19 DE OUTUBRO DE 2023
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Se me permite, vou utilizar um pouco do seu tempo para responder a uma pergunta importante que o Sr.
Deputado Bernardo Blanco, há pouco, tinha colocado e a que eu não respondi. Neste momento, temos
identificados quatro luso-descendentes que faleceram em Israel. Temos quatro luso-descendentes
desaparecidos, que presumimos que sejam, neste momento, reféns. E, por outro lado, em Gaza, há dois
cidadãos nacionais, três familiares desses cidadãos nacionais e mais três familiares de palestinianos que
residem em Portugal, para os quais estamos a procurar uma operação de repatriamento, de forma a que possam
retomar as suas vidas em segurança, em Portugal.
Quanto ao apoio humanitário e à sequência, como sabe, temos uma experiência muito positiva, com a
iniciativa do Presidente Jorge Sampaio de apoio aos estudantes universitários sírios, que pôde evitar que a Síria
perdesse uma geração de jovens qualificados, e, obviamente, essa experiência é muito valiosa e estamos
sempre disponíveis para a replicar, relativamente a cidadãos de outros Estados.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tem agora a palavra o Sr. Deputado Rui Tavares, do Livre.
O Sr. Rui Tavares (L): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, nestes tempos terríveis que estamos a viver,
foi, de facto, angustiante ver algum desnorte da União Europeia, nos primeiros dias;…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — E agora está muito melhor!
O Sr. Rui Tavares (L): — … ver o Comissário Várhelyi, nomeado por Viktor Orbán, anunciar que suspenderia
a ajuda aos palestinianos, ver o Alto Representante Borrell marcar bem as fronteiras e dizer que quem fala em
nome da União é ele e não a Presidente da Comissão, e ver até o seu homólogo húngaro voar para Pequim,
para se encontrar com Vladimir Putin, que é o grande beneficiário deste colapso do sistema internacional, em
que cada ator oportunista tenta usar a força para cumprir com as suas ambições.
Por outro lado, foi muito bom ver a consistência e a coerência do Secretário-Geral António Guterres. Portugal
tem toda a obrigação de estar do lado das exigências que ele fez, de cessar-fogo imediato, de corredores
humanitários, de ajuda aos civis inocentes, de libertação dos reféns como condição essencial e até, agora que
tivemos este ataque sobre o hospital, ontem, na Faixa de Gaza, de acesso por parte de uma missão de
investigação independente, para sabermos o que lá se passou, porque a verdade é que aquelas pessoas, tenha
sido de um lado ou de outro, estão mortas, mas podemos ainda salvar muitas vidas, se fizermos aquilo que o
Secretário-Geral Guterres propõe.
Mas também é preciso — porque esta guerra está a atingir um ponto de não retorno — deixar claro, perante
o Governo de Israel, que o direito à sua defesa não significa alterar dados no terreno que tornem mais difícil
ainda resolver o conflito.
Desse ponto de vista, Portugal não só deve esperar pela coordenação europeia para reconhecer a
independência da Palestina, mas deve também procurar dinamizar e liderar esse esforço.
Há vários países da União Europeia que já reconhecem a independência da Palestina, e reconhecer a
independência da Palestina é uma das formas de, através da autoridade palestiniana, isolar a organização
terrorista Hamas, mas também dizer aos elementos mais extremos na política israelita que não, não vão utilizar
esta guerra para acabar com a solução de dois Estados.
Mesmo no momento mais difícil, é aí que temos de dizer que a comunidade internacional não tolera mais
guerras, não tolera mais violência e o que é necessário é caminharmos para a coexistência, naquele território,
de dois Estados, internacionalmente reconhecidos. Não se entende como é que, com uma resolução em 2014,
já aprovada nesta Assembleia da República, e devo anunciar uma entregue hoje pelo Livre, o Governo português
não envida já todos os esforços para poder reconhecer, assim que possível, a independência da Palestina.
O Sr. Presidente: — Tem, agora, a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Rui Tavares, reconheço que é injusto, mas, sendo
o último a fazer a pergunta, dificilmente há novas respostas a dar, depois de tudo aquilo que se disse até agora.
E, portanto, vou resumir mais uma vez.