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27 DE MAIO DE 1985

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brilhante intervenção do Eloy, o mínimo que posso fazer é ler o trabalho de casa, que nem sequer foi feito em casa, mas no autocarro!

Risos.

Por outro lado, acho que o meu discurso vai ser um bocado abstracto, mas, como aquilo que se tem feito aqui nesta assembleia tem sido também abstracto — pois ainda ninguém apresentou propostas concretas—, não me sinto deslocada.

O século em que vivemos é, de facto, um século em que cada vez mais se assiste à-degradação do ambiente. Não é só o ambiente que se degrada, mas também, e como consequência directa do anterior, o ambiente e as relações humanos. Ê um facto inegável que quase todos os indivíduos procuram, de uma maneira mais ou menos interessada, o acesso aos órgãos do Poder ou a outros que, não sendo do Poder, estão--Ihe muitos ligados.

Penso que todos, ou a grande parte dos homens, buscam evidenciar-se dos demais e todos eles correm o risco de, com isso, se tornarem pouco originais e não se evidenciarem tanto como o desejariam.

De facto, penso que todos nós, numa tentativa de mudar a sociedade e o ambiente natural e humano em que vivemos, devemos caminhar no sentido de atingirmos uma humildade que, penso, não ficará mal a ninguém. Essa humildade permitirá explorar os pontos que todos os seres humanos têm em comum, mas que, erradamente, consideram diferentes e diversos dos dos outros.

A humildade não quer significar a redução do ser humano a uma falta de personalidade. Penso que essa humildade poderá antes ser ponto de partida para o desenvolvimento de capacidades e de personalidades harmoniosas, equilibradas e orientadas para uma vida pacífica e natural.

A liberdade em que vivemos em Portugal desde há 11 anos é uma liberdade utilizada erradamente. Vivemos numa sociedade em que cada um faz o que muito bem entende, sem se preocupar com os calos do vizinho.

Quanto à degradação do ambiente natural, ele deve-se principalmente à exploração desenfreada das fontes de energia não renováveis e à sua má utilização. Deve-se também à industrialização mal concebida, que actualmente vemos proliferar por todo o lado, deve-se à utilização descuidada de materiais potencialmente recicláveis e reutilizáveis. Aliás, reciclar e reutilizar alguns materiais, como o papel e o vidro, por exemplo, é algo que já se faz um pouco em Portugal, mas é necessário implementar esse mecanismo de reciclagem para que se possam aproveitar assim melhor esses materiais e alguns outros. Reciclar e reutilizar o papel é, por exemplo, lutar contra o arboricídio, que em Portugal se faz a um ritmo assustador: d es troem-se e queimam-se muitos pinhais com o propósito de aí plantar depois os perigosos e esgotantes do solo eucaliptos. Aliás, a plantação exagerada de eucaliptos serve apenas a indústria de celulose, que, além disso, é uma das empresas nacionais que mais polui os rios e a atmosfera.

O aproveitamento de fontes de energia renováveis, como o são o sol, o vento e a água dos mares e rios, é algo que se deve pôr em prática em Portugal. Aliás, a

instalação de meios que propiciem esse aproveitamento das fontes energéticas renováveis não é tão dispendiosa como isso, se atendermos a que os estragos causados pela utilização de outro tipo de energia acata bastante mais caros e em alguns casos é mesmo impossível recuperar-se o que foi estragado.

Devemos defender o ambiente não só porque a ssíe ritmo morreremos asfixiados e tontos pelas nossas próprias mãos, mas porque é necessário pôr em prática uma vida alternativa e nova, utilizando para isso todos os meios alternativos de que dispomos.

O avanço tecnológico que se verifica em alguns países não nos serve. Sim, de que nos serve um tão grande avanço tecnológico se o desenvolvimento humano não o acompanhou?

Numa época em que se verifica cada vez mais a substituição do homem pela máquina, recuso —e penso que todos os amigos da Terra o recusam — ser substituída por uma máquina, ainda que o lugar que tenha na sociedade seja mínimo. Quando falo das coisas que se passam à minha volta e às quais sou sensível falo delas com amor, amor esse que gostaria que todos vocês partilhassem, amor esse que acredito ser impossível a uma máquina senti-lo!

Defender o ambiente é amar a natureza, a vida, e amar a vida é um acto de grande responsabilidade. Assumo essa responsabilidade perante todos vós e espero que todos a queiram também assumir! Amemos a vida!

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Conferencista Carlos José.

O Sr. Carlos José (JCP): — Ia então dizer alguma coisa sobre este ponto do ambiente.

Em primeiro lugar, a questão ecológica e o problema da defesa do meio ambiente, em nossa opinião, devem ser perspectivados numa linha progressiva, e não de usk pretenso regresso às origens, que não é possível, pois é qualquer coisa de utópico e posta de parte. Portanto, rejeitamos essa perspectiva! Achamos que a defesa do meio ambiente deve ser encarada de uma forma progressiva e tendo em atenção o desenvolvimento progressivo das sociedades.

Em segundo lugar, a problemática ecológica e a política do ambiente são indissociáveis, em nossa opinião, do modelo económico, que envolve necessariamente esses problemas. E, nesta medida, temos duas grandes linhas: a grande rinha «tudo à custa do lucro», sacrificando tudo a ele, e uma outra, de planeamento geral, integrado nos vários sectores, preservando o meio ambiente e desenvolvendo de uma forma harmónica os vários sectores da economia.

Nesta medida, pensamos que há muito para fazer em Portugal no campo da defesa do ambiente. Muito do trabalho que se tem feito — e é bom que ss diga, porque a ecologia e a defesa do meio ambiente não são privilégio de ninguém— em torno desses problemas ' ainda não foi aqui focado. E essa experiência é muito rica e tem a ver com o trabalho das autarquias e do poder local.

Há ricas experiências de preservação do meio ambiente, de preservação do património histórico e cultural — o que, em nossa opinião, também tem a ver com o ambiente— que não têm sido referidas nesta Core-