I SÉRIE — NÚMERO 33
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A Sr.ª Rita Matias (CH): — Mais: sabemos que o Ministério Público tem fraca capacidade operacional e não
consegue dar vazão a todos os processos que lhe chegam. E, quando tenta dar vazão, há quem tente, nesta
Assembleia da República, lançar a suspeição sobre o Ministério Público. Repare, o Ministério Público suspeita
que, em 2018, Jorge Costa Oliveira, ex-secretário de Estado, tenha sido contratado pela sociedade de
Lusorecursos para pressionar e influenciar membros de Governos.
O Ministério Público suspeita também que Lacerda Machado, melhor amigo de António Costa, tenha sido
contratado, em 2021, para fazer lóbi junto da STAR Campus. Estas pessoas não são do Chega, são pessoas
próximas do Partido Socialista.
Protestos do Deputado do PS Eurico Brilhante Dias.
Portanto, se há partido que devia estar preocupado em regulamentar esta matéria, também para lavar a sua
cara, era o Partido Socialista. Mas, uma vez mais, não o fizeram.
Aplausos do CH.
Não o fizeram tendo no seu programa eleitoral, em 2015, essa promessa, que não cumpriram. Projetos
semelhantes estiveram em discussão em 2016, estiveram em discussão em 2020, e o Sr. Deputado Pedro
Delgado Alves até coordenava este processo, mas depois, à última hora, em 2021, voltou atrás e esteve ao lado
do Partido Social Democrata para chumbar a regulamentação da atividade.
O Sr. André Ventura (CH): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Matias (CH): — Referiu Duarte Marques que um Deputado do Partido Socialista — que ele não
pôde nomear — dizia que, quando os deuses Rio e Costa se juntavam, normalmente, dava asneira e que, nesse
caso, não tinha corrido bem.
Aquilo que pergunto é: foi o Deputado Pedro Delgado Alves que teve de se chegar atrás, que foi pressionado,
que evitou que o lóbi fosse regulamentado e que a transparência fosse implementada nas nossas instituições?
Aplausos do CH.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Grupo Parlamentar do
PCP, pelo Sr. Deputado Duarte Alves.
O Sr. Duarte Alves (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, de
facto, é oportuno ter trazido aqui o historial de todo este processo quando o Chega nos apresenta uma proposta
que é decalcada de uma outra iniciativa em que houve, aparentemente, ou até o momento do veto do Presidente,
um consenso entre PS, PSD e CDS, do qual o PCP não fez parte, para legalizar esta atividade.
Até pode parecer estranho como é que uma matéria que teve essa amplitude de apoio neste Parlamento —
com o PS, o PSD e o CDS de acordo nessa altura, e agora com a Iniciativa Liberal e o Chega também de acordo
com a regulamentação do lobbying —, afinal, nunca chegou a ver a luz do dia. A verdade é que isso se prendeu
com o facto de os proponentes não se entenderem nessa altura sobre aspetos fundamentais.
Já iremos à posição do PCP e porque é que somos contra a regulamentação e a legalização do lobbying,
mas há algumas perguntas que têm de ser feitas sobre esse último processo para perceber o processo que
agora, aparentemente, anunciou que o PS vai também lançar até dia 3 de janeiro.
Qual era a razão de discórdia nessa altura? É que, por um lado, o PSD queria que houvesse um registo dos
clientes que recorriam às agências de lobbying e, por outro, o PS e o CDS não queriam essa lista. Acabou por
ficar omitida a declaração de todos os interesses representados, bem como as remunerações recebidas pelos
representantes desses interesses.
Portanto, uma lei que se dizia a favor da transparência não trazia, afinal, transparência nenhuma e foram
essas algumas das razões que levaram o Presidente da República a não a promulgar.