I SÉRIE — NÚMERO 37
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Como tenho referido várias vezes noutros debates, noutras ocasiões, acho que devemos evitar visões maniqueístas do projeto europeu, essa visão de que está tudo mal, que da Europa vem tudo errado, que são só problemas.
Sinceramente, há desafios num projeto europeu, com certeza. Acho que temos de ter uma postura realista, equilibrada, e ver não só o muito que temos a ganhar com a nossa participação na União Europeia, mas também aquilo em que gostávamos que o projeto europeu avançasse de forma diferente ou a outros ritmos.
Agora, achar que na Europa tudo é mau, que de lá só vêm desgraças e que as respostas são todas erradas,… O Sr. Bruno Dias (PCP): — A Europa não é a União Europeia! O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Europeus: — … sinceramente, Sr. Deputado, não creio que seja
essa a visão mais correta. O Sr. Deputado contesta a guerra e o militarismo. Com certeza, mas não foi a União Europeia que tomou a
iniciativa de criar uma guerra, de invadir outro país, de adotar uma abordagem militar violadora do direito internacional, que põe em causa a ordem internacional baseada em regras. Não foi a União Europeia.
Protestos do Deputado do PCP Bruno Dias. O que tem feito a União Europeia é pôr-se ao lado da Ucrânia, que foi invadida, que é vítima de uma atuação
imperial, ilegal, uma atuação que, em muitos aspetos, passa por crimes de guerra e por atentados gravíssimos. O Sr. Bruno Dias (PCP): — Resolve-se com dois mísseis!… O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Europeus: — «Temos de defender a paz», diz o Sr. Deputado.
Com certeza, a paz é o que todos queremos. Agora, resta saber que condições é que há para criar essa paz, com esta atitude absolutamente beligerante e agressiva por parte de um vizinho da União Europeia,…
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Isso resolve-se é com bombas!… O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Europeus: — … e ver o que se está a passar na fronteira entre
a Rússia e a Finlândia, por exemplo. Portanto, temos de ter, de facto, uma posição responsável quando olhamos para estas matérias.
Claro que o que todos desejamos é paz; a União Europeia é um projeto de paz, fez-se para garantir a paz, mas não basta desejá-la, não basta dizê-lo — sabemos que as condições geopolíticas, neste momento, são muito adversas —, e temos de encontrar as respostas para esse efeito.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É preciso é mandar mais mísseis para lá!… O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Europeus: — O Sr. Deputado também caracteriza o projeto
europeu como um projeto de desregulação, de desproteção dos trabalhadores, ignorando totalmente o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, o modelo social europeu.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — No mercado único, sim! O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Europeus: — Ignora todos os avanços que têm sido feitos,
legislatura após legislatura, na proteção dos trabalhadores e na garantia de um modelo de trabalho e desenvolvimento económico que seja social e assente em melhores condições de vida, em melhores condições de trabalho.
Creio que não há motivos para estarmos felizes com tudo. Não há motivos para acharmos que está tudo feito ou que tudo é bom. Mas também não há motivos, Sr. Deputado, para achar que da Europa só vêm coisas más.
Aplausos do PS.