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25 MAIO DE 1985

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Uma última palavra para uma questão que me toca particularmente, e que aqui foi focada, que é a questão da União Nacional dos Estudantes Portugueses.

De facto, a UNEP é muito importante, mas não vai resolver nenhum problema da participação estudantil. A participação estudantil resolve-se nas associações de estudantes, resolve-se no contacto directo dia a dia e no trabalho do dia-a-dia dos estudantes, resolve-se nas suas lutas nas escolas e nas suas lutas nacionais.

Parece-me um bocado complicado vir argumentar que a UNEP é que vai resolver os problemas dos estudantes, quando na recente luta dos Serviços Sociais universitários, que ainda se mantém, pois os problemas não estão resolvidos e a luta mantém-se, o que se tentou fazer foi nem mais nem menos do que coarctar, do que entravar a participação estudantil, do que entravar o processo de reivindicação dos estudantes.

De facto, isso não é participação e não é com a criação da UNEP ou de estruturas macrocéfalas, que podem ser importantes mas que não são importantes a este nível nem têm a importância que se lhes pretende dar a este nível, não é com estruturas deste tipo e com medidas deste ripo que se vão resolver as situações.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o António José Seguro.

O Sr. António José Seguro (JS):—Bem, obviamente que não vou tentar reproduzir, até porque seria mau intérprete, as discussões que costumam ser feitas numa sala bem aqui ao lado, onde são protagonistas algumas pessoas que estiveram aqui presentes e, também, onde há honrosas excepções.

Não o fiz de manhã, quis fazê-lo por escrito à Mesa, porque entendo que há mais coisas importantes a tratar nesta Sala do que fazer o jogo dialéctico das palavras que se tem feito aqui permanentemente.

Todos nós queremos argumentar e tornar como exclusivo nosso a democracia, a liberdade, a participação estudantil, enfim, dividir os estudantes. Isso querem todos os jovens.

Penso que já é altura, de uma vez por todas, de as pessoas deixarem os dogmas em casa, virem despidos das ideias pré-concebidas para esta Sala ou para outra qualquer e, de uma vez por todas, aceitarem a liberdade e a democracia nos debates.

Ser jovem é uma forma de estar na vida, é ser espontâneo. Eu recuso-me, terminantemente, ser um resultado fabricado do passado, ou do futuro, ou de engenheiros, ou de pessoas que fazem robots. Eu não sou robot, eu penso. Eu penso cada vez que caminho na vida e só hei-de deixar de pensar, presumivelmente, quando morrer e mesmo assim não sei.

A liberdade é isto, é as pessoas poderem pensar, serem livres de pensar, poderem ler e ter acesso a tudo. Aí é que poderá ser feita a crítica, isto é, se as pessoas, se os jovens, neste país têm ou não acesso a tudo. Já disse na minha intervenção que não têm.

Depois, também não compreendo como é que as pessoas conseguem, permanentemente, estar a fazer intervenções em que se dirigem sempre ao Governo.

Bolas! Já de manhã fiquei estupefacto com um quadro tão negro que aqui foi pintado sobre os jovens e até me interroguei se havia jovens em Portugal.

Neste momento, quero perguntar se em Portugal só há governos.

O Sr. Carlos Coelho (Comissão de Juventude da AR — PSD): — Muito bem!

O Orador: — Talvez tenha sido ríspido de mais.

O Sr. Carlos Coelho (Comissão de Juventude da AR —PSD): —Não foi, não foi!

O Orador: — Em relação ao meu amigo Jorge Patrício, quero dizer que me sinto ultrapassado como dirigente de uma organização de juventude por saber que também temos secretários de Estado ou assessores que estão inscritos na Juventude Socialista.

Não me envergonho e a única coisa que te pedia é que o dissesses aqui publicamente. Não me envergonho, mas só te pedia é que nos dissesses quem eram, pelo menos para eu chegar «lá a casa» e dizer: então?...

Uma colega das «guias» pensa que não se é jovem na idade. Também é uma dialéctica utilizada, também lhe dou o benefício da dúvida, para que possa julgar que a estou a elogiar. Até estou!

O que lhe quero dizer, que já há pouco disse, é o seguinte: penso que os estudos que são feitos em Portugal servem para alguma coisa, nem que seja só para tornarmos a rever uma realidade, que, por vezes, temos, enfim, uma certa relutância, até pelo nosso dia-a-dia, em rever.

Penso que também, tal como disse, os jovens são importantes neste país, mas tem que vir dos próprios jovens a libertação e a construção de qualquer coisa.

Seria trair os meus pensamentos, seria trair até a própria condição de jovem, se eu estivesse à espera do Governo, do Estado, daqueles para quem eu atiro as causas do presente que, enfim, me condiciona, mas não determina. Penso que desse modo estaria a trair a minha própria condição de jovem.

Depois das intervenções que aqui foram feitas —e refiro-me só às intervenções— penso que, cada vez mais, as pesssoas se assumem como um passado ou um futuro.

Não é um passado que queremos esquecer, chegando lá com uma borracha e apagando-o, mas é um passado onde vamos buscar os erros que não queremos cometer no futuro.

Esta é que é a realidade. Os problemas dos jovens, hoje em Portugal, são todos iguais. Não há problemas de uns e problemas de outros. Há os problemas da juventude portuguesa.

Com certeza, há, e felizmente, diversas soluções para esses mesmos problemas. O que vi até hoje, ainda aqui, foi as pessoas constatarem os problemas e acusarem, quase com uma metralhadora, se a tivessem aí, o Governo e a Assembleia e mais isto e mais aquilo ...

As únicas pessoas que não têm responsabilidades na situação que se vive na juventude em Portugal são aqueles que retiram esse exclusivismo. Nomeadamente estou a falar para ti, Carlos José.

Queria ainda responder a uma coisa, pois há pouco talvez tivesse sido menos explícito.

Quando fui buscar pensamentos do século xvin não quis dizer que eles eram antigos; pelo contrário, disse que eles eram actuais. O que eu quis frisar com isso é que havia pessoas, portugueses, que já diziam, há 200 anos, coisas que ainda se aplicam. Só fiz uma constatação.