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25 MAIO DE 1985

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tar a Intercultura enquanto intervenho, porque não fui mandatado pela minha organização para dizer o que vou dizer. Portanto, deixarei aqui a minha opinião pessoal, enquanto membro da Intercultura. Estou aqui a intervir por convite do Luís Monteiro, pois fiquei sensibilizado por ele ter solicitado várias vezes que as organizações não partidárias dessem a sua opinião, a sua participação, neste debate e pelo facto de isso não estar a acontecer efectivamente.

Fiquei também sensibilizado por o Carlos Coelho nos ter querido pôr à vontade para falarmos aqui nesta Assembleia. No entanto devo dizer-vos que a minha inexperiência me deixa pouco à vontade para falar convosco aqui.

No entanto, algumas reflexões tenho vindo a anotar desde que aqui estou, as quais gostaria de partilhar convosco.

Primeiro de tudo, estou a falar de pé porque me apetece fazê-lo.

Risos.

Segundo, quero dizer que também estou sensibilizado pelo facto de ter olhado para trás e ter constatado de que estavam muito menos pessoas a assistir do que as que estavam de manhã. Aliás o mesmo se passa com os próprios participantes, o que me faz perguntar mais uma vez por que é que os jovens participam tão pouco, tanto mais que lhes foi dada aqui uma oportunidade, e se foram embora.

Outra reflexão que anotei foi a de que quando alguém de uma determinada área política intervém, nota-se geralmente pouco interesse ou mesmo pouca atenção por parte das pessoas das outras áreas políticas, notei, particularmente, a falta de atenção das pessoas que representam as organizações políticas, o que me faz pensar que afinal estamos a perder o nosso sentido de juventude, já que devíamos ter ultrapassado esse facto de responder às questões através de um sistema político. Isto porque do que se trata neste momento é de questões concretas e são os jovens que têm esses problemas e devem responder conforme as suas necessidades e não conforme ideologias políticas, que às vezes não trazem resposta para os problemas que se nos põem.

Falámos aqui — e esta talvez seja a minha última reflexão, porque penso que as outras talvez sejam menos importantes— durante todo este tempo de jovens e fiquei com pena dos deputados da Assembleia da República porque me apercebi, pela primeira vez, de que eles estão a tentar falar e resolver problemas de um país inteiro. Nós estamos aqui a tentar resolver problemas de uma faixa desse país que são os jovens e estou a sentir um peso enorme porque não tenho nem capacidade nem conhecimento para estar a falar deles.

Quais jovens? Eu represento uma faixa muito pequena deles e creio que as outras organizações representam aqui também uma faixa muito reduzida, porque a juventude organizada representa, no fundo, uma percentagem mínima da juventude portuguesa. Por isso, quando falamos de jovens, de defender os seus interesses e de falar dos seus problemas, pergunto-me que jovens? Serão os que são nossos colegas nas universidades e estão a estudar sem saber muito bem porquê ou serão aqueles que conhecemos quando vamos à terra passar as férias e que estão completamente de-

sinformados e furtados das realidades ou daquilo que se está a passar aqui em Lisboa? Era bom que tentássemos saber que jovens estamos a representar e de quais estamos a falar.

Um último ponto para, tal como o António Eloy, apoiar um pouco a intervenção da pessoa que representou as Guias, porque falou da participação dos jovens a nível comunitário. Penso que é muito importante que isso aconteça porque, tirando os jovens das cidades, a maior parte estão com certeza nas aldeias e têm alguma coisa para fazer de concreto lá.

Queria recordar uma leitura que fiz há pouco tempo sobre um relatório de um trabalho de pesquisa que foi feito com muita profundidade na Suécia sobre a juventude sueca, onde se tentou traçar um retrato sociológico dela. A juventude na Suécia estaria, do nosso ponto de vista, com as necessidades materiais todas tratadas pelo chamado Estado protector, mas de acordo com as estatísticas que conhecemos existe lá um grande número de suicídios e uma grande falta de participação. A conclusão principal do relatório era no sentido de que se os jovens na Suécia estavam com as suas necessidades materiais bem tratadas, encontravam-se socialmente esfomeados. Isto significa que eles tinham necessidade de contactar com os adultos e de produzir alguma coisa de útil, porque no fundo é-lhes dada a possibilidade de participarem em actividades programadas por outros, mas não têm uma função produtiva. Quer-se ocupar os jovens com alguma coisa e não se lhes dá oportunidade de produzirem algo de útil para a sociedade.

Gostava ainda de lembrar que a nossa associação vive muito na base dos apoios que lhe dão as organizações estaduais e de administração local. Costumo participar no processo de recolha de fundos para ela e vejo que quando propomos a uma entidade oficial que nos dê apoio monetário interessam-se muito mais por aquilo que podem receber em troca a nível de reconhecimento do que pelos objectivos das nossas próprias actividades.

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o António José Seguro.

O Sr. António José Seguro (JS): —Era apenas para fazer um preciosismo e dar uma informação: a informação é de que a comunicação que proferi há pouco, embora em tópicos, se encontra fotocopiada por gentileza dos serviços da Assembleia.

Em segundo lugar, para referenciar aquilo que eu na altura disse em relação à «terceira vaga» e que é o seguinte: hoje já não é preciso ler a futurologia dos livros de Jean Fourrastier ou de Toffler para aprendermos que a história de facto mudou de ritmo. Quero frisar que isso já não é preciso.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Paulo Mil--Homens, da Associação Livre de Objectores e Objec-toras de Consciência.

O Sr. Paulo Mil-Homens (Associação Livre de Objectores e Objectoras de Consciência): — Queria dizer que estou baralhado com tanta coisa que ouvi aqui. Uma pessoa é apanhada um bocado de surpresa em todo este ambiente e começamos a perguntar que papel