompida, e o salário
mínimo português baixou dos 80 % do salário mínimo espanhol. Em 2020 e 2021, baixou até dos 70 %, já com
o PS a não precisar dos votos favoráveis do Bloco de Esquerda ou do PCP nos Orçamentos. Já com a maioria
absoluta, tem havido um aumento no salário mínimo, mas continua o Sr. Primeiro-Ministro, injustificadamente,
a ter medo de subir o salário mínimo, por considerar que isso gera um problema societal, por se aproximar muito
do salário médio, que tem de ter outras formas de crescer, através do reforço da negociação coletiva dos
trabalhadores.
Qual é o resultado disto? É que nem sequer se pode justificar esta quebra no salário mínimo português,
comparando com o espanhol, com diferenças na paridade do poder de compra, isto porque, até 2021, o nosso
PIB estava a acompanhar — aliás, estava a apanhar — o espanhol, mas o salário mínimo não o estava a
acompanhar.
Portanto, não é tarde para inverter o rumo e é preciso que numa economia tão integrada como a ibérica o
salário mínimo português suba e volte a ter, no mínimo, os 80 % do salário mínimo espanhol…
O Sr. Presidente: — Muito obrigado…
O Sr. Rui Tavares (L): — Veremos, quando os espanhóis fizerem a sua atualização, que nos arriscamos
outra vez a ficar para trás.
O Sr. Presidente: — Para encerrar o debate, dou agora a palavra ao Sr. Deputado Alfredo Maia, do PCP.
O Sr. Alfredo Maia (PCP): — Sr. Presidente e Srs. Deputados: Muito obrigado pelas questões colocadas e
pela reflexão feita. Parece que, pelo menos, há uma preocupação, quase geral, relativamente ao agravamento
das condições de vida dos trabalhadores e das famílias.
Gostava de responder muito diretamente à Sr.ª Deputada Lina Lopes para dizer que não, o PCP não tem
fetiches;…
Vozes do CH: — Oh!…