I SÉRIE — NÚMERO 33
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O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr. Deputado Duarte Alves, precisamente porque a Assembleia já o
faz, outras instituições ainda não o fazem e não o fazem da forma suficientemente detalhada que entendemos
dever estar a ser feita. É que — e aqui, sim, chegamos a um ponto importante — há quem se dedique
profissionalmente à representação de interesses. Mais uma vez, é algo que não é proibido. Mas, não sendo
proibido, não significa que não deva ser regulado, que não tenha de ser regulado e que não existam regras para
quem tem, enfim, a profissão que normalmente se designa como «lobista profissional». Essa figura carece de
regulamentação. Não há nenhuma neste momento e é o que permite todos os equívocos, todas as dificuldades
e todos os problemas com os quais as democracias maduras se deparam.
Não conseguiremos nunca construir boas leis sem ouvir a sociedade civil. No entanto, também temos de
garantir que a decisão final é tomada aqui e que é escrutinável o caminho através do qual chegámos a essa
decisão.
Portanto, tudo isto dito, cá estaremos disponíveis para aprofundar o debate. Teremos já essa oportunidade
dia 3 de janeiro, com a participação de todos, e que convidamos. São todos, como no passado foram, bem-
vindos a participar neste debate. Mais: é um debate que deveria transcender linhas e fraturas ideológicas,
porque, como digo, foi verdadeiramente uma iniciativa do PS, do PAN e do CDS que representou o último texto
consensualizado nesta Câmara que achamos que já teria resolvido muitos problemas à República se estivesse
em vigor. Resolveria todos? Não. Não ultrapassava todas as muitas dificuldades com as quais as sociedades
democráticas se confrontam, mas superava uma série delas e permitiria uma democracia mais transparente e
mais robusta.
Aplausos do PS e da Deputada do PSD Joana Barata Lopes.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — O Sr. Deputado Pedro Delgado Alves tem três pedidos de esclarecimento.
Responderá em conjunto?
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Sendo assim, para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr.
Deputado Rui Cruz, do Grupo Parlamentar do PSD.
Pausa.
O Sr. Deputado está a dirigir-se para a tribuna, mas lembro-o que é um pedido de esclarecimento, não é uma
intervenção. V. Ex.a vai mesmo fazer um pedido de esclarecimento ou uma intervenção?
O Sr. Rui Cruz (PSD): — Vou fazer um pedido de esclarecimento, Sr. Presidente. Estava noutro mundo.
O Sr. Presidente (Adão Silva): — Tem a palavra para um pedido de esclarecimento, Sr. Deputado.
O Sr. Rui Cruz (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, neste Parlamento, há Deputados que têm
a rara qualidade de, ao mesmo tempo, dizerem uma coisa, pensarem noutra e fazerem o seu contrário. É uma
espécie de mão invisível da transparência e de punho erguido ao populismo.
O PS hoje tem a maioria, mas não tem a iniciativa; o Chega copiou a iniciativa, mas não tem a maioria.
Parece dar-se o acaso e a coincidência — surpreendente, digamos — de virmos a ter uma iniciativa e uma
maioria para aprovar e alterar de forma conveniente antes que a maioria seja dissolvida.
O PS está por estes dias a transformar-se numa espécie de PNS de empresas e trabalhadores num partido
que assume nódoas da extrema-direita parlamentar. O Chega dança com o PS, ambos pretendem aprovar à
pressa uma lei complexa que nos exige a máxima responsabilidade política e a máxima ponderação. Afinal, que
objetivos pretendem alcançar com este frenesim todo? Ao Chega bastará, e já o sabemos bem, na sua
barafunda reacionária e paradoxa ideologia, «acabar com a bandalheira do regime». E a cópia é tal que se
esqueceram que numa iniciativa anterior criaram impedimentos de cinco anos para o exercício de funções de