19 DE OUTUBRO DE 2023
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Relativamente à questão da governação económica da Europa, é evidente que aquilo que o Conselho está
a discutir é um ajustamento nos quadros dos limites do tratado, e há limites que constam do tratado que não são
passíveis de ajustamento.
A proposta da Comissão creio que é bastante inteligente, porque procura aprender com as experiências do
passado, com a crise das dívidas soberanas, com a forma disparatada como as troicas andaram a impor políticas
pró-cíclicas — só agravaram, como foi evidente em Portugal, o efeito recessivo daquelas políticas — e a
necessidade de termos, por um lado, políticas que sejam anticíclicas e, por outro lado, políticas que tenham em
conta a necessidade de reforço de investimento em todos os Estados-Membros para assegurar a transição
digital, para assegurar a transição energética e para assegurar o reforço da segurança.
Por outro lado, há duas dimensões muito importantes — que se verificaram, aliás, como críticas —, que são
os programas de ajustamento para níveis de dívidas compatíveis com uma moeda que todos partilhamos, sejam
projetos sejam percursos nacionalmente assumidos, nacionalmente definidos e compatíveis com a realidade
económica de cada um dos Estados.
Creio que o Bloco de Esquerda, que participou ativamente em grande parte do percurso que temos
desenvolvido desde novembro de 2015 até agora, deve, aliás, orgulhar-se do facto…
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Deve?!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Deve orgulhar-se, deve, Sr.ª Deputada Joana Mortágua, de ter contribuído
ativamente para podermos definir uma política económica que tem assegurado crescimento, tem assegurado
convergência,…
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Não!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … tem assegurado emprego, tem assegurado melhoria e reforço do investimento
nos serviços públicos, tem assegurado uma melhoria dos rendimentos e, não obstante,…
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Essa conta é sua!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … tem permitido retirarmo-nos de uma situação de aflição orçamental, termos
orçamentos hoje relativamente estabilizados e podermos estar a reduzir sustentadamente a nossa dívida
pública,…
Protestos da Deputada do BE Isabel Pires.
… libertando recursos que atualmente consumimos, a pagar serviço da dívida, para podermos investir naquilo
que significa o reforço da melhoria da qualidade de vida dos portugueses, seja pelo desagravamento fiscal de
quem trabalha, seja pelo desagravamento fiscal dos pensionistas ou pelo reforço do investimento nos serviços
públicos.
Sr.as Deputadas, têm de reconhecer uma coisa: nós aumentámos 72 % o orçamento do Serviço Nacional de
Saúde e, mesmo assim, conseguimos ter um saldo orçamental positivo.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Mesmo assim, não é suficiente!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Não foi à custa de cortes no Serviço Nacional de Saúde.
Isto é uma grande lição que demos, muito positiva, para muitos dos países que, por um lado, achavam que
havia uma parte da Europa que cronicamente não se sabia governar economicamente e que parte da Europa
só sabia viver em défice e em dívida ou que tinha de viver em austeridade, para poder enfrentar e ter uma boa
gestão orçamental.
Ora, aquilo que conseguimos demonstrar, desde novembro de 2015 até agora, e que grande parte do
percurso o Bloco de Esquerda partilhou e se devia orgulhar de ter partilhado,…
Vozes do CH: — Ah!