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25 MAIO DE 1985

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Ê fundamental que todos tenhamos consciência de que é necessário transformar a nossa sociedade.

Devo dizer que não tive as oportunidades que alguns dos jovens que estão aqui tiveram, porque tive de passar pela guerra colonial e pela transformação social do 25 de Abril. Houve alguns que apelavam muito para o nacionalismo e quando os filhos eram mobilizados para o Ultramar arranjavam maneira de eles não irem. Comigo isso não aconteceu e tive mesmo de ir, embora não contra a minha própria vontade.

Há também muita gente que, criticando hoje todo esse passado, foram muitas vezes aqueles que mais se aproveitaram dele. Fazem-no para aproveitar as circunstâncias actuais.

Penso que — e tiro esta reflexão desta reunião que tive aqui— há duas atitudes possíveis a tomar perante a situação actual: uma atitude negativista, que será equivalente a tomar-se uma atitude de fuga, e uma atitude positivista.

Na primeira parte da reunião julguei que uma parte dos jovens que aqui se encontravam queria precisamente tomar uma atitude negativista e de fuga. Pretendo com isto dizer que penso estar de novo numa reunião em que toda a gente lamenta a situação actual, todos imputam responsabilidades aos outros, mas ninguém assume responsabilidades. Penso, meus amigos, que isto é precisamente uma atitude negativista e de fuga. As responsabilidades, segundo creio, são de todos nós.

Podemos ter quotas de responsabilidade diferentes, mas a responsabilidade é nossa e, quando não quisermos assumir essa mesma responsabilidade, estamos a adiar os problemas para aqueles que hão-de vir depois de nós. Creio que os nossos problemas não podem ser mais adiados e tem de ser a nossa juventude que os tem de ultrapassar.

A atitude positivista, que na minha opinião tem de ser assumida, resume-se, em primeiro lugar, a aceitarmos a realidade que temos. Tal é difícil, mas temos de aceitá-la com discernimento e tomar uma atitude participativa que, segundo penso, consiste no seguinte: acho que, melhor do que ninguém, o jovem, que é naturalmente um ser que tem uma grande ansiedade pela perfeição, deve ser aquela pessoa que na sociedade é exigente, é contestatário e insatisfeito. E a minha proposta é a de que a juventude de hoje, para ajudar a transformar a nossa sociedade, seja exigente, contestatária e se manifeste insatisfeita.

Aplausos.

O Sr. Presidente:—Voltava a reafirmar o apelo, isto é, gostaria de saber se mais alguém deseja ainda increver-se para este ponto.

Tem a palavra o Sr. Pedro Oliveira.

O Sr. Pedro Oliveira (Associação de Escuteiros de Portugal): — Há uma falta de divulgação do pouco que hoje em dia é feito a nível de jovens. Sabemos nomeadamente que existem, a nível do FAOJ, vários cursos, mas, designadamente em Lisboa, a sua divulgação é escassa e, por vezes, acabam por ser pequenos grupos a participar e sempre os mesmos.

Por outro lado, já há pouco o Paulo, também da Associação dos Escuteiros, falou nos apoios que as organizações juvenis pedem normalmente: é que quando esses apoios são referentes a infra-estruturas,

as pessoas começam a dizer: «Há infra-estruturas!... Isso é difícil! Se fosse dinheiro era mais fácil.» Então nós dizemos: «Dêem-nos dinheiro!» Por sua vez, argumentam: «Ah, dinheiro, dinheiro!... Os nossos orçamentos não o permitem.» E assim acabamos por ficar sem as infra-estruturas! Aliás, há casos de certo modo ridículos como, dentro do campo do desenvolvimento comunitário, o de vários castelos de Portugal estarem entregues aos escuteiros. Temos, por exemplo, o caso do Castelo de Lamego, que tem recebido vários louvores; ainda há pouco tempo veio a nível de imprensa diária uma reportagem a louvar o trabalho lá feito. No entanto, acontecem coisas como esta: sei que há tempos caiu uma porta, o que originou a necessidade de fazer umas obras. Ora, havendo a necessidade de colaboração para tal, a verdade é que não houve ninguém que os ajudasse.

Por outro lado, gostaria de fazer ainda um pedido às organizações políticas de juventude: pensem ou repensem melhor qual será o papel destas organizações junto dos jovens.

Porque o jovem que chega ao ensino secundário tem uma imagem péssima das organizações juvenis. Ao chegar a esse nível de ensino falam-lhe numa coisa que é o associativismo juvenil, depois começa a ver que há grupos de jovens que surgem na altura em que se vai fazer uma eleição de associação de estudantes, desenvolvendo-se uma autêntica batalha entre as organizações políticas, das quais uma sai vencedora e, muitas das vezes, daí para a frente, nada mais é feito.

O Sr. Presidente:—Não vejo manifesto no rosto ou na intenção dos presentes interesses em fazer mais alguma intervenção. Presumo estar correcto o meu juízo.

Antes de dar por encerrada a sessão de hoje, gostaria de, em primeiro lugar, dizer que o primeiro agredecimento deve ir para esses nossos amigos, a todos aqueles que durante o dia de hoje tiveram todo ou parte do seu tempo ocupado em ouvir-nos, nomeadamente todos aqueles representantes das associações juvenis ou estudantis que, vindo de longe —e recordo o exemplo da associação proveniente de Monção, bem como algumas de Coimbra, etc. —, aqui estiveram a manifestar, através da sua participação e observação atenta dos trabalhos hoje aqui desenvolvidos, o empenho em dizer que a juventude não está morta, antes viva, e que gosta de participar e está interessada na resolução dos seus problemas.

Penso que o nosso primeiro agradecimento, enquanto conferência, deve ir para esses nossos amigos, que muitas vezes com dificuldades financeiras aqui vieram trazer-nos também a sua voz empenhada, embora não na qualidade de participantes.

Por outro lado, gostaria também de agradecer a todos vós o empenho que manifestaram em estar aqui presentes, em intervir, em demonstrar que, independentemente das diferenças político-ideológicas das perspectivas de vida ou de concepção de intervenção social, todos nós, jovens, somos capazes de discutir de maneira um pouco diversa, por vezes, ou de uma maneira que não vem sendo usual, a problemática juvenil e tentar encontrar para ela as respostas.

Penso que, quanto mais não seja, esta conferência, ou este primeiro dia, vem dar-nos a nós próprios a