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II SÉRIE — NÚMERO 93

inclusive, à estratégia laboral —, foram denotadas algumas perspectivas de evolução completamente diferentes daquilo que era a sociedade há 100 anos ou, se quisermos, em Portugal mesmo, daquilo que era a sociedade há 20 anos.

A sociedade há 20 anos era em Portugal uma sociedade em que a política de desenvolvimento industrial não tinha qualquer limitação, antes pelo contrário, o que se pretendia era, para além da criação da raais--valia, como definiriam os nossos caros colegas, também uma política de concentração industrial, a partir do Estado corporativo, bem como uma política de criação de postos de trabalho que não levantasse problemas de lutas sociais demasiado agudas, mas em que nunca houve aquilo a que, a nosso ver, era mais importante, ou seja a definição global de uma estratégia de desenvolvimento.

Por isso, peguei nesta matéria relativamente ao problema mais profundo que neste momento atravessamos.

Há pouco foram aqui definidas, em relação à estratégia do trabalho, duas perspectivas completamente diferentes. Uma de crescimento, definida por alguns dizendo que o que é necessário é criar mais postos de trabalho, a todo o custo —ou de qualquer maneira—, mais postos de emprego para os jovens, já que estes são os mais atingidos pela crise, etc, etc.

£ óbvio que tudo isso está correcto, mas tão-somente como política de crescimento. Meus caros amigos, já vimos isso no keynesianismo e vemos hoje na política norte-americana de crescimento desenfreado da economia, a qualquer custo, na política soviética de crescimento desenfreado, a qualquer custo, das taxas do PNB, sem qualquer perspectiva ou inter-relação com uma concepção global de desenvolvimento económico e social. E esse é o risco, porque, como disse há pouco, as perspectivas põem-se a dois níveis: na sociedade, em que se pretende, por um lado, o crescimento económico, o aumento da taxa de crescimento dos indicadores económicos e da população empregada e tantas outras coisas mais que dêem uma satisfação material aos cidadãos e, por outro lado, uma outra estratégia de desenvolvimento e acção política ao nível social, que, preocupando-se também com algumas dessas questões, dá, contudo, mais importância à questão da qualidade de vida ou — se assim lhe quisermos chamar — à protecção ecológica, no sentido de uma satisfação das necessidades não necessariamente materiais dos cidadãos.

Ê por isso que, relembrando alguns exemplos daquilo que vem sendo feito, é perplexo que as duas taxas mais elevadas de crescimento de suicídios ao nível europeu sejam, precisamente, as da Hungria e da Suécia. No caso da Suécia porque de há longos anos para cá os cidadãos já atingiram um crescimento económico desmesurado e, portanto, não têm mais qualquer esperança de vida. E procuram outras necessidades, que a própria sociedade não lhes dá. Quanto à Hungria, não me competirá a mim explicar, até porque nunca lá fui, ao contrário de alguns outros. De qualquer maneira, já estive em Berlim Leste e vô também a protecção aos cidadãos e as limitações & liberdade de passear, pelo menos para os turistas.

Por último, e para terminar —porque parece que já vou sendo longo—, vou referir-me à questão do pragmatismo versus ideologia que aqui foi sendo referenciada.

Já disse onleas à noite, numa discussão sobre a problemática dos movimentos sociais e dos partidos políticos ou das novas perspectivas de acção dos grupos de cidadãos em relação ao social, que havia determinados limites è acção pragmática dos grupos e à sua intervenção política que são concebidos tradicionalmente. Muitos dos que aqui estão, entre os quais nos podemos eventualmente incluir, fazem política —de uma determinada forma— inseridos dentro de uma estratégia que já vai sendo secular em termos de intervenção, de acção partidária; outros, que não nós — grupos poíítico-partidários —, vão fazendo acção política de uma forma diferenciada.

E, por isso, quando ontem estava na mesa a tentar moderar os debates, pensei que seria útil e válido da nossa parte ouvir aqueles que fazem acção política de uma forma diferenciada da nossa, no sentido de uma intervenção cultural e de participação dos jovens em determinados fenómenos. Estas perspectivas, sendo incluídas na acção daqueles que comummente são designados por movimentos sociais autónomos de cidadãos, têm muito mais a ver com a pedagogia da intervenção, da acção, no sentido ecológico, porque a ecologia é também a libertação, de certa maneira, do homem do Estado poluente em relação às ideologias políticas tradicionais. E não me importo de dizer que a maior parte delas já estão ultrapassadas, o que é, eventualmente, uma afirmação nada ortodoxa. Podemos é ponderar a necessidade de as reformular face à sociedade em que estamos inseridos. Mas isso também já foi aqui bastante dito e, portanto, não é por aí que existe o problema.

Por último, uma palavra em relação aos grupos ecológicos ou ambientalistas.

Em Portugal alguma coisa se tem falado sobre o problema dos grupos ambientalistas-ecológiccs e à sua intervenção política enquanto tais. Temos grupos que fazem intervenção política fora dos esquemas tradicionais partidários e outros grupos ecológicos que fazem intervenção política dentro dos moldes tradicionais. Qual estará correcto?

Não nos competirá analisar essa forma de intervenção. Acho, em termos de opinião pessoal, que uns são capazes de ter mais capacidade de intervenção e decisão ao nível do poder político do que outros. E são precisamente os grupos ambientalistas sem intervenção directa no aparelho político-partidário que têm maior capacidade de intervenção, ao contrário daqueles que se organizam enquanto partidos políticos, em que a sua capacidade de intervenção e de acção é praticamente nula. Mas poderemos pensar o que é que vai ser a nossa intervenção daqui para o futuro sobre ® problemática ambientalista.

Para já terminava por aqui: a minha intervenção foi mais no sentido de polemizar o debate, e parece, pelo número de braços levantados, que já consegui alguma coisa. Não me importo de entrar num conflito são e aberto acerca da problemática que aqui foi abordada.

/¿plausos.

Q Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr." Conferencista Elisabete Figueiredo.

A Sr.a Elisabete Figueiredo (Amigos da Terra — Associação Portuguesa de Ecologistas): — Depois da