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27 DE MAIO DE 1985

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cional; sejam feitas sérias tentativas no sentido da recuperação de áreas nas quais os índices de poluição já sejam alarmantes.

Aplausos.

O Sr. Presidente: — Tem, em seguida, a palavra o Sr. Deputado Luís Monteiro, do PSD.

O Sr. Luís Monteiro (PSD):—Alguns estranharão — eu próprio estranho— o facto de começais desde já a intervenção, até porque não sou propriamente um ambientalista, antes pelo contrário, fumo bastante. Sou, portanto, um ser poluente na consideração do nosso amigo António Eloy.

No entanto, parece-me que havia algumas coisas que aqui mereciam ser ditas neste tema, dentro do painel «Desenvolvimento», matérias essas que se prendem não só com a questão do ambiente, mas também, por um lado, com aquilo que poderemos considerar as novas concepções de qualidade de vida e, por outro lado, as nossas concepções de estratégias de desenvolvimento dentro da sociedade em que estamos envolvidos.

Isto porque ao üongo do dia de hoje, e após ter aqui ouvido algumas intervenções —lembro-me, nomeadamente, de quando foi abordada a problemática da educação como estratégia de desenvolvimento—, foram referenciados por várias vezes alguns conjuntos de problemáticas que, por um lado, tinham a ver com novas concepções de estilo de vida e, por outro lado, respeitavam à nossa própria inserção e vivência na sociedade industrial ou pós-industrial em que estamos envolvidos. Assim, há, fundamentalmente, duas considerações —pareceu-me a mim— sobre o tipo de sociedade em causa: em primeiro lugar, uma visão ligeiramente trotskista, que foi defendida estranhamente pelo representante da Juventude Comunista, baseando--se nos livros de Ernest Mandel, nomeadamente no Tratado de Economia Marxista —mas a ortodoxia já vai longe—, e, em segundo lugar, concepções, algumas delas aligeiradas, baseadas em leituras mais ou menos apressadas do Alvin Trôfíer ou, eventualmente, do Alain Tourainne.

Parecia-me importante abordar aqui a problemática do ambiente, da ecologia, da participação dos cidadãos, porque isto, a nosso ver, reflecte-se um pouco naquilo que consideramos ser o desenvolvimento da sociedade em que estamos inseridos e prende-se também com a qualidade ambiental da nossa própria: vivenda.

O António Eloy foi particularmente feliz há pouco a definir aquilo que os movimentos prcvambientali6tas iam fazendo em Portugal. Psrece-me destrinçar — e já iria lá— a diferença que hoje, em Portugal, tem de se começar a definir entre movimentos ambientalistas e ecologistas. Depois, até gostaria de entrar em polémica com o António Eloy acerca dessa matéria, pois parece-me que os Amigos da Terra são, actualmente, mais um movimento ambientalista, no sentido da protecção do ambiente, do que uni movimento ecologista, no sentido da definição de novas estratégias de desenvolvimento para a própria sociedade em que estamos inseridos. Contudo, isso é outra questão.

A nossa ideia é suscitar também um pouco o debate e animar essa própria «animação» do debate que vinha já surgindo. Portanto, isso deixaríamos para a 2." fase.

Há aqui diversas concepções e questões a definir: a sociedade em que estamos inseridos, a qualidade ambiental que pretendemos ou que queremos definir.

Na Assembleia e na própria vivência social que no dia a dia vamos estratificando, em termos de estratégia e de acção política, já algumas coisas foraaa feitas. Foi realizado, fundamentalmente, um alerta.

Parece-me a mim que ao longo destes últimos anos — em Portugal mais tarde do que noutros países,, mas realizou-se, de qualquer das maneiras—- se ss> meçou a definir um alerta em relação ao tipo de secie-dade em que estávamos inseridos e à forma de o transformarmos.

Se os Amigos da Terra, em Portugal, podem ser definidos como um marco, não só eles, mas também muitos movimentos autónomos de cidadãos ou movimentos ambientalistas a nível local o foram, há tambéra a concepção ou consideração de um outro ttpo de debate sobre estratégias alternativas de modos de vidão

Parece-me que isto poderia ser aqui incluído neste painel, na problemática do ambiente e da concepção global do tipo de sociedade. Digo isto, na medida ena que estamos a falar a nível de movimentos políticcsp pois todos os grupos que aqui estão, quer cheiram, quer não, são, de certa maneira, movimentos políticos, que tentam influir e interferir na acção do sedai @ do político, mas têm agido mais, no nosso entendimento, num mecanismo de retracção em relação ao tipo de sociedade que existe ou vai existindo, ao tip© de sociedade que não se vai alterando.

Os próprios poderes políticos —e disso fazemos a nossa mea culpa — não têm a capacidade autónoms, de análise e ponderação dos mecanismos de retracção social que os obriguem a alterar a sua própria acção, a nível político, ou a sua própria concepção, enquanto governos, da necessidade de alterações profundas o nível das políticas ambientalistas.

Se, como disse, os movimentos hoje em dia são cada vez mais de retracção, desde o movimento da protecçsc do lince na serra de Malcata, os movimentos de protecção de determinadas zonas florestais, oa cs anti--armamentistas, ou os ditos ecológicos, mas mais ambientalistas tudo tem sido feito no sentido da retracção em relação a determinadas políticas que tem vindo a surgir. A retracção, por exemplo, pode se? valorada em função da questão da energia nuclear e do desenvolvimento do nuclear em Portugaí.

Acho que era talvez altura — espero que o António Eloy intervenha depois acerca disso, bem como também os nossos amigos da JCP— de intervirem acerca da questão da concepção global de uma política ambientalista nova, a definir para o mundo de amanhã.

Isto porquê? Primeiro, porque —provocaedo os meus caros amigos da JCP— acho que não estamos já no mundo da luta de classes. O Marx viveu no século xix, assim como a Idade Média já passou, e, portanto, não temos já o problema da santa inquisição, bem como o problema dos guliags, peSc menos, entre nós.

As concepções globais do tipo de sociedade em qua estamos inseridos são radicalmente — e cada vez mais se começa a definir isso em todo o lado — diferentes. Digo isto porque, relativamente à questão da concepção da intervenção dos cidadãos na própria vida e na acção política —ao contrário do que foi aqui dito há pouco, quando se abordou essa problemática em relação à estratégia, por exemplo, da educação ou,