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II SÉRIE — NÚMERO 92

juventude que se afirmam porta-vozes de uma nova

postura na política, que se afirmam determinadas em estar de maneira diferente, até relativamente aos seus próprios partidos — e quanto a isso congratulo-me com a intervenção do Carlos Miguel Coelho, julgo mesmo que é uma excelente maneira de estar no PSD, ou seja não querer ser como o PSD —, precisamente preocupadas em estar de maneira diferente para evitar um fenómeno que é real —e aí o António Elói bateu no ponto certo, desta vez —, que é o desinteresse, cada vez mais crescente — pese a vontade contrariada da ÍSD —, das pessoas e dos jovens no modo como se faz política em Portugal.

Julgo que estas organizações, além de dizerem, têm a primeira oportunidade que a história lhes fornece de exemplificar na prática a autenticidade dessa postura que reivindicam. Não podem estar na política de uma maneira e no dia seguinte estarem exactamente da mesma maneira que, pretensamente, quiseram combater, inclusive dentro dos seus próprios partidos.

O segundo motivo pelo qual me parece importante a questão das comissões do Ano Internacional da Juventude é, exactamente, o tipo de mentalidade com que o poder político — que não é tão abstracto como isso — trata as organizações de juventude.

Ousaria o Primeiro-Ministro — fosse este, fosse outro — fazer, por exemplo, a algumas centrais sindicais aquilo que fez às organizações do pró-CNJ? Ousaria? )ulgo que não, e temos alguns exemplos disso em questões bem mais insignificantes.

A questão do Ano Internacional da Juventude e da comissão do Governo vem a prender-se também com a questão do CNJ, do que há-de ser o Conselho Nacional de Juventude. Participámos em todo o processo desde 1982. Vão fazer 3 anos no dia 6 de Junho sobre a data em que se realizou a primeira reunião na sede da Juventude Socialista, e desde essa altura que participamos no processo.

Entendemos que é fundamental a constituição do Conselho Nacional de Juventude. Tem sido uma experiência riquíssima, do ponto de vista de uma prática nova — ali, sim, comprovada —, por parte das organizações de juventude, e já nem sequer tanto das não partidárias como das partidárias. E essa prática nova tem possibilitado a viabilização do CNI.

Todas as organizações de juventude, partidárias e não partidárias, empenhadas no processo desistiram, até hoje. de pontos de vista próprios em que não eram acompanhadas pela maioria das outras organizações. Fzicram-no porque entendem que é fundamental a viabilização do CNJ para uma maior participação da juventude em Portugal, naquele nível a que nós chamamos de «iniciativa privada juvenil». Digo participação porque não basta exigir ao poder político que as organizações de juventude sejam ouvidas. As organizações de juventude têm também, por si próprias, de provar que não querem ser ouvidas por qualquer razão dispicienda; querem ser ouvidas porque têm opinião sobre os seus próprios problemas e porque são capazes de chegar a soluções comuns para problemas comuns.

Quando, há pouco, comecei a ouvir o António Elói referir que era necessário apresentar soluções concretas porque estamos fartos dos discursos abstractos, etc. e quando pediu gente para trabalhar na organização dele, pensei que estava a dar um passo no sentido de alargar as perspectivas de emprego da

juventude. Finalmente, não é assim, pois pediu voluntários, e, se não fosse assim, até talvez eu me candidatasse!

Mas fiquei desiludido porque, ao nível das propostas concretas, o António Elói revelou uma certa dificuldade em conseguir passar do nível em que todos nós aqui temos estado a discutir estes problemas.

Uma última palavra para o problema do referendo. Entendemos, efectivamente, que os partidos políticos são fundamentais numa sociedade democrática — pelo menos na sociedade democrática que queremos construir—, mas sabemos que não o são noutras sociedades. Só que achamos que não pode ser passado aos partidos políticos um cheque em branco de 4 em 4 anos ou, em situações patológicas — como tem sido a nossa desde 1974— do ponto de vista do funcionamento normal das instituições, de 2 em 2 anos.

Entendemos que têm de estar assegurados mecanismos que permitam, em certos casos de relevância nacional, a consulta directa às populações.

O António Elói referiu alguns dos casos que deveriam merecer essa consagração. Julgo também saber que, por exemplo, a JSD entende necessário e louvável que se institua em Portugal o referendo para consultas directas à população. Esperamos a consequência dessa opinião.

E isto a todos os níveis, desde o nível local até ao nível nacional. Curiosamente, o referendo já está consagrado constitucionalmente ao nível local; todavia, continua —como é costume— sem se saber como é que se faz, porque não passou da consagração constitucional.

De qualquer maneira, queria deixar aqui esta nota porque é uma das mais genuínas formas de participação da própria juventude quanto à gestão dos interesses nacionais e do que ela entende que são os interesses nacionais em cada momento, não só da população juvenil como de toda a população.

Continuamos, pois, a defender o referendo.

Para terminar, diria que não podemos cair no vício em que, porventura, algumas vezes seremos tentados — e alguma mea culpa eu farei — de isolar demasiadamente a problemática juvenil dos problemas gerais que o País sofre.

Julgo que um dos principais factores da degradação económica e social de vida em Portugal tem sido o agudizamento da estrutura corporativa de manifestação dos interesses sociais e económicos em Portugal.

Curiosamente, talvez, durante o regime anterior não se tenha atingido um tal grau de corporativismo —na prática, não formalmente— porque as coisas não se definem em textos: praticam-se ou não. Talvez o regime anterior não desdenhasse as formas corporativas de pressão que, neste momento, se exercem sobre a sociedade portuguesa. Ê que parece que o que existe em Portugal são interesses das confederações sindicais, são interesses das confederações patronais, interesses das organizações de juventude, interesses das organizações de adultos, interesses das organizações ecologistas, interesses das claques de futebal, interesses des clubes de futebol — agora também já se confundem um pouco—, parece que não há interesse nacional. Ou será que o interesse nacional é a soma de todos os interesses organizados na sociedade portuguesa? Julgo que não. Julgo que não fica nada mal à juventude portuguesa, na discussão dos seus problemas